Por Joyce Pais

 

“O crescimento humano tem custos humanos; qualquer um que o deseje tem que pagar o preço, e o preço é altíssimo”.

(Marshall Berman)

Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza no ano passado, Fausto, a adaptação cinematográfica da obra do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, publicada em 1808, feita pelo diretor russo Aleksandr Sokurov, tal como o romance, não é de fácil assimilação. O estranhamento se dá, inicialmente, pelo formato da tela, quadrada com as bordas arredondadas, o desfoque é resultante das lentes de Bruno Delbonnel, diretor de fotografia que leva no currículo três indicações ao Oscar, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), Eterno Amor (2004) e Harry Potter e o Enigma do Príncipe (2010).

Impulsionado pela expansão industrial vivida pela Inglaterra a partir de 1760, o Fausto de Goethe expressa e dramatiza o processo pelo qual, no fim do século XVIII e início do XIX, um sistema mundial moderno vem à luz. Para manter a fidelidade ao cenário da época, Sokurov e sua equipe recorreram à arte. Por meio de pesquisas em galerias de arte e trabalhos de artistas plásticos, como o Caspar David Friedrich (1774-1840), o diretor alcançou um ambiente que para o espectador pode facilmente causar um efeito indigesto.

O filme conta a história de Fausto (Johannes Zeiler), um intelectual não conformista atingido por uma sensação de vazio que, somada a sua desilusão com as limitações dos conhecimentos do seu tempo, vende sua alma ao Mefistófoles, uma encarnação do lado sombrio, no longo, representado pelo oportunista agiota (Anton Adasinskiy), que lhe daria em troca dinheiro, sabedoria e a mulher que ama.

Fausto é um herói moderno arquetípico. Ele participa e ajuda a criar uma cultura que abriu uma amplitude e profundidade de desejos e sonhos humanos que se situam muito além das fronteiras clássicas e medievais. O personagem, personfica esse novo homem, mais livre que o da Idade Média, porém, mais preso em sua insatisfação, desequilibrio e constante renovação. No final das contas, o que muda é a ideia de liberdade.

Para quem tiver interesse, tomo a liberdade de indicar a obra de Marshal Berman, “Tudo o que é sólido desmancha no ar”. Com este ensaio histórico e literário, Berman investiga os tempos modernos, baseado do espírito da sociedade e da cultura dos séculos XIX e XX, para isso, faz releituras de alguns pensadores, dentre eles, Goethe e sua marcante obra, “Fausto”.

 

Cinemascope---Fausto-PosterFausto (Faust)

Ano: 2011

Diretor: Aleksandr Sokurov.

Roteiro: Aleksandr Sokurov.

Elenco Principal: Johannes Zeiler, Anton Adasinsky, Isolda Dychauk, George Friedrich.

Gênero: Drama

Nacionalidade:  Rússia

 

 


Veja o trailer:

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Galeria de Fotos: