Por Joyce Pais

Dirigido pelo francês Jacques Audiard (O profeta), Ferrugem e Osso inaugurou o Festival de Cannes do ano passado e foi indicado ao Globo de Ouro em duas categorias – Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz. Adaptado do conto do canadense Craig Davidson, o filme conta a história de um ex-boxeador, Ali (Matthias Schoenaerts), que entra no circuito de lutas clandestinas para sobreviver e sustentar o seu filho de cinco anos de idade, Sam (Armand Verdure). O protagonista decide fazer uma visita sem previsão e volta a sua irmã mais velha (Corinne Masiero), com a qual mantém uma relação nitidamente fragilizada, mesmo que não fique evidente o motivo, bem como nunca fica claro onde está e o que aconteceu com a mãe do filho de Ali.

Quando consegue emprego como segurança de uma boate ele conhece Stéphanie (Marion Cotillard), uma treinadora de baleias orcas problemática e misteriosa que depois de viver um evento traumático se apoiará em sua relação com Ali, a qual servirá como alicerce fundamental em seu processo de recuperação, tanto físico como emocional. Apesar da brutalidade e crueza com a qual o filme é conduzido e do peso psicológico conferido aos seus personagens e as relações que desenvolvem entre si, Ferrugem e Osso é dono de uma beleza estética ímpar. Audiard filma as sequências sangrentas com sensibilidade, em câmera lenta e com cores tão quentes como o verão e o clima praiano da cidade, mas devo dizer que quando começou a tocar Fireworks, da cantora Katy Perry, em um momento dramático do longa me causou um certo estranhamento (pra não dizer, constrangimento); a trilha é assinada pelo experiente e premiado Alexandre Desplat (O discurso do rei; 2010) que, apesar da exagerada escolha, não compromete a obra como um todo.

O título se refere ao gosto deixado na boca depois de receber um soco e podem também aludir às cenas do longa que transmitem um realismo brutal, mostrando as imperfeições humanas e as possibilidades que podem se desenvolver a partir daí; de relacionamentos incongruentes que, apesar disso, conservam uma razão de existir e um porquê. Pode-se dizer que a grande responsável pela eficácia do filme é a química entre Marion e Matthias, que repetirão a parceria em Blood Ties, thriller americano dirigido pelo francês Guillaume Canet (marido de Marion com quem ela fez Até a eternidade), programado para ser lançado ainda este ano. A capacidade do belga Schoenaerts de despertar no espectador, ao mesmo tempo, sentimentos como pena, compaixão, repulsa e desconfiança é peça importante na articulação da trama, trama esta que em alguns momentos se mostra desarticulada e que deixa algumas brechas no meio do caminho, mas de maneira geral, nos envolve.

Marion Cotillard reitera, a cada papel que encarna, o porquê conquistou uma carreira internacional bem sucedida em um espaço de tempo tão curto. Oscarizada por Piaf – Um hino de amor (se tornando a única atriz a vencer o prêmio com um filme em língua estrangeira), Marion é frequentemente convidada para projetos interessantes com diretores renomados e apesar de ter emendado filmes hollywoodianos numa sequência, ela não abre mão de produzir também em sua terra natal, o que é um presente para os amantes do cinema francês.

No longa, ela passa por mudanças drásticas de estados e, principalmente, de aparências. Impossível não citar (e elogiar) os efeitos visuais utilizados nas pernas de Stéphanie, que conferem ao filme um realismo coerente a sua tônica.

São muitas as cenas íntimas onde a vulnerabilidade da dupla é exposta de maneira piedosa, em camadas cada vez mais profundas e complexas. Ferrugem e Osso não é o tipo de filme absorvido quando os créditos finais começam a subir, ele necessita ser digerido com calma, ao longo da horas, dos dias que o sucedem. Ele agradará apenas quem estiver disposto e aberto a compreender essa história de amor que, certamente, foge de todo o tipo de convenção.

 

Ferrugem e osso (2)Ferrugem e osso (De rouille et d’os)

Ano: 2012

Diretor:  Jacques Audiard.

Roteiro: Jacques Audiard, Thomas Bidegain.

Elenco Principal: Marion Cotillard, Matthias Schoenaerts, Armand Verdure, Céline Sallette.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: França/ Bélgica.

 

 

 

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