Um filme musical e infantil que fala sobre relacionamentos, ganância, felicidade, morte e, acima de tudo, sobre o amor verdadeiro. Um triângulo amoroso de pessoas com histórias comoventes, que formam um filme encantador e bem humorado. Produzida e codirigida por Tim Burton em parceria com Mike Johnson, A Noiva-Cadáver é uma animação delicada, onde sua perfeição e beleza encontram-se nos detalhes.
A produção foi feita em 2005 simultaneamente com A Fantástica Fábrica de Chocolate. Johnny Depp, Helena Bohan Carter e Christopher Lee, atores parceiros de Burton, aproveitavam folgas das filmagens para gravarem as vozes para A Noiva-Cadáver.
Na fábula vivida no século XIX, duas famílias fazem um contrato por causa de suas posições sociais, onde prometem seus filhos – Victor Van Dorst (Johnny Depp) e Victoria Everglot (Emily Watson) – em matrimônio. Enquanto os Van Dorst enriqueceram e desejam ascender socialmente, os Everglot é uma família aristocrata falida. “Seremos forçados a pagar esse mico? Casar nossa filha com um ‘novo rico’?” As relações são tão sistemáticas, que é produzido um ensaio para o casório (onde os noivos se veem pela primeira vez). Victor e Victoria até esse dia nunca tinham se visto. Nervoso e inseguro com aquela situação, Victor não consegue dizer o texto corretamente e foge para a floresta próxima dali. Lá, ele tenta relaxar e ensaiar as falas, mas acaba pedindo por engano a noiva cadáver em casamento.
O longa faz uma crítica às relações de “aparências”, decorrente de uma sociedade que vive preocupada com a opinião dos outros. Os diretores mostram uma perspectiva sombria sobre o mundo dos vivos. A trilha sonora de Danny Elfman é outro ponto positivo do filme, como por exemplo a intervenção musical na cena do treinamento do casal que dá um toque de terror ao medo de Victor por aquela união forçada. A fotografia é predominada pelas cores cinza e azul. Mesmo assim, são utilizadas diversas tonalidades que proporcionam beleza a esse aspecto melancólico.
Não é novidade para ninguém o fascínio de Burton por cadáveres e mortos-vivos. Ele transforma o mundo dos mortos, que geralmente é retratado como um lugar fúnebre e aterrorizante, num lugar colorido onde todos recebem os recém-chegados com alegria. Emily (Helena Bonham Carter), a noiva-cadáver, é azul – que pode indicar certa ligação com os vivos por causa de seu drama –, mas possui tons mais expressivos que contrapõe com Victor e os demais personagens.
Os contrastes podem ser observados em todo o filme, que foi adaptado de uma lenda do folclore russo do século XIX. Um rapaz, prestes a se casar, coloca acidentalmente sua aliança num graveto que parecia com dedos – sem saber que eram da noiva-cadáver (um noiva é assassinada por antissemitas quando estava a caminho do seu casamento). Assim, ela acorda e leva-o como esposo para o mundo subterrâneo.
O roteiro poderia ser de um aterrorizante filme de terror. No entanto, é tratado com muita leveza e torna-se um conto de fadas a partir das criações e mudanças dos diretores. Victor, Victoria e Emily são excluídos, cada um a sua maneira – e também à de Burton –, e extremamente carismáticos. Embora seja uma animação infantil com momentos divertidos e musicais, a mensagem passada e os conflitos propostos pelos diretores são voltados também para os adultos.
É preciso ressaltar a alta qualidade das filmagens, que foram realizadas em stop motion. A técnica que usa modelos reais e tem seus movimentos capturados quadro a quadro. As texturas e movimentos são incríveis na tela. Os personagens e, principalmente, suas expressões emocionam tanto o público que fica difícil imaginar serem apenas bonecos. Elas foram adquiridas a partir de diferentes cabeças ou partes delas que eram mudadas nos personagens de acordo com as circunstâncias.
A estrutura de seus corpos foi montada com metais maleáveis cobertos por silicones. Para se ter noção da sutileza e da minúcia do trabalho, o efeito esvoaçante do véu da noiva-cadáver (que levou dez meses para ficar pronto) foi construído com fios quase invisíveis que passavam pelo tecido e permitiam sua manipulação. Além disso, o longa foi pioneiro no uso do programa Final Cut pro da Apple para edição.
O longa foi exibido na mostra Fanzinema, no Festival do Rio de 2005, e indicado ao prêmio de Melhor Filme de Animação no Oscar de 2006.
Confira o trailer: