Por Sttela Vasco

Quem nunca assistiu a um filme sobre gastronomia e ficou morrendo de vontade de provar alguma das delícias retratadas no longa depois? Tendo a fotografia como seu principal trunfo, esse tipo de história consegue entrelaçar sua narrativa à arte de cozinhar. Seja um chef que perdeu tudo e precisa recomeçar sua vida ou uma jovem que encontra no preparo da comida um conforto para suas desilusões, algo é garantido: esses longas vão te conquistar pelo estômago. Bom apetite!

Sem Reservas (2007)

Cinemascope - Sem reservas

A chef Kate Armstrong , vivida por Catherine Zeta-Jones, tem a vida que sempre quis: cozinha para um renomado restaurante de Manhattan, vive sozinha em um luxuoso apartamento e é prestigiada em sua carreira. Tudo muda, no entanto, quando uma tragédia pessoal abala sua rotina e ela se vê obrigada a lidar com seu novo subchef, Nick (Aaron Eckhart),  e com sua sobrinha de 9 anos, Zoe (Abigail Breslin), que não consegue se adaptar à rotina da tia.

Refilmagem do alemão Simplesmente Martha, de 2002, o longa, que é assinado por Scott Hicks, mescla drama, humor e romance e consegue cativar o espectador pela maneira como  desenvolve sua história ao equilibrar esses três elementos. O trio Zeta-Jones, Eckhart e Breslin conduz bem a narrativa, que ainda conta com uma bela fotografia.

Julie e Julia (2009)

Cinemascope - Julia e Julia

Julie e Julia mescla a história de Julia Child (Meryl Streep), a primeira americana a cursar a prestigiada escola de gastronomia francesa Le Cordou Bleu, que se passa em 1948, com a de Julie Powell (Amy Adams), uma jovem dos tempos atuais que está frustrada com sua vida e decide cozinhar as 524 receitas do livro Mastering thr Art of French Cooking, de Julia, e contar a experiência em um blog. A narrativa mistura os conflitos de uma e de outra e, mesmo se passando em época diferentes, mostra como essas duas mulheres enfrentaram os desafios que encontraram em suas vidas. Julia estava perdida em Paris, local ao qual foi morar devido ao novo emprego de seu marido. Julie, por sua vez, estava em crise por chegar aos 30 anos sem ter a vida que havia planejado. A narrativa toda conta com as mais variadas receitas e sabe trabalhar bem seu visual. A direção fica a cargo de Nora Ephron.

Streep e Adams estão muito bem em seus papeis, mas é preciso dizer que, mais uma vez, uma das maiores estrelas de hollywood soube usar seu talento versátil para tornar a produção memorável. Indicada ao Oscar 2010 como melhor atriz, ela venceu o Globo de Ouro nessa mesma categoria pelo longa.

Estômago (2007)

Cinemascope - Estômago

Estômago, de Marcos Jorge, é mais um dos filmes brasileiros injustamente desconhecidos pelo grande público. A sua história vai além da gastronomia, que é fio condutor para toda a trama, e nos traz uma reflexão sobre as relações humanas e sobre como podemos influenciar e sermos influenciados por meio dos mais diferentes artifícios. Raimundo Nonato – brilhantemente interpretado por João Miguel – é um rapaz que chega à cidade grande querendo uma vida melhor. Ele consegue trabalho em um bar e lá descobre seu talento para a cozinha, o que acaba chamando a atenção do dono de um famoso restaurante italiano da região, Giovanni (Carlo Briani). Com este novo emprego, Nonato aprende mais sobre a gastronomia e sobre os relacionamentos.

A cozinha italiana é um elemento fortemente presente no longa, que é uma coprodução com a Itália, porém, apesar de ter a comida como foco, a história não se restringe a isso. O espectador é apresentado a duas épocas da vida de Nonato e vai, pouco a pouco, descobrindo mais sobre a personalidade desse curioso personagem. O roteiro, que vai bem durante todo o filme, cresce em seus minutos finais e nos entrega um protagonista muito mais complexo do que o inicialmente introduzido, surpreendendo. Inspirado no conto Presos pelo Estômago, do livro Pólvora, Gorgonzola e Alecrim, de Lusa Silvestre, o longa foi premiado nos festivais do Rio e Punta del Este.

Chef  (2014)

Cinemascope - Chef

Muito comentado este ano, Chef conta a história de Carl Casper (Jon Favreau), um chef de um importante restaurante que, após entrar em conflito com um grande crítico gastronômico (Oliver Platt), acaba perdendo o emprego e se transformando em uma piada na internet. Sem saber o que fazer, ele acaba por aceitar a ajuda de sua ex-exposa (Sophia Vergara) e investe em um food truck de comida cubana.

Além de ter uma fotografia impecável, o longa é extremamente atual e trata, mesmo que de forma sutil, do empreendedorismo através das redes sociais e como elas podem ajudar a criar um negócio de sucesso. Passando boa parte como um road trip movie, a obra, assinada pelo próprio Favreau, tem humor e envolve o espectador principalmente ao retratar a relação de Carl com seu filho. O roteiro é ágil e cumpre o que promete ao entreter bem o espectador durante suas quase duas horas de duração.

Como Água para Chocolate  (1992)


Cinemascpe - Como água para chocolate

O mexicano Como Água para Chocolate, de Alfonso Arau, é um daqueles longas sobre gastronomia que conseguem a difícil proeza de fazer que o espectador não apenas aprecie a variedade de pratos e ingredientes apresentados ao longo da história, mas quase sinta o aroma e o sabor dos mesmos. Tita (Lumi Cavazos) é uma jovem que já nasceu na cozinha, literalmente, e é condenada, por ser a filha mais nova, a viver para cuidar da mãe até que ela morra. Após ver o homem que ama se casar com sua irmã, ela descobre na cozinha uma forma de extravasar seus sentimentos e acaba, com isso, atingindo a todos que experimentam sua comida.

Alguns exageros à parte, a trama mistura drama, romance e fantasia de uma maneira interessante e que, se não agrada completamente, ao menos faz com que o espectador se interesse por sua história. Ao colocar tudo de si em sua comida, Tita faz com que as pessoas sintam o que ela sentiu ao prepará-la – ao cozinhar algo enquanto chora, por exemplo, ela faz com que todos que comeram sintam uma angústia inexplicável – e isso é o que faz com que o longa se diferencie de outros do mesmo estilo. Um romance proibido e a maneira com que a jovem consegue se libertar de sua mãe possessiva dão ao roteiro a história que faltava para delinear essa rica viagem à cultura e gastronomia mexicana.

E o filme além dos clichês é…

Ratatouille (2007)

Cinemascope - Ratatatouille

A história de um rato, figura naturalmente abominada nas cozinhas, que sonha em ser chef. Esse é o ponto de partida de Ratatouille, longa da Disney dirigido por Brat Bird (Os Incríveis) e que compete tranquilamente com qualquer um dos filmes acima citados no quesito “fazer com que o espectador queira provar cada um dos pratos que aparecem na tela”. Sem a compreensão da família e constantemente banido de qualquer lugar onde possa cozinhar, Remy vive frustrado por não poder alcançar seu sonho. Tudo muda, no entanto, quando ele se vê sozinho e perdido nos esgotos da cidade que ele descobre ser Paris. E é lá que ele encontra o restaurante de seu chef preferido, Auguste Gusteau, que tem como lema a premissa de qualquer um pode cozinhar e inspira o ratinho a lutar pelo o que quer. Após uma visita à cozinha do restaurante, ele acaba salvando o emprego do jovem Linguini, um atrapalhado ajudante de cozinha que se transforma em seu parceiro na cozinha.

Delicado e bem estrtuturado, Ratatouille mostra, por meio de seu protagonista, que talentos podem vir dos mais diferentes lugares, e que é preciso estar aberto ao que parece diferente. A luta que Remy enfrenta representa a de inúmeras pessoas, que muitas vezes são desestimuladas pelo meio em que vivem ou pela própria sociedade e desistem do que querem por não serem consideradas adequadas. O roteiro é bem finalizado e vai além dos clichês, contando ainda com uma ótima trilha sonora de bônus.