Por Rafael Werk

O novo longa dirigido por Roy Andersson é um choque em meio aos outros exibidos atualmente. A surpresa se deve ao fato do filme ter apenas 39 planos. Para uma comparação rápida: o trailer de Vingadores: Era de Ultron (2015) tem mais de 60 cortes. Sentar para assistir esse filme sueco é uma mudança de velocidade tão brusca que os primeiros minutos podem desnortear.

Precedido por Canções do Segundo Andar (2000) e Vocês, Os Vivos (2007), Um Pombo Pousou num Galho, Refletindo sobre a Existência (2014) é o último da trilogia, na qual o diretor busca retratar, de maneira peculiar, o ser humano. O modo de expor seu olhar continua como nos filmes anteriores: planos longos, câmera estática, palidez e sarcasmo.

Um Pombo… inicia com um prólogo de 3 esquetes sobre a morte. O começo parece avisar que tanto a vida quanto o próprio filme são efêmeros e sem sentido. Melancolia e humor negro, combinados de forma sutil, perpassam por todos os 100 minutos do enredo.

Durante a trama há apenas 2 personagens que são recorrentes: vendedores de bugigangas que tentam, sem sucesso, negociar seus produtos. Sam e Jon, os irmãos negociantes, apresentam-se com desânimo e falta de habilidade para vender seu “divertidos” apetrechos, criando um tom cômico e de desgraça na dupla. Além desses, os esquetes não possuem uma linha narrativa linear e cada um conta sua própria história: avareza, hiprocrisia, guerra, tempo… A margem para interpretações é gigantesca, pois o diretor busca não deixar claro quais as mensagens. Foi neste viés que o filme foi premiado com Leão de Ouro em Veneza, no ano passado.

Filmes com poucos movimentos não são fáceis, pois o cotidiano tenta constantemente nos acostumar com velocidade e informação imediata. Não é à toa que a pintura não é tão atraente como antes. Marcel Martin diz em seu livro “Linguagem Cinematográfica” que “a história da pintura, do ponto de vista da expressão da temporalidade, é um apelo ao cinema”; e a trilogia de Roy Andersson é a definição bruta desta conclusão. A dilatação de tempo que Monet, Renoir e Turner buscavam em suas telas aparecem da maneira mais simples possível neste trio de filmes. É a contemplação de pinturas com profundidade de campo e o desejado movimento que as artes plásticas não tiveram por séculos. Concentrar-se aqui, então, exige atenção redobrada; do contrário periga-se cair no desinteresse e na procura de algo mais ligeiro.

Cinemascope - Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência posterUm Pombo Posou num Galho Refletindo Sobre a Existência

Ano: 2014

Direção: Roy Andersson

Roteiro: Roy Andersson

Elenco principal: Holger Andersson, Nils Westblom

Gênero: Comédia, Drama

Nacionalidade: Suécia

 

 

 

 

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