Confira a nossa breve opinião sobre os curtas Algo-Rhythm, Noite de Seresta, Panteras e Telas de Shanzhai , exibidos no Festival Olhar de Cinema:

Algo-Rhythm

Direção: Manu Lukshc | País: Áustria, Senegal, Reino Unido

Bastante inovador na forma, Algo-Rhythm se apresenta como uma disputa de hip hop onde se confrontam ritmos e de ideias políticas. Mas não é só isso: o curta apresenta uma disputa virtual, dentro do bug de um sistema (só mesmo vendo, pra entender). Por meio das rimas, vemos como é fácil controlar as pessoas pelas redes sociais. O discurso do “seja você mesmo” é escancarado como uma desculpa para monetizar vidas e glorificar a ideia do “sujeito autodeterminado do Ocidente”.

Em certo verso, um dos combatentes critica os políticos e exalta o governo algorítmico que poderia existir no futuro. Onipontente e onisciente, este ser digital seria um novo Deus, pois teria acesso a informações pessoais de todos os seus governados. A ideia é assustadora, mas a forma de apresenta-la, encantadora.

ALGO-RHYTHM

 

Noite de Seresta

Direção: Sávio Fernandes e Muniz Filho | País: Brasil

O ditado popular já afirma: quem canta, seus males espanta. É assim que Kátia, protagonista de Noite de Seresta, leva a vida. Cantora de karaokês no Ceará, ela sente que seu corpo e sua alma se expandem quando está no palco. O documentário acompanha uma noite (de seresta) na vida da cantora e contrapõe estas cenas com depoimentos de Kátia sobre suas aspirações, sonhos e dificuldades.

Carismática, Kátia é uma personagem muito comum em cidades do interior, especialmente no nordeste. O acalento que a música traz lhe concede a leveza necessária para encarar os problemas de cabeça erguida. Apesar de conter uma sequência com efeitos que atrapalham o andamento da história, Noite de Seresta é delicioso de assistir, justamente por dar protagonismo a uma personagem alto astral que tanto o merece.

Panteras 

Direção: Erkia Sanchez | País: Espanha

Em Panteras conhecemos Joana (Laia Capdevila) e Nina (Rimé Kopoború), duas jovens que vivem uma intensa fase de descobertas sobre seus corpos, seus desejos e o lugar que ocupam no mundo. A relação entre elas é ambígua e transita entre a amizade e o amor, algo reafirmado pelos enquadramentos e movimentos de câmera.

Ainda que seja focado neste casal, Panteras é inegavelmente protagonizado por Joana. Além de possuir uma alegria contagiante, ela exala uma curiosidade sobre o próprio corpo, gênero e sexualidade que vão além do julgamento alheio. O curta ganha pontos por abordar de maneira natural não apenas relações LGBTQIA+ como também situações vividas por mulheres.

Curtas Olhar de Cinema


Telas de Shãnzhài

Direção: Paul Heintz | País: França

Dessa leva de curtas, Telas de Shãnzhài é, sem dúvida, um dos mais reflexivos. O filme nos remente àquilo que Walter Benjamin chamava de “a obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Misturando realidade e ficção, conhecemos a realidade de pessoas que reproduzem pinturas de maneira massiva. Sejam os Girassóis de Van Gogh, sejam paisagens genéricas, existe um debate intenso sobre a fruição estética diante das realidades cada vez mais virtuais.

A criação artística, algo numa visão poética depende de inspiração e iluminação, é realizada quase de maneira industrial. Perde-se o gosto pelo processo e foca-se apenas na quantidade produzida. Aliado a isso estão os avanços digitais, que permitem que pessoas reproduzam paisagens sem nunca terem visitado tais lugares. Ao final, fica a questão: se estes artistas se sujeitam a isso é porque existe um mercado que demanda tais produtos. E isso diz mais sobre a banalização da arte por quem compra do que por quem a produz.

 

* Este texto faz parte da cobertura do Cinemascope sobre o Festival Olhar de Cinema

Para conhecer outros curtas do Festival Olhar de Cinema, confira a programação.

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