Por Verônica Petrelli
Quando Steve Kloves começou a esboçar o roteiro da adaptação do último livro, Harry Potter e as Relíquias da Morte, ficou claro que havia muita história para ser contada em apenas um filme. No momento em que os realizadores concluíram que dividir a sétima obra em duas adaptações seria a melhor solução, o produtor David Heyman foi totalmente contra a ideia. Entretanto, após diversas tentativas de Steve Kloves em condensar a história, David Heyman percebeu quantas informações essenciais à resolução da narrativa precisariam ser omitidas para espremer o livro em um filme de duas horas e meia de duração. Embora Relíquias da Morte não fosse a obra mais longa da saga, ela concluía muitas questões que estavam pendentes. Se cortes drásticos fossem feitos, os espectadores não teriam a mesma sensação de resolução e encerramento que os leitores dos romances tiveram. Então, após a decisão da divisão, foi determinado que os longas-metragens seriam rodados simultaneamente, levando a um inédito cronograma de produção de quase 18 meses de filmagem ininterrupta. Essa era a única maneira dos realizadores garantirem que teriam todo o elenco reunido.
Posto isso, o próximo desafio seria decidir o ponto da história em que o primeiro filme acabaria, e isso foi mudado diversas vezes. Chegou-se a cogitar a possibilidade de passar a morte de Dobby para a segunda metade da narrativa, mas essa opção foi descartada pela importância que esse personagem representa para a saga. Por fim, David Yates teve a incrível ideia de adicionar como cena final o momento em que Lord Voldemort viola o túmulo de Dumbledore e conquista a relíquia da morte mais procurada: a Varinha das Varinhas. Esse foi um gancho muito perspicaz para a Parte 2.
Além de ser extremamente eletrizante e sutil ao mesmo tempo, por fazer aflorar os sentimentos mais profundos do trio principal, a Parte 1 traz um clima diferente por ser um filme de estrada, de viajantes. Ao contrário de todos os longas anteriores, Harry, Rony e Hermione não estão em Hogwarts. O fato dos personagens não estarem em um ambiente conhecido traz ao filme um tom mais adulto e maduro.
Somada a todas essas decisões acertadas, há também a escolha do compositor francês Alexandre Desplat para dar corpo às trilhas sonoras de ambas as metades de Relíquias da Morte. O profissional compôs músicas brilhantes, chegando a se igualar ao pioneiro John Williams quando o assunto é contexto e fidelidade às obras potterianas. Faixas como “Obliviate”, “Snape to Malfoy Manor” e “Ministry of Magic” são os pontos altos da Parte 1.
Logo no início do filme, nos deparamos com o novo Ministro da Magia, Rufo Scrimgeour, interpretado com maestria pelo talentoso ator britânico Bill Nighy (detentor de dois BAFTA em seu vasto currículo). Scrimgeour faz um discurso de abertura destinado a assegurar que o Estado é forte o suficiente para proteger a todos. No entanto, por mais que ele tente passar segurança em sua fala, seu real sentimento é de medo, pois ele sabe que os últimos acontecimentos no mundo bruxo não são animadores. Esse é o tipo de discurso que o premiê Winston Churchill utilizou durante a II Guerra Mundial para tranquilizar os britânicos.
Após essa cena, o espectador é surpreendido com o emocionante momento em que Hermione Granger lança o feitiço Obliviate em seus pais. Em uma dramática visão do feitiço, fotografias da família mostram rapidamente o passado da personagem ao lado de seus pais (que foram interpretados pelos atores Michelle Fairley e Ian Kelley), e depois ela some aos poucos de todas as imagens. A ideia de dar destaque a uma cena que é apenas comentada por Hermione no livro foi simplesmente sensacional. Ao fazerem essa escolha, os realizadores valorizaram o imenso sacrifício que a jovem bruxa concretizou pela sua amizade com Harry e pelo bem maior: a destruição das horcruxes de Voldemort. A atriz Emma Watson chegou a dar alguns conselhos para a cenógrafa Stephenie McMillan sobre como deveria ser o quarto de Hermione: além de achar o cômodo muito feminino, a atriz observou que deveria haver mais livros no local.
Um dos cenários mais estonteantes da Parte 1 é a Mansão dos Malfoy. Para esse set, foi utilizada como inspiração a Hardwick Hall, uma fantástica mansão do século XVI construída durante o reinado de Elizabeth I. Hardwick é uma construção única, com janelas monumentais, fazendo com que a proporção de vidro para a alvenaria seja bastante alta. Para adaptar a construção ao mundo bruxo, foi adicionado um telhado com torres espirais e pontudas, adotando-se um estilo gótico e amedrontador. Do saguão de entrada, com sua enorme lareira e retratos no estilo Tudor, uma escada dupla levava ao piso superior, que possuía as janelas alongadas. O teto amplo desse andar é decorado com elaborados frisos de gesso e um grandioso lustre, além de pinos e pontas de ferro que dão ao lugar um toque agressivo e ameaçador. Nesta cena, Lord Voldemort pede a varinha de seu servo Lucio Malfoy, que está esgotado e amedrontado após a sua estadia em Azkaban.
Depois de revisitar o Armário Sob a Escada, em uma bonita retrospectiva ao primeiro filme da saga, Harry recebe a visita de alguns membros da Ordem da Fênix na Rua dos Alfeneiros. Fica decidido que Fred, Jorge, Rony, Hermione, Fleur e Mundungo Fletcher tomarão a Poção Polissuco para despistarem os comensais da morte. Esse momento, conhecido como “a cena dos Sete Potters”, é um dos mais cômicos de todo o longa-metragem. Foi também um desafio muito grande para Daniel Radcliffe, que teve que observar os atores e posteriormente imita-los em seis papeis distintos. Para compor essa cena, a câmera permanecia imobilizada no mesmo lugar e, a cada take, o ator principal era filmado em um lugar diferente e como um personagem diferente. Ao final, as imagens foram sobrepostas, como se fossem papel vegetal. O processo foi bastante cansativo para Radcliffe, visto que foram realizadas 95 tomadas para essa cena. Já para dar o efeito dos rostos sendo modificados após a ingestão da poção, foi utilizado o sistema Mova Contour Reality Capture. Primeiro, uma fina camada de tinta ultravioleta é aplicada a cada um dos rostos dos atores. Embora invisível a olho nu, as câmeras Mova reconhecem a tinta e depois são capazes de captar os pequenos detalhes e movimentos faciais que são únicos de cada ator. Essas tomadas são então combinadas para criar híbridos digitais que, depois de aperfeiçoados, substituem as cabeças do ator. É um personagem em close totalmente gerado por computador, sendo acionado por uma atuação ao vivo.
Logo, os membros da Ordem da Fênix travestidos de Harry Potter saem aos céus com o intuito de levar o verdadeiro Harry em segurança, mas todos são perseguidos pelos comensais da morte. A cena desta batalha nos céus aconteceu de maneira muito rápida e superficial, sendo que o expectador quase não entende o que está acontecendo. Hagrid e Harry passam em túneis e estradas em meio aos trouxas, algo que seria inconcebível na obra de J.K. Rowling, e quase não é dada muita importância à morte de um bichinho tão importante na saga: Edwiges. O assassinato da coruja branca de Harry acaba ficando em segundo plano frente aos outros acontecimentos, algo lamentável. No livro, a Ordem da Fênix resgata o Menino que Sobreviveu e o leva para a casa dos pais de Tonks, e não para A Toca. É lá que descobrimos que Ninfadora Tonks está grávida de Remo Lupin, algo que não chega a ser comentado no filme.
Após uma cena muito engraçada em que Harry e Gina finalmente dão um beijo caloroso e significativo e o gêmeo Jorge observa ao fundo, tem-se o casamento de Fleur Delacour e Gui Weasley. Para os fãs que não leram os livros, é muito esquisito que um dos irmãos mais velhos de Rony, que nunca havia sido apresentado nos filmes antes, apareça somente no último longa-metragem para casar com Fleur. Quem ganhou este papel foi Domhnall Gleeson, filho do ator Brendan Gleeson (que interpreta o personagem Olho-Tonto Moody). Antes de tentar ser Gui Weasley, Domhnall havia feito um teste para o papel de Lalau Shunpike, o condutor do Nôitibus Andante em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Como não conseguiu o papel, o ator pediu para que seu agente ficasse atento a qualquer futuro Weasley que pudesse surgir nos filmes, fosse Gui ou Carlinhos. Ele já havia quase desistido de participar da saga potteriana, visto que os irmãos mais velhos de Rony não apareciam, quando a equipe de filmagens entrou em contato com ele para o teste de Relíquias da Morte Parte 1; e Domhnall conseguiu o papel.
Apesar de ter sido feito na Toca, os realizadores decidiram que o casamento de Gui Weasley com Fleur Delacour seria pago pelos pais dela. Assim, seria suntuoso e em estilo francês. O bolo de casamento de quatro andares, feito pelo departamento de adereços, foi decorado com um desenho delicado de cobertura baseado em arcos de treliça chamados treillage, encontrados em jardins franceses do século XVIII. A contribuição dos aderecistas para as comidas consistiu na produção de quatro mil tortinhas, minibombas, cerejas e morangos cobertos com chocolate (todos artificiais). Tudo foi disposto em suportes para bolo que foram feitos com borracha flexível e silicone cristalino para que, quando a festa de casamento acabasse em uma luta com os comensais da morte, nenhum dos atores ou dublês se machucasse com pedaços de metal ou vidro quebrado. A tenda do casamento, ligada à Toca por um toldo, foi inspirada no tipo de marquise popular da Inglaterra eduardiana, mas com um certo exagero mágico na altura do telhado. Feita de um material chamado meia-lona e tecida no Paquistão, a marquise foi revestida com seda indiana da cor ametista, com uma borda decorativa de motivo francês e arabescos. Tudo à prova de fogo para a cena com os comensais da morte. Para a figurinista francesa Jany Temime, o casamento Weasley ofereceu uma oportunidade maravilhosa de criar um figurino glamouroso. O vestido de Fleur é feito de organza e decorado com duas fênix que estão de frente uma para a outra no corpete, formando a silhueta de um coração. A figurinista diz que optou pela fênix pois, assim como o amor, ela é eterna.
É uma pena que o personagem Vítor Krum, interpretado pelo ator Stanislav Ianevski, não tenha aparecido no casamento. No início estava prevista uma cena em que o apanhador de quadribol da Bulgária dançaria com Hermione Granger e Rony sentiria um ciúme doentio do casal. A cena chegou até a ser filmada junto a Stanislav. Mas no último instante, os produtores infelizmente decidiram cortar esse momento no processo final de edição.
Depois de fugirem da Toca, o trio principal desaparata para a Piccadilly Circus, com o intuito de encontrar um lugar para se esconderem. Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 foi o primeiro filme a fechar a Piccadilly Circus desde Um Lobisomem Americano em Londres, lançado há 30 anos atrás. A equipe de produtores teve que contratar 300 figurantes para a cena, que foram filmados andando pela Avenida Shaftesbury.
Quando Dobby e Monstro conseguem capturar Mundungo Fletcher, ele conta a verdadeira história da nova dona do medalhão, Dolores Umbridge. Assim, o trio resolve deixar o Largo Grimmauld e ir ao Ministério da Magia para resgatar a horcrux. Enquanto no livro Hermione e seus amigos passam meses planejando como irão adentrar ao Ministério e alcançar o medalhão de Dolores, fazendo mapas de ação e analisando todas as possibilidades, no filme tudo ocorre muito bruscamente e de maneira amadora, sem planejamentos ou preparações. Os atores Steffan Rhodri (Reginaldo Cattermole), Sophie Thompson (que interpreta Mafalda Hopkirk e é irmã da atriz Emma Thompson, que dá vida à personagem Sibila Trelawney) e David O’Hara (Alberto Runcorn) deram um show de atuação nessa cena, interpretando com extrema precisão as expressões características de Rony, Hermione e Harry, respectivamente. Para chegarem a esse grau de perfeição, o trio de atores adultos teve que observar Rupert Grint, Emma Watson e Daniel Radcliffe interpretando e depois imitá-los. Por mais que a sequência de cenas no Ministério da Magia tenha sido muito cômica e perspicaz, o momento em que a esposa de Cattermole o beija achando que estava com o seu esposo verdadeiro acaba soando falso e artificial, nos levando a uma questão: afinal, por que Rony foi o último a sentir o efeito do término da Poção Polissuco?
Depois de fugirem do Ministério, Harry, Rony e Hermione armam acampamento em uma floresta e começam a pensar em meios de destruir a horcrux de Voldemort. Irritado por não terem obtido sucesso nessa tarefa e enciumado pela aproximação de Harry e Hermione, Rony decide abandonar os seus amigos após uma séria discussão com Harry. Essa cena testa os limites de interpretação de Rupert, Daniel e Emma, afinal, os seus personagens nunca haviam tido uma briga tão séria quanto esta. Os atores desempenharam um papel brilhante nesse momento do filme, fazendo aflorar os sentimentos mais extremos dos seus personagens.
Nessa ocasião, Hermione fica extremamente triste com a partida de Rony. É quando Harry tenta animar a sua melhor amiga chamando-a para dançar a música “O Children”, de Nick Cave. Essa foi uma das cenas mais polêmicas de toda a saga cinematográfica. Os produtores até que foram bem intencionados, tentando passar a ideia da forte amizade do casal e da mistura de sentimentos que os dois estão vivenciando em uma barraca isolada no meio da floresta. Por mais que a dança em si tenha sido engraçada e marcado a beleza da amizade entre os dois, Harry se aproxima tanto de Hermione ao final a ponto de parecer que um beijo poderia acontecer. Esse momento ficou totalmente desconexo, visto que J.K. Rowling nunca deu a entender que existisse qualquer sentimento amoroso de Potter por Hermione. Em compensação, a escolha feita por David Yates para a música de fundo foi muito feliz. A letra de Nick Cave externaliza o sentimento dos jovens bruxos: “Hey! Little train, we are all jumping on. The train that goes to the Kingdom. We’re happy, we’re having fun, and the train ain’t even left the station” (“Ei! Pequeno trem, estamos todos embarcando. O trem que vai até o Reino. Estamos felizes, estamos nos divertindo, e o trem ainda nem saiu da estação”). Essa é uma clara alusão ao Expresso de Hogwarts, a maior simbologia para os bruxos nascidos trouxas
Quando Harry e Hermione descobrem que a Espada de Gryffindor pode ser a solução para a destruição do medalhão, decidem ir a Godric’s Hollow para encontrar respostas para as suas perguntas. Para terem inspiração para criar o vilarejo onde Dumbledore e os Potter moraram, o designer de produção Stuart Craig e a gerente de locações Sue Quinn visitaram uma série de vilas incluindo Lavenham, um vilarejo muito conhecido em Suffolk (condado da Inglaterra) com pitorescas casas do século XV. Lavenham se tornaria a inspiração para a versão cinematográfica de Godric’s Hollow. Assim, parte da vila foi construída em estúdio e a vista do vilarejo foi adicionada digitalmente para expandir o cenário. No entanto, ao contrário da maioria dos cenários dos filmes potterianos, o vilarejo de Gryffindor não foi construído em Leavesden, mas perto dali, nos estúdios Pinewood. Além de ter um esplêndido jardim antigo, Pinewood conta com um cedro gigante que foi utilizado para gravações no túmulo de Thiago e Lilian Potter. As cenas foram filmadas à noite, com grande quantidade de neve artificial. Cerca de 40 toneladas de neve sintética foram utilizadas para cobrir os pavimentos, janelas, tetos e árvores. O jardim de Pinewood acabou virando um canteiro de obras e teve que ser todo refeito após as filmagens de Harry Potter.
Outra cena que também foi filmada nos estúdios Pinewood foi a da corça prateada, quando Harry encontra a Espada de Gryffindor no fundo de um lago congelado. Após salvar o seu amigo do estrangulamento da horcrux, Rony é desafiado a destruir o medalhão e se depara com o poder do objeto das trevas: nuvens negras e vozes que externalizam todos os seus temores, como o filho malquisto da mãe que preferia uma filha ou o fracassado que Hermione trocou por Harry. O beijo dos dois amigos na horcrux é de tirar o fôlego, extremamente bem feito e provocativo. Essa é uma das cenas mais interessantes de toda a saga cinematográfica.
Após encontrar mais uma vez o símbolo das relíquias da morte, no livro de Rita Skeeter sobre Dumbledore, Hermione decide que gostaria de visitar Xenofílio Lovegood para compreender o significado da insígnia. Assim, o trio parte para encontrar o pai de Luna. Para os arredores da casa dos Lovegood, foi utilizada como inspiração uma área pantanosa perto da vila de Grassington, em Yorkshire, norte da Grã-Bretanha. Já para o interior da residência, como a construção tem a forma de uma torre cilíndrica, os aposentos não possuem paredes planas. Para a cozinha, os cenógrafos construíram fogão, pia e armários curvos para se encaixarem nas paredes. Além disso, a casa possui diversos objetos decorativos pintados por Luna e que foram desenhados pela artista e ilustradora Thomasina Smith, baseados nos desenhos de Evanna Lynch e no livro Animais Fantásticos e Onde Habitam. O aposento principal é a sala de trabalho de Xenofílio Lovegood. Ela exigiu não só pilhas de edições antigas de O Pasquim (cerca de cinco mil exemplares foram impressos), como também uma prensa em tamanho real em pleno funcionamento (basearam-se em uma prensa americana de 1889).
A escolha do ator galês Rhys Ifans para interpretar Xenofílio Lovegood foi muito acertada. Segundo relatos dos produtores, o ator é muito especial, caloroso e engraçado, mas também bastante excêntrico; a combinação de tudo isso o fez perfeito para o papel. Além disso, Rhys e Evanna possuem o mesmo ritmo e entonação da voz ao falar. A atriz que interpreta Luna Lovegood adorou a escolha do ator que iria interpretar o seu pai nas telonas, e logo houve uma empatia entre ela e Rhys. Já Emma Watson achava Ifans tão engraçado que não conseguia parar de dar risada em suas tomadas com ele, algo que lhe rendeu repreensões do diretor David Yates. O figurino de Rhys Ifans reflete a personalidade de Xenofílio. Como ele vive isolado e trabalha em casa, usa pijamas o tempo todo, mas também veste um colete feito de bordados de Luna quando era criança: um quebra-cabeça representando a sua filha, usado perto do seu coração.
Outro ponto alto de Relíquias da Morte Parte 1 é a animação feita para ilustrar o Conto dos Três Irmãos, de Beedle, o Bardo. Em vez de apenas filmar Hermione lendo o conto aos seus amigos, a equipe de arte decidiu ilustrar a história com uma animação belíssima e muito bem feita, retratando os personagens em um estilo rústico e medieval, além de trazer diversas metáforas no decorrer do desenho, como a Morte que recolhe o irmão enforcado e o guarda como se fosse um bonequinho. Uma ideia extremamente perspicaz da equipe.
Depois de fugir da casa de Xenofílio Lovegood, o trio principal é capturado pelos sequestradores e levado para a Mansão dos Malfoy, onde Hermione é torturada por Belatriz Lestrange. Os produtores tiveram a brilhante ideia de focalizar um plano em que um fio de cabelo da vilã cai no ombro de Granger, dando uma dica do que estaria por acontecer na Parte 2. É uma pena que os realizadores não tenham se preocupado com a morte do servo Rabicho. No livro de J.K. Rowling, o comensal da morte é estrangulado por sua própria mão de aço ao tentar deixar Harry escapar das masmorras da Mansão dos Malfoy. Já na adaptação, essa trágica morte é substituída por Dobby lançando um feitiço para estuporar Pedro Pettigrew. Uma lastimável falha na adaptação.
A cena mais triste da Parte 1 sem dúvida foi a morte de Dobby, o elfo livre. Ela foi filmada na praia de Freshwater West em Pembrokeshire, no País de Gales, cenário que serviu de pano de fundo para o Chalé das Conchas. Nesse momento extremamente emotivo, o trio escavou o solo com as mãos para enterrar o elfo. Tudo foi registrado com câmeras portáteis e os produtores deixaram os atores livres para essa cena, sem manda-los ficar em uma determinada posição durante uma tomada e outra. Foi um desfecho triste que deixou em suspenso o final da trama, que se concluiria na Parte 2.
Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 cumpriu o seu objetivo de maneira exemplar: um filme de estrada, muito fiel ao livro, cheio de complexidades dos personagens principais e com um roteiro chamativo, eletrizante e bem montado, além de possuir pitadas inteligentes de humor. O cenário estava montado para o gran finale. E desta vez David Yates não decepcionou.
Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 1 foi lançado nos cinemas em novembro de 2010. Recebeu indicações ao Oscar nas categorias Melhor Direção de Arte e Melhores Efeitos Especiais”, e ao BAFTA nas categorias Melhor Maquiagem e Melhores Efeitos Especiais.