Por Gustavo Soussumi
Em 2008 uma crise econômica afetou diversos países, mas poucos sabem como isso aconteceu. A proposta de Charles Ferguson, diretor de Sem Fim à Vista (2007), é mais do que explicar os fatores que levaram à crise: em Trabalho Interno, Ferguson dá uma aula de economia enquanto expõe diversos dos responsáveis que permitiram que a “bolha” crescesse e estourasse.
Os eventos são explorados de maneira suave, indo de um acontecimento a outro com naturalidade. Da crise bancária da Islândia, passando pelo início da desregulamentação dos empréstimos e crédito imobiliário nos Estados Unidos, são explicados conceitos-chave como swaps de crédito e CDO, permitindo mesmo os que não entendem de economia acompanharem com facilidade.
A Islândia sofre com a privatização de seus bancos, mas isso não serve como modelo para os investidores em Wall Street. Embora os acontecimentos sejam avaliados por diversos economistas como fatores de risco, num país onde a política está à mercê da economia tais avisos são ignorados e muitas vezes reprimidos. Medidas de segurança são tomadas como ofensa e especialistas honestos perdem o emprego para garantir a supremacia dos investidores e empresários de grande porte.
Se por um lado a didática é bem elaborada, o tom acusativo guia a opinião do espectador e, ao invés de levantar questões a serem refletidas, força o desgosto pelas pessoas envolvidas na crise. As perguntas das entrevistas, muitas vezes constrangedoras, apresentam questionamentos morais muito similares ao que vemos em filmes do Michael Moore, como Fahrenheit 11 de Setembro. Os entrevistados, pegos de surpresa, e os 18 que se recusaram a participar tornam-se vítimas dos pressupostos levantados no filme.
Contribui negativamente também o fato de que outros fatores que afetaram a economia estadunidense e mundial foram muitas vezes omitidos, reforçando a ideia de que aquelas empresas, empresários e investidores eram os únicos responsáveis pelos acontecimentos. Ao apresentar a crise de 2001, por exemplo, em momento algum foram citados os atentados de 11 de setembro daquele ano.
Ainda assim, Trabalho Interno agrada. A escolha da narração, feita por Matt Damon (Bravura Indômita), aliada à produção e trilha sonora, torna o documentário menos cansativo e o traz para perto de filmes de outros gêneros.
O espectador atento pode utilizar os dados fornecidos e escapar do tom maniqueísta enquanto levanta seus próprios questionamentos. Na tentativa de proteger seus próprios bens, democratas e republicanos tomam juntos medidas que explicam o porquê da concentração de renda nas mãos do famoso “1 porcento mais rico”.
O filme, vencedor do Oscar de melhor documentário, desbancou títulos como Lixo Extraordinário (Lucy Walker) e Saída pela Loja de Presentes (Banksy).
Ano: 2010.
Diretor: Charles Ferguson.
Roteiro:
Narração: Matt Damon.
Gênero: Documentário.
Nacionalidade: EUA.
Veja o trailer:
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Galeria de Fotos: