Jean Pierre Leáud retorna em Beijos Proibidos (1968) para uma de suas melhores performances como Antoine Doinel – personagem criado por François Truffaut e que interpretou em mais quatro filmes – arrebatando novos admiradores desse trabalho e agradando mais ainda os que já o conheciam desde Os Incompreendidos (1959) e Antoine e Collete (1962).Ao ser expulso do quartel por indisciplina, Antoine tenta reestruturar sua vida profissional e amorosa passando por enormes percalços em ambas e se envolvendo em uma série de desventuras típicas de uma juventude cheia de dúvidas e inseguranças. Enquanto tenta se acertar profissionalmente ele vive as voltas com um complicado romance entre ele e a violinista Christine Darbon (Claude Jade) que insiste em evitá-lo, sempre hesitante em seus encontros. Mesmo com as incertezas sobre amor e carreira, Antoine à medida que troca de emprego também vai se aliviando nos braços de prostitutas, na busca de uma fuga para sua complicada situação. Depois de um fracasso como empregado de um hotel ele consegue uma chance de se retratar trabalhando numa agência de investigação, e fica incumbido de se infiltrar e espionar os funcionários de uma loja de calçados a fim de descobrir o que eles falam de seu patrão na sua ausência. O que Antoine não sabia era que mais uma vez ele seria fisgado pelo amor e por mais uma vez ele se encantaria pela pessoa errada por se tratar da esposa de seu atual patrão.
Truffaut utiliza em Beijos Proibidos técnicas da Novelle Vague como os enquadramentos verticais nas cenas em que os personagens ganham destaque em metade da imagem. O movimento rápido da câmera na direção de um ponto ou objeto da imagem (como uma janela, por exemplo) – denominado travelling – é também usado em alguns momentos do longa. Essa aproximação antecipa o ambiente onde se dará o ato que virá a seguir. O que também chama atenção são as cenas filmadas através de vidros e espelhos onde não há como decifrar o diálogo dos personagens, mas há uma representação fiel de suas expressões, o que permite ao espectador construir essa interação em sua mente.
Se atendo principalmente às fraquezas e dificuldades do protagonista Antoine Doinel, Truffaut se mostra mais uma vez autobiográfico assim como assumidamente o foi em Os Incompreendidos. O fato de Antoine ser expulso do quartel remete à sua juventude quando serviu o exército vindo mais tarde a se tornar desertor. Em outra cena o próprio Antoine parece tentar se identificar, se encontrar, repetindo insistentemente para si seu nome em frente ao espelho.
É praticamente impossível assistir a Beijos Proibidos e não se simpatizar pelo personagem Antoine Doinel presente em outras quatro obras de Truffaut: Os Incompreendidos (1959), Antoine e Collete (1962), Domicílio Conjugal (1970) e Amor em Fuga (1979). A sua instabilidade e ingenuidade contribuem para seu estigma de anti-herói e despertam o interesse do espectador por toda essa saga no intuito de saber onde ele vai parar com esse comportamento. No segundo filme dessa sequência Antoine é surpreendido várias vezes pelas ironias da vida e Truffaut nos mostra que mesmo em meio a tantas adversidades e indefinições o inesperado pode sempre nos surpreender, e às vezes nos esquecemos que o tempo pode ser nosso amigo abrindo lacunas e permitindo – ainda que por alguns instantes – que as mais improváveis histórias de amor possam acontecer.
Beijos Proibidos foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1969, mas foi superado pelo russo Guerra e Paz (1967).
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