Por Rafael Ferreira

Não é de hoje que os zumbis estão invadindo o nosso mundo midiático, presentes em livros, séries de TV, games, e filmes, tanto que fica cada vez mais difícil acrescentar algo novo ao subgênero, felizmente o diretor estreante Henry Hobson consegue somar drama familiar neste cenário.

Como de praxe, um tipo de vírus se espalhou pelo mundo – dessa vez por meio de plantações infectadas –, aqueles que contraíram o vírus serão consumidos aos poucos pela putrefação da carne, seguida de um olfato aguçado, agressividade, e um desejo insaciável e incontrolado por carne. E como de praxe também, as autoridades médicas ainda não encontraram uma cura. É nesta situação em que se encontra a personagem título, Maggie Vogel vivida por Abigail Breslin (de Pequena Miss Sunshine), que após fugir de casa é procurada pelo seu pai, Wade Vogel, interpretado por um Arnold Schwarzenegger mais contido.

Apenas a premissa da busca de um pai desesperado por sua filha, que corre risco de vida por causa da praga dos zumbis, enfrentando vários obstáculos para depois encontrá-la com um vírus incurável, renderia um bom filme com cenas de ação e horror, mas o diretor Henry Hobson segue por um caminho diferente, apostando na história de como será o curto resto da vida desta garota e deste pai devoto após o reencontro e regresso ao lar, como ela será tratada pelos irmãos, madrasta, amigos, e claro a polícia, uma decisão acertadíssima do diretor que permite que seu filme seja lido como uma analogia ao preconceito – uma das características mais desumanas do homem – com certo otimismo eu diria, nos mostrando duas situações diferentes em que outros personagens, mesmo sabendo da sua condição, interagem com Maggie de igual para igual, e até mesmo condenam o pensamento discriminatório, como é o caso do irmão mais novo da personagem, que mesmo não gostando do seu colega de escola que foi infectado sente pena por isso.

Se pegássemos o roteiro, substituindo o vírus que causa a “zumbificação” por um ebola, por exemplo, ou algum outro menos contagioso e que não é transmitido pelo ar, teríamos quase o mesmo filme. Com isto quero dizer que a força deste está nos personagens e não na situação, pois de nada serviria se não sentíssemos compaixão por essa moça que esboça um sorriso de gosto pela vida, mesmo após perder parte da visão e um dedo. É claro que teríamos mais empatia com a personagem se sentíssemos que a conhecêssemos a vida toda, teríamos mais compaixão pelo Wade se soubéssemos o quanto sofreu com a perda da primeira mulher, o que só sabemos através de um diálogo expositivo. Por falar em “expositivo”, existe um tema recorrente com margaridas ao longo do filme, obviamente remetendo ao nome da personagem, o que distrai um pouco o espectador.

As cores monótonas condizem com o ritmo do filme, e de certa forma com a vida daquelas pessoas, que consiste em cortar madeira, comer, passar tempo no balanço, e dormir, é o que se espera quando se vive sem esperança. O ritmo lento do filme, e os momentos de silêncio, podem ser um problema para muitos espectadores, mas estas características funcionam a favor da narrativa, colocando o espectador naquela sensação agonizante, que é a transformação lenta e inevitável de Maggie.

Embora corra o risco de não ser bem recebido pelo público quando este não está preparado para ver um drama com zumbis, Maggie marca uma nova linha que torço para que siga em frente, dos filmes que misturam dramas de personagens com elementos sobrenaturais, pra traçar um novo rumo para o gênero terror.

MaggieAno: 2015

Diretor: Henry Hobson

Roteiro:  John Scott

Elenco Principal: Arnold Schwarzenegger, Abigail Breslin, Joely Richardson

Gênero: Terror, Suspense, Drama

Nacionalidade: EUA; Suíça

Veja o trailer: