Por Joyce Pais

A cena que introduz o longa de Sofia Coppola mostra o astro de cinema, mas especificamente de filmes de ação, Jhonny Marco (Stephen Dorff) com seu carro importado rodando em círculos numa estrada desértica. A cena não só dá o tom da narrativa que vai se desenrolar nos próximos minutos, mas também sintetiza a vida do personagem como uma repetição contínua, entendiante e ociosa.Bebidas, cigarros, festas, mulheres “acessíveis” (pra não dizer dadas, que se aproximam do ator por conta de sua fama e status) caracterizam a rotina de Jhonny, um cara com responsabilidades de adulto, mas comportamento de criança, haja vista a maneira como seus amigos o tratam, ou até mesmo sua submissão a agente que administra sua carreira. Ele aceita passivamente, desde uma coletiva de imprensa (na qual mal consegue articular e responder as perguntas dos jornalistas alí presentes) até ‘emprestar’ seu rosto para que façam o molde de uma máscara.

Os longos planos utilizados na filmagem reforçam o vazio que Copolla insiste em capturar seguindo uma linha de pensamento que inevitavelmente associa Um Lugar Qualquer (Somewhere) a Encontros e Desencontros (Lost in translation). O glamour aparente do mundo dos famosos e, consequentemente, do cinematográfico, caí por terra quando se entra em contato com a outra face da situação; a efemeridade dos momentos faz com que estes não perdurem tempo suficiente para valer a pena.

A rotina do ator gira em torno de banalidades e objetivos como desviar sua rota e seguir o carro de uma mulher atraente só para saber onde ela mora. Em poucas linhas, assim vive o astro de Hollywood – retratado e colocado em situações que identifica o espectador com a realidade tal como ela é, fato que se não fosse trágico e triste, seria cômico.

Sua vida começa a esboçar uma mudança quando, num belo dia, ele é surpreendido por sua ex-esposa anunciando uma viagem sem data prevista para  a volta. Como não teria com quem deixar sua filha Chloe (Elle Fanning), resta a Jhonny cuidar da pré-adolescente, que desde o primeiro instante lhe causa ‘espanto’ e, ao mesmo tempo, traz um novo sentido para sua existência, porque, a partir de então, sua preocupação não poderá se limitar a si mesmo.

Além de esteticamente bem realizada como as cenas da piscina, tanto a que pai e filha se divertem juntos quanto a que Jhonny está sozinho entregue à instabilidade da água, é interessante notar como gradativamente os dois estabelecem uma relação mais próxima que na maioria das vezes não depende de falas ou declarações explícitas para ser entendidas e sentidas. Não é difícil perceber por meio dos poucos diálogos o abismo de distância que há entre pai e filha logo no começo da narrativa; o quanto ele não conheçe os gostos da garota ou como se impressiona ao vê-la deslizar delicadamente pelo gelo na aula de patinação artística.

Inevitável não associar experiências pessoais de Copolla, que cresceu e teve os estúdios de Hollywood como sua segunda (ou talvez primeira) casa. Acostumada a conviver nos bastidores do mundo que hoje é objeto de seus filmes, ela pode ter deslizado em uma conclusão simplista e, de certa forma ingênua – o que começa com Jhonny dirigindo em círculos, termina com o personagem mais seguro, tomando decisões e seguindo em frente, é improvável, mas simbolicamente eficiente.

Um Lugar Qualquer tem grandes chances de agradar um público jovem acostumado com a linguagem moderna e autoral de Sofia Copolla, que consegue conduzir com linearidade o filme, unindo bom gosto estético e sonoro, numa trilha que vai de Gwen Stefani a Foo Fighters.

 

Cinemascope---Um-Lugar-Qualquer-PosterUm lugar qualquer (Somewhere)

Ano: 2010.

Diretor: Sofia Coppola.

Roteiro: Sofia Coppola.

Elenco Principal: Stephen Dorff, Michelle Monaghan, Chris Pontius, Laura Ramsey.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: EUA.

 

 

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