Por Joyce Pais
Toda história de sucesso tem um ponto de partida. Certo? Grandes diretores de cinema, nomes respeitados pelo público, também precisaram dar os seus primeiros passos rumo a consagração. Reuni alguns projetos estudantis de cineastas (nem todos estudaram cinema) como Scorsese, Lynch, Kubrick, Polanski, Cronenberg e notei que muitos deles já revelavam, desde os primórdios, os traços estilísticos que viram mostrar em sua obra futura.
Algum diretor ficou fora da lista? Comente e nos dê dicas também, 🙂
Martin Scorsese – What’s a nice girl like you doing in a place like this?
Scorsese começou a estudar cinema na NYC em 1960. Este é o primeiro curta e nele já podemos ver como são utilizados alguns dos recursos cinematográficos que se tornariam sua marca registrada: o uso da voz em off, edição e os movimentos fluidos de câmera. o curta introduziu assuntos para outros de seus trabalhos como It´s not just you, Murray! (sua primeira abordagem da máfia) e The Big Slave (uma história anti-Vietnã).
Brian De Palma – The Wedding Party
De Palma conseguiu a façanha de ter em seu primeiro filme estudantil Robert De Nito em sua primeira aparição nas telonas, que ainda por cima foi citado equivocadamente nos créditos como “Robert Denero”. O curta mostra o amor que o diretor tinha pela Nouvelle Vague e o cinema mudo, algo muito diferente da atmosfera de filmes posteriores como Scarface e Carrie – A Estranha, por exemplo.
Roman Polanski – The Fat and the Lean
Depois de chegar a Polônia como refugiado durante a 2° Guerra Mundial (sua mãe morreu em Auschwitz), Polanski ingressou na National Film School, em Łódź. Ele dirigiu vários curtas entre os anos de 1957 e 1959 e The fat and the Lean é o último curta que realizou antes de sua estreia com Knife in the Water e é visto por muitos como uma homenagem a Samuel Beckett, dramaturgo e escritor irlandês.
David Cronenberg – Under the Drain
Em 1963, Cronenberg se inscreveu no programa de ciência da Universidade de Toronto, mas depois migrou para o programa de Literatura Inglesa. Aí você deve estar se perguntando como um sujeito aparentemente avulso despertou para o cinema? Quando viu o filme Winter Kept Us Warm, de David Secter, Cronenberg decidiu aprender tudo o que pudesse sobre como fazer um filme, o que o levou a fundar a Toronto Filme Co-Op com Ivan Rietman (Ghostsbusters). O cineasta canadense dirigiu dois curtas em 16mm, Transfer e Under the Train, sobre dois loucos aterrorizados por um tentáculo que vinha do ralo.
David Lynch – Six Men Getting Sick (Six Times)
Desde seu primeiro trabalho, Lynch mostrou que era um ‘ponto fora da curva’. Em Six Men não há roteiro, o curta é formado pelo looping de uma macabra animação e foi feito quando o diretor estudava na Academia de Artes da Pennsylvania, com uma câmera 16mm em um quarto de hotel. O excêntrico diretor animou quadros que depois projetou sob uma tela que incluía moldes de gesso de seis cabeças. Ele contou ter gasto apenas 200 dóllares na produção. Lynch fez mais três curtas, antes de seu debut com o surreal e também perturbador Eraserhead, são eles: The Alphabet, The Grandmother e The Amputee.
Darren Aronofsky – No Time
Aronofsky estudou antropologia em Harvard antes de iniciar seus estudo cinematográficos. Seu trabalho Supermarket Sweep lhe rendeu um prêmio e fez entrar na AFI Conservatory, onde dirigiu uma série de três curtas. O primeiro, Fortune Cookie, uma adaptação de uma história de Hubert Selby Jr. (autor de “Réquiem para um sonho”), e Protozoa, protagonizado por Lucy Liu e a bizarra comédia No Time.
Christopher Nolan – Doodlebug
Antes de Batman e A Origem, Nolan era um jovem estudante de literatura na University College, de Londres, mas seu interesse não se limitava aos livros. Ele foi presidente do cineclube da Universidade – onde começou a exibir seus primeiros curtas, Larceny e Tarantella. Mas foi Doodlebug que antecipou os jogos mentais que o diretor iria desenvolver em filmes posteriores como Amnésia, filme que o alçou a fama quando lançado.
Paul Thomas Anderson – The Dirk Diggler Story
Quando tinha 17 anos, PTA decidiu fazer um falso documentário sobre um ator pornô chamado The Dirk Diggler Story (que mais tarde tomaria corpo em Boogie Nights). Embora ele tenha começado a estudar cinema na NYC, ele abandonou o curso em dois dias. Pegou emprestado o cartão de crédito de sua namorada, o dinheiro que havia ganhado em apostas e dez mil dóllares que seu pai havia guardado para sua universidade, para financiar um curta chamado Cigarrettes & Coffee, com o qual ganhou um lugar no Sundance Director´s Lab. Posteriormente, esse curta seria a base de Hard Night, seu primeiro longa.
Andrei Tarkovsky – The Steamroller and the Violin
Depois da escola, Tarkovsky trabalhou como geólogo, mas logo entrou no Instituto Estatal de Cinematografia de Moscou. Seu primeiro filme estudantil, The Killers, foi uma adaptação de um conte de Ernest Hemingway, sendo esta a primeira vez em que foi permitido um trabalho da escola baseado em uma obra estrangeira. Depois colaborou em uma filme propagandístico chamado There will be no leave today, mas seu primeiro trabalho sozinho foi The Steamroller and the Violin, o qual permitiu sua graduação com honras.
Stanley Kubrick – Day of the Fight
O documentário Day of the Fight, de 1951, é a primeira filmagem de Kubrick, baseada em um trabalho fotográfico que realizou para a revista Look. Aos 23 anos financiou o projetocom sua poupança, o qual levou o diretor a realizar um segundo curta documental chamado Flying Padre, sobre um sacerdote que viaja de avião visitando pessoas do Novo México. Quando fez seu terceiro e último curta, ele já se dedicava por completo ao mundo do cinema.