Wes Anderson é muito tímido. Talvez você não perceba isso durante suas entrevistas, mas o diretor fala apenas sobre seus filmes e nunca entra em assuntos pessoais. Este comportamento tão reservado pode ser um indicativo de que a parte mais interessante de sua vida acontece durante a produção de um longa. Por conta disso, o cineasta procura tornar seus sets agradáveis e convidativos.
Anderson assina 10 filmes, incluindo o ainda não lançado The French Dispatch, além de curtas e peças publicitárias para marcas como Prada, H&M e Sony. Em todos os seus títulos encontramos temas recorrentes como um saudosismo da infância, relações familiares conturbadas e uma tendência para histórias tragicômicas.
Dono de um cinema acessível, Anderson é figurinha carimbada em premiações como o Oscar (seus filmes somam um total de 15 indicações) e festivais como Veneza e Berlim. Em seus títulos, é comum vermos um mesmo grupo de atores que inclui Owen Wilson, seu colega de quarto na faculdade e amigo para vida, Bill Murray, Angelica Huston, Willem Dafoe, entre tantos outros.
Em nosso instagram, abordamos as principais características do cinema do diretor e logo abaixo você confere outras marcas inerentes a Wes Anderson:
A escrita de roteiros de Wes Anderson
Wes Anderson gosta de ter o controle absoluto sobre todos os aspectos de seus filmes desde o começo até a pós-produção. Por conta disso, ele sempre escreve ou co-assina os roteiros dos longas.
O realizador não limita sua imaginação com base no orçamento. Ele escreve o que deseja e depois adapta as cenas de maneira que se encaixem no orçamento estipulado. Ainda que busque inspiração em livros e outros filmes, Anderson escreve suas próprias histórias. As películas conduzidas por ele têm uma grande quantidade de informação, diluída em uma narrativa simples.
Muito disso acontece porque o diretor não mantém suspense quanto às informações cruciais para a trama. Anderson apresenta tudo o que o espectador precisa saber sobre o universo da narrativa logo no começo. Seu maior interesse é que o espectador compreenda facilmente a história, mesmo que ela pareça um tanto expositiva.
Wes Anderson e a mistura de gêneros
Os bons roteiros criados por Wes Anderson geralmente se encaixam no gênero das comédias agridoces inspiradas na screwball comedy e na comédia pastelão. O humor criado pelo diretor aborda tanto a crítica social, quanto a autocrítica ardilosa. Anderson entende que uma boa comédia visual surge a partir de situações comprometedoras ou contraditórias e é isso que faz em seus filmes.
A situação cômica padrão de Anderson parte de uma abordagem minimalista, o que obriga seus personagens a se tornarem secamente cômicos em situações profundamente dramáticas como crianças perdidas, amantes separados e guerras.
Trabalhando dentro do gênero e com influências que vão de Orson Welles a Akira Kurosawa, seus filmes se tornam um escapismo com conteúdo. As tramas não são as mais intrincadas, mas as histórias possuem uma estrutura interessante e permanecem em nossa memória.
As famílias disfuncionais e o resgate da infância
Profundamente marcado pela separação dos pais quando tinha oito anos, Wes Anderson trabalha este trauma em seus filmes. Muitos dos problemas dos personagens são originados a partir da disfuncionalidade em suas relações familiares. Eles podem ter vergonha dos pais, como Max Fisher em Três é Demais, não conseguirem demonstrar afeto, como os Tenenbaum, e serem emocionalmente distantes, como os irmãos em Viagem a Darjeeling e Steve Zissou em A Vida Marinha de Steve Zissou.
É dentro das famílias disfuncionais que o diretor desenvolve o entretenimento. As relações conflituosas entre os membros geram cenas que podem ser tanto dramáticas quanto cômicas. Ao final, as tramas não escapam do irresistível final feliz e reforçam a importância dos laços familiares, independente de como sejam.
O visual Wes Anderson
Contudo, talvez o que torna os filmes de Wes Anderson mais facilmente reconhecíveis são seus recursos visuais. O cineasta cria um verdadeiro mundo paralelo em seus títulos, onde as cores e o design de produção assumem grande importância.
A sensação, muitas vezes, é a de que entramos em uma casa de bonecas. O alto grau de requinte e detalhe nos da a impressão de que aqueles ambientes são habitados por outros personagens peculiares que não são mostrados pela câmera. De forma coesa, os cenários, os objetos de cena e também os figurinos dizem muito sobre personalidades, relacionamentos e conflitos entre os personagens.
Já na paleta de cores, sempre dois níveis acima do que se esperaria, existe uma forte influência da Art Nouveau. Tal característica dá aos ambientes um certo ar de livro infantil ilustrado, ou de uma maquete, artificio muito usado por Wes Anderson no design de produção.
Cada filme possui sua própria linguagem cromática, com uma cor que se sobressai e outras que a acompanham. O Fantástico Sr. Raposo, por exemplo, possui tons predominantemente terrosos e amarelos. Já o rosa é dominante em Grande Hotel Budapeste e o dourado em Os Excêntricos Tenenbaums.
Com uma forte preferência por tons pastéis, Wes Anderson e sua equipe também utilizam as cores com função narrativa e paletas diferentes são atribuídas a diferentes períodos históricos.
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Em entrevista ao jornal The Guardian, Wes Anderson atestou:
“Eu fiz vários filmes e é um luxo para mim que eles sejam exatamente o que eu queria que eles fossem”.
Ainda que uma parte da crítica enxergue apenas as qualidades estéticas dos longas do diretor, grande parte exalta os temas abordados como luto, perda e deslocamento. Independente disso, o certo é que, ao assistirmos a uma produção dirigida por Wes Anderson, sempre teremos a certeza de encontrar um mundo diferente do nosso, repleto de simetrias, peculiaridades e impulsividades emocionais. Um cinema afetivo que nos recebe de braços abertos em dias difíceis.
Você encontra o guia completo para os filmes de Wes Anderson aqui.
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