Por Breno Bringel
Indicado por Lucas Vezedek
O Show de Truman é um filme atemporal. Apesar de lançado no ano de 1998, os temas abordados por Peter Weir neste longa ainda se aplicam perfeitamente aos dias de hoje, e, provavelmente, ainda se aplicarão daqui a quinze anos.
O longa conta a história de Truman Burbank, o primeiro homem adotado por uma corporação televisiva, e protagonista de um reality show que cobre a sua vida inteira, 24 horas por dia, desde a gestação, sem o seu conhecimento. Truman vive em seu “mundo” especialmente construído para ele sem desconfiar de nada, até que este mundo começa, literalmente, a desmoronar.
Com uma interessante estrutura narrativa, Weir inicialmente nos apresenta ao programa de TV que dá título ao longa, para, somente depois conhecermos os telespectadores daquele programa e as pessoas responsáveis por transmiti-lo. A linguagem utilizada por Weir, nesse sentido, é bastante notável, pois com seus zooms e enquadramentos, além das entrevistas do elenco durante os créditos iniciais, nos sentimos assistindo, de fato, a um real programa de TV.
O ótimo designer de produção ajuda a criar, ainda, o “mundo perfeito” de Christof, criador do programa, a chamada ilha de Seaheaven, que com suas bonitas casas e seus jardins limpos e bem cuidados, não passa de uma vitrine onde tudo o que é exposto está a venda.
Mas o roteiro de Andrew Niccol não se conforma em apenas contar a história de Truman. O filme, por outro lado, usa essa história para tecer várias críticas, que vão desde a ganância dos imensos conglomerados televisivos, passando pela manipulação e alienação das pessoas pela mídia, sobretudo a TV até, obviamente, os reality shows. De fato, quando Christof, ao responder a pergunta de um repórter sobre o porquê de Truman não desconfiar da realidade em que vive, afirma que as pessoas tendem a aceitar “a relidade de mundo” que lhes é apresentada, percebemos qual a real intensão do longa.
Outro ponto notável do filme está no ótimo elenco encabeçado por Jim Carrey. Interpretando um Truman sorridente e simpático, mas que, por debaixo desta capa, é um homem melancólico e sozinho, Carrey, em seu primeiro papel dramático, apresenta o que muitos consideram a melhor atuação da sua extensa carreira.
Mas, sem dúvida, o melhor papel do longa é o de Ed Harris. Como Christof, idealizador do Show de Truman e diretor do programa, Harris imprime força e vulnerabilidade a um personagem extremamente complexo. Assim, Christof oscila entre o egocentrismo de se achar um Deus daquele mundo que ele criou e o paternalismo em relação a Truman, e, quando o vemos acariciar a tela do estúdio que exibe o rosto de seu “filho” notamos o quão emocionalmente apegado ele é de seu “ator” principal.
Encerrando o longa, ao ilustrar a famosa frase que afirma que “o céu é o limite”, Weir finaliza também uma pequena obra prima, que, ao ir além da superfície de sua história, levanta importantes questionamentos. Afinal, será que somos todos manipulados e não sabemos?