Por Joyce Pais
Novo longa-metragem de Chico Faganello (Muamba; 2011 e Outra Memória; 2004), Oração ao Amor Selvagem foi livremente inspirado em fatos ocorridos entre 1979 e 1984, em uma cidadezinha catarinense, e revela a ascensão da intolerância religiosa feita em nome de Deus, por seitas e religiões. O filme participou do programa Carte Blanche, do Festival de Cinema de Locarno, na Suíça, em 2014. No Brasil, o longa estreou na 39ª Mostra Internacional de Cinema.
Jornalista formado na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC – cursou História do Cinema na Universitá degli Studi di Siena, na Itália, e Direção Cinematográfica na New York Film Academy. É Doutor em Literatura também pela UFSC. Na Itália, trabalhou com o diretor Ermanno Olmi (Palma de Ouro por Árvore dos Tamancos, e Leão de Ouro por A Lenda Santo Beberrão). Ainda na Europa, foi assistente de direção em programas para a rede RAI 3. De volta ao Brasil, esteve no grupo de criação do curso de Cinema da Universidade do Sul – Unisul -, onde foi coordenador e professor.
Conversamos com o diretor a respeito de seu novo filme, seu processo de produção, escolha de elenco, trilha sonora e cinema de gênero. Confira!
Cinemascope: Como você entrou em contato com essa história? Você teve algum envolvimento/relação pessoal com ela?
Chico Faganello: Conheci o argumento quando era professor na faculdade de cinema. Um dos exercícios que os alunos deveriam fazer era trazer um argumento sobre uma história real, e o Vander Colombo, que na época era estudante, trouxe a história, que me impressionou pela brutalidade e força dramática.
Cinemascope: Como se deu a escalação do elenco e a preparação para o filme?
Chico Faganello: A partir do perfil físico e psicológico das personagens, fomos em busca dos melhores, e tivemos sorte, porque eles gostaram do roteiro e aceitaram fazer o filme, que é de baixo orçamento.
Chico Faganello: O Zeca foi sugerido por uma amiga comum, a Helena Tassara, e trabalhamos de forma muito tranquila a partir primeiro corte do filme. Para as filmagens, eu tinha referências musicais para o elenco. Creio que o cinema de gênero é como qualquer outro, precisa ser alimentado por bons filmes e, como não temos tradição neste tipo de filmes, talvez o aumento das produções seja lento, porque a formação de um público específico implica em ter muitas obras para que se forme uma tradição.
Cinemascope: A fotografia do filme é espetacular, entre planos mais abertos da paisagem e ambientes interiores pouco iluminados, como se deu a composição dessas imagens e a escolha das locações?
Chico Faganello: As locações foram escolhidas por duas razões: se adequavam à narrativa e ficavam relativamente perto de centros urbanos. E a composição das imagens se deu nos ensaios – procuro sempre decupar muito bem cada cena antes de filmar, definindo inclusive lentes e posições de câmera, para buscar o efeito desejado.
Pergunta Cinemascope: Se você pudesse ser o personagem de algum filme, qual seria?
Chico Faganello: Ah ! Ah! Difícil. Talvez um daqueles fiéis que só ficam observando a demência do pastor, meio atordoados, que fingem acreditar nele – ou, como a vida dos humanos é bastante condenável, quem sabe um cachorro, ou o touro bravo.