Por Domitila Gonzalez
Fazer uma crítica envolve coisas muito maiores do que simplesmente dizer se foi bom ou se foi ruim, independentemente da linguagem. Fazer um filme também.
Fazer uma crítica envolve falar sobre escolhas – e aí sim, dizer se há coerência ou não. Fazer um filme também.
Começo, então, dizendo que As Aventuras de Pi se apresentou para mim como um filme de boas escolhas. E aí, se a história é verdadeira ou baseada em fatos reais, se é original ou plagiada, aqui não me importa.
Por quê?
Porque, diferentemente do que penso sobre o longa Os Miseráveis, essa sim foi uma história bem contada.
Por que raios uma fedelha acha que a história de um menino indiano que perde a família num naufrágio e acaba por ficar à deriva com um tigre até encontrar o continente foi mais bem contada do que um dos livros mais importantes do mundo?
Porque as escolhas foram coerentes com o que a história se propôs a contar.
Primeiro, estamos diante de um filme que contém uma simplicidade no que diz respeito ao formato do roteiro. Nada que não tenhamos visto antes: um homem contando sua história, flashback para as lembranças, flash para o mundo atual, novamente.
Depois, logo no início, entramos em contato com o escritor (Rafe Spall, Um dia; 2011) que já nos oferece o dado de que existe algo de extraordinário com Pi Patel (Irrfan Khan, Quem quer ser um milionário?; 2008). Ou seja: já sabemos o que vai acontecer. E é diante disso que reforço: não importa o que vai ser contado, mas como vai ser contado.
Utilizando-se de efeitos visuais e recursos em 3D, além de 4 tigres de bengala revezando-se no papel de Richard Parker, o roteiro simples acaba tornando-se muito bem amarrado.
Embalada pelas canções de Mychael Danna – que tem em seu currículo a trilha de filmes como Capote (2005) e Pequena Miss Sunshine (2006) – e conduzida pela direção sensível de Ang Lee (O Segredo de Brokeback Mountain, 2005), a história de Pi Patel emociona e chega ao espectador como uma fábula que se ouve antes de dormir.
O enredo é repleto de simbolismos que caminham principalmente no território da religião, se levarmos em conta que o protagonista procura por algo em que acreditar desde pequeno, passando por várias crenças orientais e ocidentais, até se encontrar.
“É uma história que o fará acreditar em Deus”, dizem ao escritor. Partindo daí, se resgatarmos a história da Arca de Noé e o dilúvio, encontramos semelhanças tais como a própria tempestade e o fato de os animais terem embarcado no navio cargueiro junto com a família de Pi.
A fotografia excepcional do chileno Claudio Miranda – que já nos havia presenteado com as belíssimas cores de O Curioso Caso de Benjamin Button (David Fincher,2008) – reforça a ideia de sonho, intensificando a imersão do espectador, que se vê extasiado com baleias e peixes voadores, fins de tarde alaranjados e tempestades assustadoras.
É mais do que mais um filminho pra curtir o sábado à noite. É um filme de belas escolhas, escolhas justas e coerentes.
As Aventuras de Pi foi indicado a 11 categorias no Oscar e merece ser visto pela qualidade de produção cinematográfica e capacidade de encantamento presente nas coisas simples. Afinal, não é todo dia que encontramos um tigre chamado Richard Parker.
As aventuras de Pi (Life of Pi)
Ano: 2012
Diretor: Ang Lee.
Roteiro: David Magee (Adaptação do livro de Yann Martel).
Elenco Principal: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain, Rafe Spall e Gérard Depardieu.
Gênero: Aventura.
Nacionalidade: EUA.
Veja o trailer:
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