Por Joyce Pais e Aline Fernanda
O último dia da mostra competitiva contou com a exibição de um curta brasileiro, A Tenista, um belga, De Costas para o Muro (Dos au mur), e com os longas Cruzeiro ao Paraíso (Paradise Cruise) e A Estranha Cor das Lágrimas dos Seus Olhos (L’etrange couleur des larmes de ton corps), um dos mais aguardados do festival.
A Tenista, exibido no Festival de Roterdã este ano, conta a (previsível) história de uma adolescente que discute com sua mãe enquanto tenta chegar a tempo na sua aula de tênis. Composto por alguns planos-sequência, o curta tem falhas graves na captação de som e iluminação (prejudicados ainda mais por uma falha na projeção), por exemplo, além de ter uma atriz muito fraca como protagonista. O que deveria ser a principal revelação na história pode ser facilmente antecipada por quem o assistiu, tornando-o assim, um desperdício narrativo.
De Costas para o Muro traz a história de Natacha, que trabalha em um posto de gasolina. Um dia, um homem e uma menina que acabaram de atropelar um cervo, entram na loja do posto. A menina está chateada por causa do acidente, mas parece que isso não é a única coisa que a incomoda. A história é bem desenvolvida e as atuações são convincentes, sendo um dos curtas mais consistentes do festival.
O israelense Cruzeiro ao Paraíso talvez tenha sido o filme mais atraente do festival. Quando falo atraente me refiro a forma como o filme trata de um assunto tão delicado, o conflito Israel-Palestina, de uma forma tão palatável. A história simples, mas com muitos desdobramento, acompanha a empreitada de Dora (Vahina Giocante), uma fotógrafa francesa que volta à Israel para descobrir qual soldado matou seu namorado árabe. Lá ela conhece Yossi (Oz Zehavi), um ex militar, dispensado do serviço militar, que não lembra o que aconteceu enquanto estava em atividade no exército. Eles começam um romance e combinam de não falar sobre seus passados, mas eles tem dificuldades em evitar certos assuntos que podem colocar a relação em cheque. Além de simples, de cara dá para saber o que vai acontecer no final, mas o que na maioria das vezes faz o filme perder a graça, nesse caso é o que o deixa melhor. O diretor Matan Guggenheim desenvolve o drama dos personagens, fazendo que tenhamos uma preocupação, e uma expectativa sobre a reação dos personagens. Sem contar a fotografia e as paisagens que são realmente muito bonitas e encantadoras.
Dirigido pelo casal belga, Hélène Cattet e Bruno Forzani, A Estranha Cor das Lágrimas do seu Corpo, além do belo título, chama atenção também por seu apelo estético, montagem e trama instigantes. O longa, que encerrou a noite da mostra competitiva, conta a história de um empresário que quando chega de viagem descobre que sua mulher sumiu e que a porta de sua casa está trancada por dentro. Ao tentar investigar o caso, ele adentra o obscuro mundo nos andares do prédio onde mora e descobre muitas bizarrices por ali. Com nítidas influências de David Lynch, Brian de Palma e Daria Argento, A Estranha Cor das Lágrimas do seu Corpo se torna, em dado momento, cansativo por suas repetições, que nem sempre estão a favor da narrativa. Além da brilhante trilha sonora, composta em grande parte por canções de Enio Morricone, o filme desperta, no mínimo, a curiosidade do espectador.