Por Domitila Gonzalez

 

Por diversas vezes aqui no Cinemascope, levantei a bandeira do gênero musical como sendo um dos meus preferidos.

Por diversas vezes, ressaltei a importância do silêncio para contar a história.

Por diversas vezes, ressaltei a importância da música para contar a história. E de como, se utilizada da maneira errada, pode fazer tudo ir por água abaixo.

Dessa vez, com toda contradição que a arte me permite fazer, digo que, com oito indicações ao Oscar, “Os Miseráveis” não foi, para mim, um filme formidável.

Há muitos méritos, sim, é claro. Do contrário, não haveria tantas indicações.

O enredo é conhecido dos amantes da Literatura mundial: Victor Hugo, em determinado momento, resolveu apostar em temas sociais e fez sucesso da noite para o dia.

Não digo que a história é ruim – de maneira alguma. Digo que, dessa vez, não foi muito bem contada – e já digo o porquê.

Vamos lá.

Era uma vez , Jean Valjean (Hugh Jackman – X-Men: Primeira classe, 2011), um homem que foi preso e virou escravo por ter roubado um pedaço de pão. Um belo dia, ele consegue a condicional – mas foge e então passa a ser perseguido por um cruel sargento, Javert (Russel Crowe – Robin Hood, 2010). O barbudo, então, decide se esconder: tira a barba bizarra e com a ajuda de um padre que o encobriu de um furto, muda de vida. Anos depois, já prefeito de uma famosa metrópole francesa, por acaso deixa que demitam Fantine (Anne Hathaway – Batman-O Cavaleiro das Trevas Ressurge, 2012), uma de suas funcionárias, que – OLHA SÓ! – tem uma filha para cuidar e por causa da demissão acaba vendendo seu cabelo, depois seus dentes e por último seu corpitcho.

Depois de muito tempo na rua da amargura, Fantine é encontrada por Valjean, que promete, em seu leito de morte, que cuidará de sua filha para sempre – OUN QUE AMOR!

Aí é aquela coisa: revolução estourando, a filha cresce, o homem cuida dela, ela se apaixona, tem a outra que sempre se ferra e gosta do bonitão, tem a luta, morre mó galera, o ex-barbudo salva o bonitão que casa com sua filha postiça, o policial continua o perseguindo FOREVER, mas se arrepende no final, quase todos morrem, e os que já morreram cantam a última música num final apoteótico.

TA-DA! LINDO! Só que não.

158 minutos de filme – isso dá pouco mais de duas horas e meia de musical. E quando eu digo musical eu digo MUSICAL. São pouquíssimas as intervenções textuais e é justamente por isso que o filme cansa. E é uma pena! Verdadeiramente falando, uma pena! Porque o figurino está maravilhoso, as atuações de Hathaway e Jackman fazem sucesso e merecem ser aplaudidas de pé porque – pasmem, telespectadores! – o som foi gravado AO VIVO, no set.

É.

Não é pra qualquer um. A performance de Hathaway em “I dreamed a dream” é emocionante, sim. Faz esquecer qualquer Susan Boyle que possa ter transformado a música num hino. Do outro lado, temos Hugh Jackman – que está em cena quase o tempo inteiro e prova ser um ator de talento que tem competência para fazer qualquer outra coisa, além do Wolverine.

Os planos angulares são bizarros, não têm nada de surpreendente e, se quer saber, minha indicação de melhor ator vai para o pequeno Gavroche (Daniel Huttlestone), que canta e emociona como se fosse gente grande, assim como Isabelle Allen, que interpreta a pequena Cosette. Quer dizer, “Castle on a Cloud”, “I dreamed a dream”, “On My Own” e “Valjean’s Soliloquy” são os grandes momentos musicais do filme, para mim.

Numa entrevista para o Making of, o diretor Tom Hopper (O Discurso do Rei, 2010) diz que havia um pianista no set tocando para que os atores conseguissem cantar ao vivo sem perder o tom ou o andamento da música. Foi uma escolha de coragem, mas também arriscada, pois dessa maneira, as melhores virtudes e os piores vícios ficam expostos deliberadamente: um exemplo é o vibrato exagerado de Amanda Seyfried (Cartas para Julieta, 2010) ou o ritmo que parece perseguir Russel Crowe – e não o contrário.

Hopper apostou numa versão clássica, com todas as músicas tradicionais MAIS uma original. Não digo que esse tenha sido seu maior problema – ou talvez um deles – porque em O Fantasma da Ópera (2004) encontramos uma versão clássica muito bem executada para um musical clássico muito famoso.

Sacha Baron Cohen (A Invenção de Hugo Cabret, 2011) e Helena Bonham Carter (O Discurso do Rei, 2010) são o alívio cômico – e que alívio! – do filme e merecem um Spin-Off só pra eles e para Éponine (Samantha Barks) – aliás, uma das melhores performances do elenco.

Ouso dizer que as mesmas escolhas que fizeram com que eu desanimasse com o filme, foram responsáveis pela indicação dele ao Oscar.

Mas volto a dizer: a história não é ruim. Só não foi bem contada.

E para completar, a cara conhecida dos atores vindos de outros personagens de sucesso só ajuda tudo a ficar mais confuso. Como Jackman e Hathaway resumiram, durante a premiação dos Screen Actors Guild Awards: “Volverine está sendo perseguido pelo Gladiador… A Mulher-Gato se dá mal, e, por alguma razão desconhecida, vai procurar Bellatrix Lestrange (de Harry Potter) e Borat(?). Wolverine concorda em criar o bebê da Mulher-Gato… E então ela cresce para estrelar “Mama Mia”.

Pra quem sempre rasga elogios para produções britânicas, tenho que reconhecer que Hopper pesou a mão.

Contudo, um salve para a direção de arte e para a maquiagem, que realmente se destacaram.

 

Os Miseraveis (2)Os miseráveis (Les Misérables)

Ano: 2012

Diretor: Tom Hopper.

Roteiro: William Nicholson.

Elenco Principal: : Hugh Jackman, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Eddie Redmayne, Aaron Tveit, Samantha Barks, Daniel Huttlestone e Isabelle Allen.

Gênero: Musical.

Nacionalidade: Reino Unido.

 

 

Veja o trailer:

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