Hoje a vitória teve gostinho de Brasil e filme liderado por mina ganhando prêmio no Festival de Cannes. A co-produção luso-brasileira Chuva é cantoria na aldeia dos mortos, com direção da paulista Reneé Nader Messora e do lisboeta João Salaviza, conquistou o prêmio do Júri na competição Um Certo Olhar.
Filmado ao longo de 9 meses na Terra Indígena Krahô (comunidade de 3500 pessoas no estado de Tocantins) após uma relação diretora-comunidade construída ao longo de vários anos, o documentário sem equipe técnica e em negativo 16mm, acompanha a história de Ihjãc, jovem Krahô que ao se deparar com o espírito do seu finado pai, sente-se na obrigação de realizar sua festa de fim de luto, uma comemoração tradicional da comunidade.
Os diretores rodaram o filme todo na língua Krahô, proporcionando a oportunidade de ver que no maior festival de cinema do mundo, foi possível ouvi-los falando em seu próprio idioma.
O elenco aproveitou o tapete vermelho para fazer um protesto com cartazes em diversas línguas, pedindo o fim do Genocídio Indígena, a Demarcação das Terras e dizendo Não ao Marco Temporal – tese jurídica que, se votada e confirmada, teria como resultado a restrição do direito constitucional de demarcação de terras e territórios tradicionais de povos indígenas e comunidades quilombolas caso não comprovassem a ocupação dessas áreas reivindicadas quando da promulgação da Constituição de 1988.
Vivemos um momento terrível no Brasil e é urgente que o debate seja ampliado porque os direitos constitucionais dos povos indígenas vêm sistematicamente sendo ameaçados.” – Dizem os diretores.
Um Certo Olhar 2018 apresentou 18 filmes em competição, teve o Júri presidido por Benicio Del Toro, acompanhado de: Annemarie Jacir (Diretora e escritora Palestina), Kantemir Balagov (Diretor Russo), Virginie Ledoyen (atriz francesa) e Julie Huntsinger (americana e diretora executiva do Telluride Film Festival).
Amanhã o festival chega ao fim e conheceremos os ganhadores da Palma de Ouro, cujo júri é presidido pela atriz Cate Blanchett.