Sabe aquela vontade que bate às vezes de querer enganar o tempo? De dar uma esticadinha em alguns momentos e fazer parecer que o mundo não está te puxando pro piloto automático? Aquela sensação de ter o poder de segurar o ponteiro do relógio? Pois é. Após 5 anos de seu lançamento, é dessa sensação que me lembro quando reassisto Boyhood, ou quando coloco sua trilha sonora pra rodar.

Quem cresceu lá nos anos 1990 acompanhando histórias de crianças/ adolescentes em séries de tv como, por exemplo, a incrível Anos Incríveis (1988), conhece essa sensação de desacelerar o tempo. Consegue imaginar como seria colocar em um disco momentos marcantes da infância à juventude de um garoto sonhador norte americano no início dos anos 2000.

Nostalgia dos anos 2000 também pode? Numa época em que as pessoas adoram lembrar de épocas, ouvir essa trilha é relembrar o clipe da praia, de Yellow, do Coldplay. Ou pensar no filme do diretor Richard Linklater, que também soa nostálgico, com essa música tocando na cena inicial e o garoto Mason (Ellar Coltrane – esse sobrenome <3) viajando, olhando para o céu – há quanto tempo você não faz isso, não é mesmo?

 

Ou quem sabe ainda relembrar rodinhas de violão no verão – quem nunca? – ao ouvir a Summer Noon, do Jeff Tweedy? Talvez seja só o clima mesmo ou pode ser que as músicas puxem outras memórias. Could We, da Cat Power, me remete à The Greatest, que é daquelas canções inesquecíveis, e que me lembra Um Beijo Roubado (2007), de Wong Kar-Wai. Mason e sua turma pedalando ao som de Hate to Say I Told You So, do Hives, me lembra The Suburbs, do Arcade Fire (aquele vídeo do Gondry), de 2010. E a música desse disco do Arcade Fire que aparece na trilha é Deep Blue, numa subida de créditos mais emocionante do que quando o filme é da Marvel.

Richard Linklater produziu a trilha de Boyhood em parceria com Randall Poster. E de 2014 pra cá, Randall Poster também trabalhou na sonorização de filmes como Grande Hotel Budapeste (2014), Carol (2015), Jovens, Loucos e Mais Rebeldes (2016) – outro filme de Linklater –  Ilha dos Cachorros (2018) e das séries The Walking Dead (2015) e Vinyl (2016). Mais e mais memórias associadas a tantas produções e tantas horas em frente à telona ou telinha, em casa ou no cinema. Sempre com um som de primeira ao fundo.

Linklater fala das escolhas para a trilha e do poder da música pop para os jovens

E além de todas as referências musicais, em Boyhood Ethan Hawke dá uma palhinha das músicas Ryan’s Song e Split the Difference. É claro que incluímos esses sons na nossa playlist.

É trilha com cheiro de road movie e nostalgia. Talvez ao curtir esses sons você vá atrás de outros trabalhos de Randall Raper, principalmente aqueles em parceria com Wes Anderson. Ou quem sabe você busque também outros filmes do Linklater. Ou a série Anos Incríveis, com aquela trilha que parece já vir com teia de aranha. Aí, é um caminho sem volta. Mas, pode ser também um caminho cheio de voltas. A volta do que não foi, mas sempre volta. Seja no cinema, no seu fone, no seu radinho ou só na memória mesmo.

Bota pra tocar aí. E boa viagem!