Por Lívia Fioretti

“Let me take you down, ‘cause I’m going to Strawberry Fields. Nothing is real and nothing to get hung about, Strawberry Fields forever.”

Gostaria de entender o que existe de tão especial em morangos. Sério. São frutinhas deliciosas, realmente, mas por que são tão inspiradoras? Beatles, Caesars, Apples in Stereos, Coldplay… E por fim, Ingmar Bergman.

Morangos Silvestres (Smultronstället. Oi?) é um filme de 1957 dirigido por Ingmar Bergman que se passa durante a viagem do egoísta Isak Born e sua nora, Marianne, para que o senhor pudesse receber um premio pelos seus 50 anos de profissão. Durante o trajeto, os viajantes param quatro vezes, abrindo as portas para mochileiros e lembranças de um tempo que passou.

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Existe muita polêmica em torno do filme. Ele realmente é tudo o que falam? O filme é adorado por críticos e insta-cultos de plantão que adoram exaltá-lo, dedicando páginas e páginas de textos e análises sobre ele… mas você dormiu no meio. Não se sinta culpado, você não foi o único. O filme possui uma estrutura simples, composta principalmente por tomadas de plano americano sobrepostas por tomadas em close-up e super close.

Outro ponto é que muitas pessoas não entram na trama por ela abordar temas muito densos por meio de diálogos intensos, como por exemplo, religião e a existência de Deus. A reflexão de Isak sobre seu passado permeia a trama em todos os momentos, deixando o espectador com sentimentos confusos em relação ao protagonista: raiva, dó, compaixão ou admiração? Através desta reflexão, Bergman nos faz repensar sobre nossas próprias atitudes, sejam elas no passado ou futuro.

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Existe uma cena em especial que é um prato cheio para cinéfilos semióticos ao redor do mundo: o sonho. Tive uma aula específica para a análise desta na faculdade, e se ficasse aqui tentando explicar significante e significado, garanto que você apertaria o X vermelho lá de cima em um pulo, então tentarei ser breve. A passagem é extremamente sombria e dolorosa, mas importantíssima para a trama já que Isak Borg revive grandes frustrações conforme seu subconsciente aflora. Por meio da cena, já no começo do filme, o médico tem sua verdadeira identidade revelada, quebrando a máscara criada por ele de “melhor amigo da humanidade”.

Concordo que podem não ser os 91 minutos mais fáceis, mas este é um filme que com certeza deve entrar para ser repertório: ciência, ética, infidelidade, relações humanas… e perdão. Muito perdão.

Você não sabia que…

– O filme é a última aparição de Victor Sjöström nas telonas, ele morreu em 1960, três anos após o lançamento de Morangos Silvestres.

– Uma das maiores característica de Isak, seu isolamento, é um reflexo do fato de Bergman ter escrito o roteiro enquanto estava internado no hospital.

– O roteiro foi escrito já com Sjöström no papel principal. O ator aceitou o convite relutantemente, com a condição de que estivesse de volta à sua casa às 5 da tarde para tomar sua dose diária de uísque.

– O que o médico escuta no sonho é “A doctor’s first duty is to ask for forgiveness.” (a primeira função de um médico é pedir perdão).

Confira o trailer: