Por Felipe Teixeira
A série Fargo encerrou sua primeira temporada recentemente na TV americana e já pode ser incluída na lista de programas da chamada Era de Ouro da televisão. Excelente, a produção da FX, de apenas 10 episódios e ainda sem data para chegar ao Brasil, tem como uns de seus produtores-executivos os premiados Irmãos Coen, que também foram os diretores, montadores, roteiristas e produtores do aclamado filme no qual a série é baseada. A coluna InDica de hoje fala sobre o longa-metragem Fargo – Uma Comédia de Erros, um dos melhores trabalhos de Ethan e Joel Cohen.
A história do filme se passa em 1987, no estado de Minessota, onde se encontra a gelada e pacata cidade de Fargo. Lá vive Jerry Lundegaard (William H. Macy), um frustrado pai de família que contrata dois bandidos para sequestrar sua própria esposa e conseguir o dinheiro do resgate através de seu sogro. A premissa absurda ganha contornos tragicômicos ao longo do filme à medida em que as coisas saem cada vez mais erradas no plano de Jerry. Em uma destas falhas na execução do sequestro, a polícia de Fargo é acionada e conhecemos a carismática policial Marge Gunderson (Frances McDormand), que começa uma investigação sobre o desastrado crime.
Dentre as inúmeras qualidades da produção, o roteiro dos irmãos Coen é o grande chamariz. A primeira sequência do filme, em que Jerry combina com os mercenários Carl e Gaear o sequestro de sua mulher, de cara já apresenta alguns dos méritos do roteiro: personagens marcantes e bons diálogos, que tomam rumos inesperados de uma forma cômica, além da trama diferenciada. Outra forte característica do roteiro é o humor negro, empregado durante as cenas mais pesadas (como na parte em que a mulher de Jerry corre de um lado para ou outro com um saco na cabeça). O sotaque arrastadíssimo da maioria dos personagens, típico do interior dos Estados Unidos, somado aos diálogos afiados dos Coen, são capazes de gerar risadas diante de situações inusitadas. Desta forma, devido a seus personagens excêntricos e a muitas piadas fora de hora (como quando Marge quase vomita investigando um duplo assassinato), cenas violentas acabam tornando-se mais leves, o que confere ao filme um interessante um tom de comédia, apesar dos eventos sombrios.
Além disso, as atuações de todo o elenco são dignas de aplausos. Steve Buscemi, com sua voz fina e corpo franzino está perfeito como o perigoso sequestrador Carl Showalter, assim como Peter Stomare como seu calado parceiro Gaear. Mas são William H. Macy e Frances McDormand, que venceu o Oscar de Melhor Atriz pelo papel, os grandes destaques. William, com seu olhar perdido e a voz gaguejante, consegue gerar pena, indignação e risadas no espectador com seu fracassado Jerry, que desespera-se cada vez mais conforme seus planos de ficar rico saem pela culatra. E Frances, que só surge em cena com cerca de 20 minutos de projeção, com o sotaque marcante e uma barriga imensa, constrói uma personagem carismática e determinada, que gera uma enorme empatia e conquista a audiência em pouco tempo.
Por fim, a direção de Ethan e Joel Coen, com muitos planos abertos e demorados, aliados a todas as relatadas peculiaridades de roteiro e atuações, fazem de Fargo um filme diferenciado, com uma identidade própria. A série baseada no longa expande a história, acrescenta personagens e modifica a trama, mas respeita a atmosfera construída pelo filme de 1996 e ainda faz claras referências a ele, repetindo até mesmo alguns planos. O elenco formado por Martin Freeman, Billy Bob Thornton e Allison Tolman também é excepcional, assim como os novos personagens, com destaque para Lorne Malvo, interpretado com perfeição por Thornton, são muito interessantes. Com um filme e uma série derivada de tão alta qualidade, só nos resta agradecer aos irmãos Coen por mais esse grande trabalho.
Veja o trailer: