Laranja Mecânica, obra criada por Anthony Burgess em 1962, é comumente descrita como uma fábula sobre bem e mal. O livro também versa sobre os limites entre natureza humana, condicionamento social e o real significado de liberdade e livre-arbítrio.

Vale conferir a primeira adaptação da obra para o cinema, Vinyl, feita por Andy Warhol em 1965. Contudo, Stanley Kubrick foi o responsável por promover definitivamente Laranja Mecânica (crítica aqui) à ícone do universo pop. O diretor criou um hype que ultrapassa a geração que viu seu lançamento em 1971.

Alex DeLarge é o protagonista da história, um adolescente violento e indisciplinado, típico chefe de gangue da decadente Londres criada por Burgess. Atos e mais atos de criminalidade e a traição de seus amigos fazem com que Alex seja preso. 

Laranja Mecânica e behaviorismo

Na cadeia, ele é selecionado para ser cobaia de um novo método Ludovico de reintegração e condicionamento social. Por ele, Alex é impelido a ter aversão à todos os atos de crueldade que cometia, como uma espécie de lavagem cerebral. Sem o livre arbítrio e com essa bondade imposta, cria-se um conflito moral entre escolha e imposição. Pensando de maneira Behaviorista, isso deveria corrigir seu desvio social.

O behaviorismo é um conceito proposto pelo psicólogo americano B. F. Skinner e é a filosofia da ciência do comportamento humano, entendendo que o meio ambiente é responsável por este comportamento. Os aspectos intelectuais, segundo este pensamento, não são considerados, pois o homem é visto como um ser vazio de corpo e mente. Os estímulos dados aos indivíduos pelo meio ambiente eram os responsáveis por moldar o comportamento e podem ser descritos como: punição, reforço positivo e reforço negativo. 

Burgess ataca o behaviorismo por sua falta de interesse no homem interior, na vida subjetiva e na alma. Alex, submetido à esta técnica, fica sentado, inerte, ladeado e esmagado igualmente por duas das mais importantes “forças” sociais: o Estado e a Igreja.

Laranja Mecânica

Alex depois do método Ludovico

O que Kubrick não mostrou

No filme de Kubrick a terceira parte da história foi cortada. Nela, Alex surge mais velho, renunciando à violência, apesar de percebermos que o método Ludovico foi revertido. Para Burgess importava primordialmente falar sobre a escolha moral e teológica de Alex de ser ou não um criminoso. 

O que Kubrick e Burgess nos propõem não é uma elegia à violência, como foram acusados. Ambos buscam retratar esse traço exatamente como uma atitude amoral de Alex e sua gangue. Eles não fazem por qualquer motivo específico, a favor ou contra nada, é simplesmente o ato de fazer, sem conotações morais ou de com algum sentido.

O filme Laranja Mecânica e outras obras de ficção-científica são abordadas no curso Panorama do Cinema Distópico, ministrado pelo professora Thais Lourenço. Mais informações no banner abaixo.

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