Por Joyce Pais

Ontem (09) começamos o dia conferindo a palestra da Marika Kozlovska, consultora internacional do Cinema do Brasil, iniciativa que tem como um dos objetivos viabilizar e difundir o cinema brasileiro no exterior. Ela falou sobre as possibilidades de residências, workshops, consultorias na Europa e abertura desses mercados para a produção brasileira, citando, inclusive, a participação de cineastas como Juliana Rojas (Trabalhar Cansa), Marco Dutra (Quando eu Era Vivo) e Caetano Gotardo (O Que se Move) nos programas.

Em sua aula, ficou evidente que o foco era estimular a coprodução e o firmamento de laços entre o Brasil e a Bélgica – país escolhido para uma mostra paralela aqui no Festival. Além de produtores belgas e brasileiros, estavam também presentes Manoel Rangel (diretor-presidente da ANCINE), Eduardo Valente (assessor internacional da ANCINE) e André Sturm (presidente do Cinema do Brasil).

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Foto por Aline Fernanda

O curta-metragem Noite Clara (que recebeu apoio do festival para sua realização), de Felipe Vernizzi, abriu a noite e a mostra competitiva. O curta pode não ter sido uma boa escolha para a abertura e constitui um exemplo clássico de um cineasta cinéfilo que tenta emular maneirismos e padrões de diretores e gêneros consagrados. A história, confusa, não-linear, é feita de silêncios e da ambição de se colocar como cult – algo que, certamente, está longe de ser.

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Em seguida, foi exibido o longa suíço Não se Preocupe (Jeshua Dreyfus). O filme acompanha cinco jovens em uma viagem de férias ao Alpes Suíços, onde eles vivenciam experiências e situações-limite que revelam suas personalidades e segredos. Ainda que a premissa seja interessante e algumas cenas e atitudes dos personagens possam sugerir que algo realmente significante iria acontecer, o filme se encerra dando a impressão de que rodou sem sair do lugar. Raras cenas rendem tímidas risadas e alguns diálogos interessantes.

Halb so wild

A noite ficou mais empolgante com a exibição do curta português Cigano (David Bonneville). Nele, um jovem rico tem problemas com o pneu do seu carro e é ajudado por um cigano que estava nos arredores, e que depois disso o impele a dar uma carona como forma de agradecimento. A todo o momento, paira o clima de tensão entre os dois personagens, e fica evidente o abismo social entre eles. A forma como o Cigano se impõe me lembrou, à primeira vista, Paulo Miklos em O Invasor (Beto Brant). O inusitado desfecho quebrou as expectativas e não limitou o trabalho apenas a um discurso social. Uma ótima escolha.

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Para encerrar a noite, vimos o franco-ucraniano O Dia do Mineiro (Gaël Mocaër), que tem como recorte o feriado dedicado aos trabalhadores das minas de carvão da Ucrânia, mas acaba por revelar de forma realista a vida daqueles trabalhadores que arriscam suas vidas a 350 metros de profundidade para ganhar 300 euros por mês. As melhores cenas do documentário, sem dúvidas, estão nas sinceras (e cômicas) falas dos mineiros sobre as filmagens e esse encontro entre suas vidas e trabalho, definido por eles como “escravo”, e a maneira como eles ironicamente chamam a França de “civilizados”.

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A mostra competitiva continua e hoje vai ser a vez dos curtas Gaivotas e Bebê a Qualquer Preço, e dos longas As Filhas e Fugindo do Amanhã, um dos mais esperados por nós.