Por Lívia Fioretti
Whiplash está sendo comentado como o “filme de jazz indicado ao Oscar”, mas devo informar, caro cinéfilo, que como já entrega o título em português (Em Busca da Perfeição), este não é um filme “Sessão da Tarde”, levinho e relaxante sobre jazz; muito pelo contrário, está mais para um soco na cara musical. Antes de continuar lendo, prenda a respiração e pegue seu kit de primeiros socorros. Você vai precisar.
Misturando paixão, música e bolhas estouradas, Whiplash é a primeira vista o drama de um jovem de dezenove anos chamado Andrew Neyman (Miles Teller), um dedicado estudante do melhor conservatório de Nova York, que possui como professor mais renomado Terence Fletcher (J.K. Simmons), o responsável pela banda da instituição. A principal tensão do filme se dá no relacionamento entre o aluno que está disposto a sacrificar todos os aspectos de sua vida – relacionamentos, família, saúde mental e integridade física – para chegar ao topo e um instrutor que não tem medo de usar a violência física, verbal ou psicológica para encontrar a grandeza de um Charlie “Bird” Parker entre seus pupilos.
Para justificar seus métodos – que não deixam os do Sargento Hartman (de Nascido para Matar) pra trás – Fletcher afirma que a pior coisa que se pode dizer a um jovem artista é “bom trabalho”, pois a satisfação é a maior inimiga da perfeição. O professor prova também que é necessário muito mais do que talento para se atingir o sucesso, e promete levar seus alunos ao limite para que eles possam ultrapassar suas próprias barreiras (mesmo que isso envolva bater repetidamente em seus rostos para ensinar ritmo).
A interação entre as personagens de Simmons e Teller é um show a parte, e para a construção deste relacionamento o diretor Damien Chazelle espelhou um pouco de sua experiência própria como estudante de música quando jovem e no sacrifício necessário para ser reconhecido como “bom” em sua área de atuação.
Agora, a pergunta que não quer calar: Miles Teller realmente dá aquele show na bateria? Como a boa curiosa que sou, fui atrás da informação assim que saí da sala de cinema e a resposta é sim e não. Não é segredo para ninguém que Hollywood é a ‘terra da manipulação’ e que enganar os olhos de plateias do mundo inteiro é praticamente o papel principal do cinema, mas tudo não é tão fácil como parece.
Acabou que Tenner era baterista de uma banda chamada The Mutes, mas há uma grande diferença entre tocar rock e jazz, o que fez com que o ator precisasse ter três meses de aulas diárias com Nate Lang. (Sabe quem é? Carl, o baterista dupla/concorrente de Andrew no filme!) Enfim… Ele precisou “começar do zero”, pois até a forma como segurava as baquetas era diferente. O solo de Caravan? Foi necessário dois dias para gravar.
Então, respondendo a pergunta: sim, realmente era Teller; mas era a função do editor Tom Cross fazer parecer que o jovem estivesse tocando como um Deus. Como você pode ver, ele fez um trabalho tão bom que até já recebeu prêmios no New Orleans Film Festival. Bravo!
Tudo bem que é necessário ceticismo para alguns aspectos do filme (como ninguém demitiu aquele cara antes?), mas Whiplash é um filme que merece ser visto com coração e ouvidos bem abertos, tanto que está concorrendo a 5 indicações ao Oscar 2015: Melhor filme; Melhor Ator Coadjuvante para J.K. Simmons; Melhor Roteiro Adaptado; Montagem e Mixagem de Som. Agora é só esperar. E aplaudir.
Whiplash – Em Busca da Perfeição (Whiplash)
Ano: 2014
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco Principal: Miles Teller, J.K. Simmons, Melissa Benoist
Gênero: Drama, Música
Nacionalidade: EUA
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