Por Ana Carolina

A fórmula do filme, ainda que não totalmente inédita, é bastante curiosa: colocar uma dupla de atores criando situações polêmicas em ambientes públicos, forçando-os a interagir com pessoas reais, e captar as reações espontâneas de quem participa da ação. O potencial que provém disso é grandioso. Ao colocar um ator como Johnny Knoxville, com uma veia cômica pungente, mais conhecido por sua participação como um dos criadores da franquia “Jackass”, esse potencial se eleva drasticamente.

Potencial que o filme parece não desenvolver plenamente e tem como principal justificativa por sua falha, o próprio formato. Esse formato pode funcionar de maneira eficaz na televisão, meio para o qual foi desenvolvido. Mas ao tentar migrar para o cinema, ele não se torna suficientemente atrativo e perde seus méritos.

A história do filme é bastante simples: no mesmo período em que um senhor se torna viúvo, sua filha é presa e resta a ele a responsabilidade de ficar com seu neto até que ele seja entregue ao pai biológico. Para encurtar o processo burocrático, e ansiando aproveitar o quanto antes sua nova vida de badalações, o velho Irving decide levar pessoalmente o menino ao encontro do pai. Para isso, cruzam os EUA de caro, num road movie inusitado. A partir dai surge o pretexto para o desenrolar de diversas situações, cômicas ou nem tão cômicas assim, mas que causam estranhamento a quem as vivencia.

Vovô Sem Vergonha certamente conversa muito com o independente Pequena Miss Sunshine, que virou hit cult instantâneo à época de seu lançamento, em 2006. Conversa tanto, que apesar de não ser oficialmente declarado, pode figurar no hall das paródias. Uma cena que evidencia a semelhança é quando Irving inscreve seu neto (disfarçado de menina) em um concurso de beleza infantil. Billy, interpretado pelo fofo Jackson Nicoll, faz em sua apresentação musical uma dança erótica, bem como a emblemática cena de 2006. Além disso, a presença de um defunto no porta malas do carro, nesse caso a avó de Billy, que queria ser jogada de uma ponte em um rio, reforça as semelhanças.

Durante a viagem, os dois passam a se conhecer melhor e, entre um concurso para ver quem solta mais puns, e outro, o amor vai crescendo e o avô se apega ao moleque. Mais clichê impossível. Nessa jornada rumo ao conhecimento interpessoal, o que se destaca são as reações do terceiro protagonista do filme, que é o povo norte-americano. Em algumas situações interessantes, pessoas desconhecidas se comovem, ou se espantam, com a dupla, preenchendo as lacunas da história e tornando-a interessante.

A realização do filme apresenta diversos desafios, sejam eles de ordem técnico-operacional, passando pela produção e seleção de locações, até o convencimento da concessão do uso de direitos de imagem das pessoas que interagem no filme. As poucas que não concordaram, aparecem borradas, a fim de impedir sua identificação.

Sob o ponto de vista técnico, o abismo entre os formatos televisivo e cinematográfico fica ainda mais evidente. A qualidade de imagem, apesar de ser em alta definição e contar com o uso de bons equipamentos, inclusive as micro câmeras escondidas, ainda tem uma fotografia muito diferente da que estamos habituados no cinema. O público está cada vez mais sofisticado, e com o avanço da tecnologia, ele tem acesso à gravação de vídeo em alta definição em seu próprio celular. Com isso, ele se torna cada vez mais exigente e a imagem chapada do filme, com cores frias e pobres, que passam batido na televisão, deixa a desejar na tela grande.

Outro desafio foi quanto à estruturação do roteiro e as implicações que o formato traz à atuação. A inexistência de falas definidas do interlocutor por um roteiro, ou de reações pré-estabelecidas, faz com que os atores tenham que se esmerar na arte do improviso. Esse desafio foi plenamente contornado. Para um menino de 9 anos, Jackson Nicoll surpreende ao lidar com o fator inesperado. Jack Knoxville convence como velhinho ranzinza e passa despercebido com uma maquiagem elaborada e muito jogo de cintura. Os protagonistas estão sempre com o mesmo figurino, evidenciando o fato de que as gravações não ocorreram de forma atrelada a um roteiro, que foi muito mais dinâmico do que em uma produção tradicional, e foi sendo moldado à medida que o filme era rodado e editado.

Por ser uma produção Jackass, era de se esperar um filme mais pesado, escrachado e escatológico do que Vovô Sem Vergonha. O formato diferenciado, a partir da proposta de gravar os personagens reais com câmeras escondidas é o atrativo do filme, lançado no Brasil em um momento bastante favorável. Desde a pegadinha da “Menina do Elevador”, vivenciamos um renascimento com força total do gênero no país. Ainda assim, a julgar pelas cenas de bastidores exibidas durante os créditos finais, é de se esperar que o making of seja mais interessante que o próprio filme.

Cinemascope-Vovô-Sem-vergonha (1)Vovô Sem Vergonha (Jackass Presents: Bad Grandpa)

Ano: 2013

Diretor: Jeff Tremaine.

Roteiro: Jeff Tremaine, Johnny Knoxville, Spike Jonze.

Elenco Principal: Johnny Knoxville, Spike Jonze, Jackson Nicoll. Geofina Cates.

Gênero: Comédia.

Nacionalidade: EUA.

 

 

 

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