Por Sttela Vasco
Presença marcante em muitas obras, a figura da mãe tem sido explorada no cinema das mais diferentes maneiras e com as mais variadas intensidades. Para homenagear o Dia das Mães escolhemos aquelas que, mesmo passando pelas piores situações, não medem esforços para proteger e cuidar de seus filhos e, em alguns casos, honrar suas memórias.
Seja lutando contra o governo ou se virando para viver em um país novo, essas mulheres enfrentam as adversidades da vida com coragem e força. Como a nossa lista consiste em seis indicações, fica aqui a minha menção honrosa a Tudo Sobre Minha Mãe, do Pedro Almodóvar, e às tantas outras obras com mães – e também àquelas da vida real – que batalham para manter seus filhos, encaram preconceitos, obstáculos e julgamentos e precisam tomar as mais difíceis decisões diariamente sem se deixar abater. Feliz Dia das Mães!
Zuzu Angel (2006)
Baseado em fatos reais, o longa brasileiro assinado por Sergio Rezende conta a história de Zuzu Angel, uma estilista dos anos 1960 que ganhou fama dentro e fora do Brasil. No entanto, a vida de Zuzu muda radicalmente quando seu filho, Stuart, desaparece após ser preso durante o período da ditadura militar. Inconformada com a falta de informações sobre o que aconteceu com jovem, ela inicia uma luta para descobrir o que houve com o Stuart e poder enterrar seu corpo.
A busca de Angel pelo filho, a forma como ela passa a enfrentar até mesmo membros do alto escalão do exército e como passa a se envolver com temas que discordava de Stuart anteriormente são a alavanca para o filme. Destemida, Zuzu não desistiu de sua busca mesmo após sofrer inúmeras ameaças e só parou após morrer em um acidente – forjado – de carro. Zuzu Angel conta com a interpretação espetacular de Patrícia Pillar, que chegou a ser indicada ao prêmio de Melhor Atriz no Grande Prêmio Cinema Brasil.
Volver (2006)
Penélope Cruz teve um dos grandes papeis de sua carreira – e que a fez disputar o prêmio de Melhor Atriz no Oscar 2007 – ao representar Raimunda nessa obra de Pedro Almodóvar. Nele, ela vive uma mãe jovem e trabalhadora que é responsável por sustentar sozinha sua família após o marido ficar desempregado. Com muitos problemas financeiros, ela acaba tendo que se desdobrar entre diversos empregos e deixa a filha adolescente sob os cuidados do pai.
No entanto, tudo muda quando ela o encontra morto na cozinha, com uma faca enterrada no peito, e a filha confessa o crime alegando que ele havia tentado abusar sexualmente dela após ficar bêbado. Raimunda é mais um retrato fidedigno das mulheres de Almodóvar. Ela tem uma vida difícil, mas não se deixa abater, enfrentando as mais diferentes adversidades sem medir esforços para proteger a filha.
Entre Nos (2009)
Mariana, vivia por Paola Mendoza, é uma jovem mãe que deixa sua vida na Colômbia para ir viver com o marido e os dois filhos no Queens, em Nova York. Tudo vai bem até que ele decide abandoná-la com as crianças para ir tentar a sorte em Miami. Sem saber falar inglês, sem dinheiro e sozinha, ela precisa buscar meios de sobreviver em uma terra praticamente desconhecida. Baseado em fatos reais, o filmes tem direção da própria Paola em parceria com Gloria La Morte.
A história de Entre Nos é a de centenas de mulheres. Mariana deixou tudo que tinha e conhecia por alguém e acabou sendo abandonada, mas não se permite abater. Conforme a narrativa cresce, aumentam também suas desventuras e, ainda assim, ela se mantém focada em seu principal objetivo: cuidar dos filhos. Seus momentos de desespero são atenuados por sua força de vontade. Em pouco tempo, a família perde a casa e se vê obrigada a dormir na rua. E é então que a fibra dessa mãe se faz valer ainda mais. Mariana passa a coletar latinhas junto aos filhos para juntar dinheiro e tenta fazer com que, mesmo em meio às tristezas, ambos não percam a alegria pela vida e a fé.
Philomena (2013)
Jovem, mãe de um menino recém-nascido em uma Irlanda de 1952. Essa é a vida de Philomena Lee quando ela é mandada para um convento onde mães solteiras vão para ter seus bebês e viver uma vida de reclusão. O local, no entanto, negocia crianças com casais e as coloca para adoção. Sem poder impedir, Philomena vê seu filho ser levado por um casal norte americano e perde qualquer contato com o menino. Muitos anos depois, ainda inconformada com o que houve, ela conta com a ajuda de um jornalista falido para iniciar sua busca pelo filho perdido nos Estados Unidos. O filme, dirigido por Stephen Frears e com umabela atuação de Judi Dench, chegou a concorrer ao Oscar de Melhor Filme em 2014.
Apesar de retratar um caso real ocorrido em meados dos anos 1950, Philomena é uma história extremamente atual. Ele trata, sim, de uma mãe que não desistiu do filho e, mesmo envelhecida, sente a necessidade de encontrá-lo para explicar sua história, mas não apenas disso. O longa mostra também algo ainda comum nos dias de hoje: a forma como uma mãe jovem e/ou solteira é julgada e condenada socialmente como sendo alguém indigno por não ter seu filho nas condições e no tempo considerado “corretos”. A violência que Philomena sofre por parte das freiras em seu parto ainda é vivenciada por inúmeras mulheres atualmente. Como se o ato de parir fosse uma punição e não um momento de cuidado e, principalmente, respeito. Mas sua força não está em suas críticas, mas sim nessa senhora que, mesmo tendo sofrido a perda de um filho, se mantém firme e não desiste de sua busca, indo contra um antigo e sórdido esquema de adoção e se aventurando junto a um estranho em um país desconhecido.
Linha de Passe (2008)
A obra de Walter Salles e Daniela Thomas utiliza o futebol como pretexto para realçar a importância do espírito de equipe dentro de uma família. Linha de Passe percorre o caminho de quatro irmãos em busca de sonhos e anseios pessoais. Acima deles existe a figura materna de Cleuza – interpretada magnificamente por Sandra Corveloni; a atuação rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de 2008 – que trabalha como empregada doméstica e novamente está grávida. Apesar do iminente sofrimento de criar quatro filhos sozinha, Cleuza não se deixa abater. Para manter a chama da vida acesa, ela frequenta o estádio para torcer pelo Corinthians e não dispensa uma rodada daquela cervejinha. Em São Paulo, terra de arranha-céu, quem não nasceu playboy tem que ralar para conquistar, ao menos os sonhos na Torre de Babel ainda são gratuitos. Mas o tempo urge para quem sonha.
Dário (Vinicius de Oliveira) é aspirante a jogador de futebol e tido como joia da família. Quando o menino completa os 18 anos de idade, vê as portas para ingressar no esporte se fecharem e um mar de incertezas surgir. Dinho (José Geraldo Rodrigues) tenta reparar os erros do passado se refugiando nos cultos em busca de uma salvação, ao mesmo tempo engole sapos no emprego de frentista. Denis é o filho mais velho dos quatro, roda a cidade pelas vias movimentadas para exercer o emprego de motoboy e tentar levantar dinheiro para o filho que mal visita.Reginaldo (Kaique de Jesus Santos) é o caçula, está sempre arrumando um jeito de caçar o pai desconhecido pelos ônibus municipais. Todos eles são bem distintos na forma de agir e pensar, mas o meio de campo é justamente a mãe que apesar dos infortúnios, não deixa de torcer, acreditar e rezar por dias melhores. Linha de Passe encanta pela realidade com que as histórias dos personagens são retratadas no subúrbio paulistano.
E o filme além dos clichês é…
Mommy (2014)
Em uma realidade futura, famílias de pessoas com algum transtorno mental podem deixá-las em hospitais públicos sem passar por nenhum processo judicial, apenas assinando um documento que as liberta da função de responsável. É nessa época que se passa a história de Diane Després ,interpretada por Anne Dorval, uma mãe solteira que precisa reorganizar sua vida após seu filho, Steve, ser expulso do reformatório onde vivia. Sem emprego fixo, com muitas dívidas e precisando lidar com o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade de Steve, Diane busca formas de sobreviver sem se deixar abater pelos inúmeros problemas no qual sua vida está mergulhada. Dirigido por Xavier Dolan, o longa chamou atenção em Cannes em 2014.
Mommy é além do clichês porque traz personagens imperfeitos com uma história de vida que não poderia ser mais complicada. A relação entre Die e Steve é complexa, difícil e completamente fora dos padrões. Die é uma mulher extravagante, que deixa o filho beber junto a ela e falar palavrões. Eles, aliás, tem um modo peculiar de tratar um ao outro que pode soar estranho para quem espera por uma relação mãe-filho tradicional. Porém, todos os atos e sacrifícios de ambos é por um motivo bastante simples: amor. Die toma as decisões mais difíceis por puro amor ao seu filho e, mesmo quando parece que está desistindo, está, na verdade, tentando salvá-lo de si mesmo. Suas batalhas são duras e por muitas vezes pesadas, mas ela se mantém firme. Como eu mesma citei na crítica que fiz sobre o filme, tendemos a achar que o amor significa ficar com alguém até o fim, em Mommy vemos que o amor pode ser fazer o mais difícil e deixar a pessoa ir. E essa é a principal lição que essa mãe nos ensina.