Por Lívia Fioretti
“Nunca nos esquecemos das coisas, apenas nos deixamos de lembrar delas.” – Haku
Para começar esse texto vou precisar voltar uns 13 anos no passado. Eu sempre fui viciada na cultura oriental de uma forma geral, talvez porque desde criança tenho olhinhos levemente puxados e sou chamada de mangá pelos meus amigos e família. Bom, na época em que saia gritando pela casa com cartas de baralho na mão fingindo ser a Sakura Card Captors, ia bastante ao cinema com minha madrinha e meus primos (sou a mais velha de seis netos). De todos os passeios, o mais marcante foi quando vimos uma animação japonesa (quem será que escolheu?) que se tornou imediatamente meu filme favorito (e fez meu irmão e meu primo, na época com 5 anos, morrerem de medo). Assisti à Viagem de Chihiro novamente só com 20 anos, e preciso dizer que depois de aulas de semiótica e interpretação de linguagem (valeu, publicidade!) foi como assistir a um filme completamente diferente.
Lançado no Brasil em julho de 2003, o filme se chama originalmente 千と千尋の神隠し(também não entendeu? A tradução literal é algo como O arrebatamento de Sen e Chihiro), e também é bem conhecido por Spirited Away, já que ocupa a posição #36 entre os 250 melhores filmes já produzidos, segundo o IMDB. A obra fez tanto sucesso que foi o primeiro longa de animação a ganhar o Urso de Ouro no Festival de Berlin em 2002, além de levar o Oscar de Melhor Animação no ano seguinte (além de mais 35 prêmios e 19 indicações… Impôs respeito, né?).
Escrito e dirigido por Hayao Miyazaki , o filme conta a aventura vivida pela jovem de 10 anos, em um mundo paralelo. No processo de mudança de cidade, a família de Chihiro acaba atravessando um portal que os leva para um mundo comandado por deuses, espíritos e bichos esquisitos. Graças aos seus pecados (que comece a análise semiótica!) os adultos são transformados em porcos, o que faz com que a menina precise trabalhar em uma casa de banhos para salvar seus pais. Chihiro conquista e desperta o lado humano dos seres com quem passa a conviver, construindo fortes laços com o misterioso Haku e outras importantes personagens.
Eu, particularmente, aproximo muito a trama do filme com outro clássico apaixonante: Alice no País das Maravilhas. As duas menininhas possuem as mesmas características, idade semelhantes e enfrentam de cabeça erguida os desafios de estar em um mundo ao qual não pertencem. A principal diferença é que Alice explora o mundo novo com muita curiosidade e fibra (tanto que enfrenta a Rainha de Copas), sempre mantendo a calma e tentando provar a si mesma que ainda possui características de seu real; enquanto Chihiro, por ser mais tímida, aceita sem pestanejar as ordens da bruxa Yubaba (que comanda a casa de banhos) e deve muito à Haku por ajuda-la a manter sua humanidade, vindo a tomar coragem e conquistar corações a sua volta pouco a pouco.
O filme tem tamanha força que abre silenciosamente uma discussão sobre a sociedade, sete pecados, religião e racismo; além de ter conseguido milhões de fãs que pediram por uma continuação da obra e/ou criaram Fan Fics com base nos personagens da obra.
Veja o trailer: