Por Felipe Mendes

Nas próximas duas semanas, as principais salas de cinema, espaços culturais e museus da cidade de São Paulo estarão tomadas por inúmeras produções mundiais para a realização da 40ª Mostra Internacional de Cinema. Grandes filmes de mestres e novatos estarão distribuídos por 42 locais de exibição nesta edição. Além das projeções mais variadas, o tradicional festival contará com homenagens a diversas personalidades da sétima arte contemporânea. Composta por seis seções, o quadragésimo aniversário da Mostra celebra a obra de importantes nomes como Marco Bellocchio, Andrzej Wajda e William Friedkin.

Historicamente, a exposição trouxe vários cineastas para apresentarem seus projetos em território nacional. Alguns aclamados mundialmente, outros ainda emergindo no processo cinematográfico. Não faltam exemplos que elucidam a importância desse evento para o calendário de festivais. A lista de figuras presentes em edições anteriores passa por diretores como Pedro Almodóvar; os mestres iranianos Abbas Kiarostami e Mohsen Makhmalbaf; além de um novato Quentin Tarantino apresentando Cães de Aluguel, seu primeiro longa, na Mostra de 1992.

Em todas as edições, um cineasta é homenageado pelo festival de São Paulo. Nesta ocasião, o prestigiado será um grande expoente do cinema político italiano: Marco Bellocchio, de 76 anos, que assina obras críticas e provocativas como o clássico De Punhos Cerrados e o contemporâneo Bom dia, Noite. A arte desafiadora do aclamado diretor ilustra, inclusive, o pôster oficial da 40ª Mostra. Pintor e desenhista, Bellocchio compôs um trabalho que discute a religião, a revolta e a esperança na sociedade. A obra inspirada a partir do longa Bom dia, Noite também pode ser considerada uma representação do momento conturbado vivido na política do Brasil.

Durante o festival, Marco Bellocchio receberá o Prêmio Leon Cakoff* e terá 12 filmes autorais disponíveis na programação. Contudo, o melhor para o público está agendado para o próximo dia 23, quando o italiano concederá uma “masterclass”, espécie de aula sobre o ofício, após a exibição do longa Belos Sonhos no CineSesc. Outro encontro de bastante expectativa para os cinéfilos presentes no evento será estimulado pelo diretor norte-americano William Friedkin. O cineasta do clássico de terror O Exorcista estará no Espaço Itaú Frei Caneca em 30 de outubro para comentar sobre o aniversário de 45 anos do lançamento da obra Operação França, premiada em cinco categorias no Oscar de 1972.

Desde as últimas edições, a Mostra tem apresentado a produção cinematográfica de algum determinado país estrangeiro ao público. Neste ano, a seção “Foco Polônia” destaca a brilhante carreira do cineasta Andrzej Wajda, falecido recentemente, vítima de insuficiência pulmonar. Sinônimo do cinema político polonês, o diretor será homenageado com o Prêmio Humanidade, destinado a autores cuja obra reflete questões humanísticas, e brindará o público com uma retrospectiva de 17 filmes durante o festival. Além das homenagens a Wajda, outra atração da 40ª Mostra será a exibição da versão restaurada do clássico Decálogo, série televisiva assinada por Krzysztof Kieślowski.

Mostra Brasil

Apesar da ampla escala de produções internacionais, ainda há muito espaço para o cinema brasileiro na exposição. Ao todo, a programação reúne 59 títulos nacionais, entre clássicos e longas premiados em festivais mundo afora. Aclamado em Cannes, o documentário Cinema Novo terá uma mesa de debate especial sobre o movimento com a presença do diretor Eryk Rocha, do montador Renato Vallone, e do crítico Jean-Claude Bernardet, no dia 31 de outubro. Porém, a principal homenagem está reservada ao ator Antônio Pitanga, que receberá o Prêmio Leon Cakoff na Mostra. Com mais de 55 anos de carreira, o talento de uma das principais figuras do cinema brasileiro estará representado pelos filmes Barravento, A Grande Cidade e pelo documentário Pitanga, dirigido por Beto Brant e Camila Pitanga, filha do ator.

1889

Longa-metragem Pitanga documenta a trajetória do ator Antônio Pitanga no cinema brasileiro

Além dos destaques citados acima, é importante ressaltar a função social do festival, com 22 espaços que oferecem sessões gratuitas ao público. O Circuito SPCine, por exemplo, espalha obras pelos CEUs da cidade. O tradicional Vão Livre do MASP exibe os filmes preferidos do crítico e professor Paulo Emilio Sales Gomes, em tributo ao fundador da Cinemateca Brasileira. Palco inicial da Mostra em 1977, o espaço aberto do museu apresentará os clássicos franceses O Atalante, de Jean Vigo, e A Grande Ilusão, de Jean Renoir; a obra-prima Noites de Cabíria, de Federico Fellini; e dois importantes títulos do cinema brasileiro: O Batedor de Carteiras, de Aluizio T. de Carvalho, e O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte.

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é uma oportunidade ímpar para os cinéfilos conhecerem produções de diversas nacionalidades e explorarem terrenos desconhecidos e inesperados, daquele diretor estreante até aquela sala de cinema mais distante. A partir de hoje (20), 322 filmes serão projetados na cidade. A jornada se findará no próximo dia 2 de novembro, com a exibição da cópia restaurada da comédia A General, de Buster Keaton e Clyde Bruckman, na área externa do Auditório Ibirapuera. O clássico terá trilha sonora executada ao vivo pela Orquestra Sinfônica Heliópolis. O Cinemascope realizará a cobertura do evento, trazendo os principais detalhes da Mostra. Acompanhe! 😉

* Leon Cakoff foi crítico e idealizador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo