Por Sttela Vasco

Humor irônico, trilha sonora muito bem escolhida e cenas que poderiam se encaixar no cotidiano de boa parte das pessoas. Esses, muito provavelmente, são os traços mais marcantes do estilo de Woody Allen, e são justamente eles que ajudam a compor Blue Jasmine, sua mais nova obra. Após ficar 4 anos afastado dos cinemas americanos (seu último filme na terra do Tio Sam foi Tudo Pode Dar Certo, em 2009), ele retorna com a tragicômica história de Jasmine (Cate Blanchett), uma socialite que, após se ver falida, precisa repensar seu estilo de vida.

Jasmine (Cate Blanchett) tem tudo que se pode desejar: é bonita, rica e casada com um milionário. No entanto, sua vida muda quando ela perde todo o dinheiro e se vê obrigada a morar em São Francisco com Ginger (Sally Hawkins). Enquanto tenta se readaptar ao seu novo estilo de vida, Jasmine recorda tudo o que a levou até aquela situação, analisando suas escolhas na vida e seu casamento fracassado com Hal (Alec Baldwin). Ao longo desse processo, ela precisará compreender que a vida vai além do dinheiro, além de aprender algumas lições de pessoas que ela menos esperava.

Após um longo jejum, Woody Allen finalmente tornou a gravar filmes nos Estados Unidos. Com seu humor irônico, ele traz dessa vez a história de Jasmine, uma ricaça que perdeu tudo após seu marido ser preso e que se vê obrigada a viver com a irmã em uma residência simples de São Francisco. Por trás das piadas inteligentes e sarcásticas de Allen, encontramos a história dramática de Jasmine. Ela, com sua obsessão por provar que não fracassou na vida, é uma bela caricatura de muitas pessoas da nossa sociedade atual onde muitas vezes ter algo vale muito mais do que qualquer outra coisa.

Cega por essa perspectiva, Jasmine constantemente acusa sua irmã, Ginger, de nunca ter tentado “algo melhor”. Ela é contra o relacionamento de Ginger e a acusa de namorar fracassados, sem perceber que ela foi quem teve o pior relacionamento de todos, afinal, seu marido ganhava dinheiro através de ações fraudulentas. A velha lição do “olhar no espelho” está bastante presente ao longo do filme. A personagem principal acusa todos a sua volta, mas não se dá conta de que ela própria cometeu erros. Além disso, ela nega a própria identidade: Jasmine não é seu verdadeiro nome e, quando ainda tinha sua vida perfeita, tentava evitar ao máximo a irmã.

Despreparada para lidar com a situação em que se encontra e emocionalmente abalada, Jasmine vai quebrando aos poucos e é justamente aí que aparece o brilhantismo de Cate Blanchett, ela dá vida a essa mulher em frangalhos que tenta manter a classe de uma forma tão humana que é possível sentir compaixão por Jasmine. A protagonista vai de pequenas mentiras a perdas totais da razão no meio da rua, onde começa a falar sozinha e reviver situações passadas. Jasmine prova como a vida pode se tornar miserável dependendo nos nossos valores e, por não saber lidar com a grande perda material que sofreu, acaba caindo de uma forma lastimável.

Coroando o roteiro muito bem elaborado de Allen, temos a capacidade do diretor de retratar o que há de belo em cada cenário e contrastar com a cena em questão, além de transmitir sua mensagem sem necessariamente usar falas – destaque para a cena final em que Jasmine está sentada em um banco. A fotografia do longa não deixa desejar em nenhum momento e consegue, com extrema sutileza, balancear situações de grande carga emocional com ambientes belos e até mesmo delicados. Woody Allen pode ter demorado a regressar para os cinemas norte-americanos, mas com certeza o fez com maestria.

Cinemascope -Blue-Jasmine -Poster

Blue Jasmine

Ano: 2013

Direção: Woody Allen

Roteiro: Woody Allen

Elenco principal: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Peter Saarsgard

Gênero: Drama, Comédia.

Nacionalidade: EUA

 

 

 

 

Confira o trailer:

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