Por Soraya Yumi

Rastros para Lugar Algum
Sábado, 25 de fevereiro
Roteiro: Mark Frost e David Lynch. Direção: Dawayne Dunham.

“Sim, eu carrego um tronco. Você acha engraçado? Para mim, não é. Há razões por trás de tudo. Elas podem explicar até mesmo coisas absurdas. Temos tempo de aprender as razões de vários comportamentos humanos? Acho que não. Alguns tentam. Eles são chamado de detetives? Observe e veja o que a vida ensina.”

Se bons expectadores contemplam o pensar, logo, o principal fator que tende a atraí-los a este seriado está na maneira em como é trasmitido o “estranho”. Para tentar explicar uma das molas propulsoras deste seriado tomei o conceito de “estranho”, do sociólogo Zygmunt Bauman, que é utilizado para referir-se a presença de pessoas “que não se ajustam”, que estão “fora do lugar”, que “estragam o quadro”, que “ofendem o senso esteticamente agradável e moralmente tranquilizador da harmonia”(1998, p.13). Partindo desta lógica encontramos muitos personagens, e especialmente a Senhora do Tronco, que se encaixam e exercem a sua função na série. Já que a presença do “estranho” em uma comunidade ou sistema social, instabiliza, confunde e desafia; nada mais fascinante do que preencher a série com personagens com elevado nível de “estranheza”. Contudo, o excesso de “estranhos” gera questionamentos que muitas vezes não levam a nada. Porém, ao mesmo tempo faz com que você exercite o simples pensar, qualidade que normalmente os detetives possuem. Assim, coloca involuntariamente o telespectador na posição de investigador no caso Laura Palmer.

No monólogo deste episódio a Senhora do Tronco questiona a necessidade do ser humano atribuir um explicação lógica à complexidade do irracional. Para esta peculiar personagem é preciso paciência porque para grande parte do que ela diz é perda de tempo buscar explicações plausíveis, afinal, por mais que você queira, force sua alma e cérebro para entender os motivos de cada personagem sobre suas ações, alguns serão impossíveis de serem compreendidos. E da mesma forma acontece na vida, existem pessoas que por mais que você queira e se esforce para entender, pode ser que nem a eternidade seja suficiente. O que a Senhora do Tronco quer dizer é: quão bem você conhece as pessoas ao seu redor? Seria o suficiente para confiar plenamente em suas palavras? E quando o plano de fundo é um assassinato brutal? Em muitas situações nem você consegue confiar em si mesmo por não se conhecer; então como afirmar que conhece alguém, logo, atribuir tamanha confiança?

O episódio é iniciado com o Agente Cooper gravando um relatório  sobre a avaliação do Hotel Great Northern – local aonde  permanecerá até as investigações terminarem – e finaliza com  uma confissão: “Há duas coisas que continuam a me perturbar… não só como um agente do FBI, mas também como um  ser humano. O que aconteceu de verdade entre a Marilyn Monroe  e os Kennedy?”.  Poucos sabem que os criadores de Twin Peaks,  David Lynch e Mark Frost, estavam originalmente trabalhando  em uma adaptação cinematográfica da biografia de Marilyn  Monroe chamada Godness. Ao falharem em obter os direitos do  livro foi iniciado o projeto Twin Peaks, portanto, existem alguns  elementos da história de Marilyn Monroe no seriado. Como por exemplo, o fato de Marilyn ter sido assassinada pouco antes de revelar em seu diário a verdade sobre um famoso e importante homem com o qual estava mantendo um affair.

No café da manhã o Agente Cooper tem seu primeiro contato com a jovem sedutora Audrey Horne, filha do dono do Hotel Great Northern. Após o café, Cooper vai à Delegacia de Twin Peaks interrogar James Hurley, Bobby e Mike; fazer uma investigação completa no carro de Bobby e ver o que revela a autópsia de Laura Palmer. Em sua autópsia foi constatada que: a hemorragia a matara; haviam várias feridas superficiais, mas nenhuma séria o bastante para ter causado a morte; mordidas no ombro e na língua; lesões nos locais onde fora amarrada, e nas últimas 12 horas havia mantido relações sexuais com pelo menos três homens. O médico afirma que Laura e Ronnette Pulaski foram atacadas pela mesma pessoa e que as chances de interrogar Ronnette são poucas, pois ela sofrera traumatismo craniano e ainda um possível impacto psicológico do medo após ter presenciado o assassinato de Laura.

Shelly encontra uma peça de roupa de Leo Johnson ensanguentada, enquanto no interrogatório de James Hurley são revelados alguns fatos sobre Laura Palmer, na cela Bobby e Mike conversam sobre Leo Johnson estar a procura de Bobby pois estaria querendo a metade do dinheiro encontrado no cofre de Laura. Donna confessa à sua mãe que deveria estar triste, mas se sente feliz ao mesmo tempo, como se estivesse vivendo um sonho e um pesadelo.

Dois personagens são mencionados, Jacques Renault e Albert Rosenfield, o primeiro é o barman que estava trabalhando na noite em que ocorreu a briga no RoadHouse. Ed acusa Jacques de ter drogado sua bebida naquela noite. O segundo personagem é mencionado na ligação que o Agente Dale Cooper recebe na Delegacia de Twin Peaks.

James Hurley é inocentado e liberado, porém ainda corre risco de ser agredido por Mike e Bobby. A dupla é interrogada e liberados com um porém, colocado pelo Agente Cooper,  que “rezem pela segurança de James Hurley, porque se algo acontecer com ele…iremos atrás de vocês”. Catherine e Ben Horne se encontram secretamente e demonstram conspirar contra os negócios de Josie. Donna visita a casa dos Palmer, cena que ressalta a instabilidade emocional da mãe de Laura ao projetar a filha em Donna. Seguidamente um dos policias da equipe do Xerife Truman faz perguntas aos pais de Ronnette Pulaski e quando se depara com o mesmo suspeito do episódio piloto – o homem de apenas um braço – que estava saindo do elevador e ao persegui-lo acaba o perdendo de vista. Na residência dos Johnson, Shelley é espancada por Leo ao lado de sacos semelhantes em que Laura fora enrolada após ser morta. Por fim, é revelado quem pegou a outra metade do colar do episódio anterior.

BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

Veja o vídeo: