Na época do lançamento de O Senhor das Armas (2005) no circuito brasileiro, o país se preparava para a votação de um histórico referendo sobre a proibição da comercialização de armas e munições em território nacional, em que 63% dos votantes escolheram que não. E se o assunto não voltou a ser tão debatido por aqui desde então até 2019, com o massacre na cidade de Suzano e a intensa apologia às armas feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro,  nos Estados Unidos a pauta nunca deixou de ser recorrente. 526 mortes em 114 atentados causados por armas de fogo foram registradas apenas desde o início desta década no território americano.

O caminho que uma bala e uma arma percorrem da sua fabricação até as mãos (ou cabeças) de alguém e a milionária indústria que impele todo esse trajeto são o foco da trama de O Senhor das Armas. Na história, baseada em uma série de eventos e pessoas reais, Yuri Orlov (Nicolas Cage) é um negociante de armas que fica milionário se aproveitando do fim da Guerra Fria e do vasto armamento abandonado pela União Soviética, vendendo munições, tanques de guerra, e armas de todo o tipo para quem pagasse o maior preço em qualquer lugar do mundo.

Desde seus primeiros minutos, com um belo plano-sequência que ilustra o trajeto da munição das armas, da linha de montagem  em uma fábrica até o momento em que é disparada contra um ser humano em algum conflito na África, O Senhor das Armas é um filme didático ao extremo. Ao longo de toda a projeção do longa-metragem, o roteirista e diretor Andrew Niccol faz questão de deixar tudo bem claro ao espectador, mas na maioria das vezes de forma desnecessária.

A maior prova disso é a narração em off do personagem de Nicolas Cage, que comenta quase tudo o que acontece em tela com uma redundância irritante. Logo no início da trama, por exemplo, Yuri Orlov presencia um tiroteio pela primeira vez em sua vida e fica claramente chocado com a situação. Alguns segundo depois, vem o comentário óbvio: “aquilo me afetou”. Mas se já entendemos o nítido estado de choque do personagem ao vermos a reação de Cage, qual a necessidade dessa fala? Situações como essa se repetem exaustivamente ao longo da projeção.

Com uma estrutura narrativa pautada na típica ascensão e queda de homens ambiciosos envolvidos em situações arriscadas, O Senhor das Armas interessa mais por sua trama do que por seus personagens supérfluos. Pois se temos papéis clássicos como o de Bridget Moynahan como a esposa preocupada e enganada pelo marido; Jared Leto como o irmão inconsequente que atrapalha os negócios; e Nicolas Cage como o empresário que se recusa a perceber o grau de perigo de seu trabalho; é na crueldade do sistema belicista e de seus agentes que reside o grande impacto do filme.

O final de O Senhor dos Armas, lançado há quase quinze anos, angustia ao percebermos quão pouco avançamos na questão que se refere ao armamento civil. Pelo contrário, ele é ainda mais celebrado por “bancadas da bala” em diversas assembleias pelo país.

E como alertou um famoso personagem do cinema nacional, “ainda vai morrer muito inocente”.

A fotografia de O Senhor das Armas é abordada em detalhes no curso Direção de Fotografia, ministrado pelo professor Kiko Lourenço. Mais informações no link abaixo.

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