Penas, curta-metragem de Paulinho Caruso e adaptado da obra homônima de Laerte Coutinho publicada na revista Chiclete com Banana em 1988, narra a história de um homem denominado no filme como “Novato” (Fabio Marcoff), que vai ao médico certo dia e descobre que a estranha protuberância em seu braço é uma pena nascendo dele mesmo.
No princípio tive medo.
Apesar do choque e do estranhamento inicial, segue normalmente com a sua vida de assalariado, redigindo relatórios. Com o passar do tempo, suas penas brancas crescem e vão tomando conta de seus braços, e começa a se acostumar com a ideia de ser diferente. Até que um dia no trabalho descobre por meio de seu chefe, que suas penas são as marcas dos escolhidos: o círculo voador. A partir da descoberta, passa a ocupar um cargo maior sob nova identidade, frequentando clubes exclusivos, com uma vida cercada de luxo, poder e glória.
Ambientado em São Paulo, a trama é dinâmica e diversas reviravoltas perpassam a história para explorar acima de tudo o medo e o poder através de uma situação de “ornitologia explícita” e surreal.
O que Laerte fez e Paulinho resgata em seu trabalho, é subverter o modo com que a sociedade lida com o que é diferente, com a alteridade. As penas servem aqui tanto como alegoria de liberdade, do sentir-se livre, quase em um sentido literal com o personagem voando pela cidade, como uma forma de diferenciação e estratificação social.
Essa anomalia que é ter penas começa como motivo de constrangimento ao atrair olhares curiosos e julgadores das pessoas ao redor e passa a ser motivo de orgulho e sucesso. Um modo diferente, lúdico e ácido de tratar de um tema como o que nos diferencia ou nos faz melhor ou pior que o outro. O curta conta ainda com a participação especial da dupla de cartunistas Laerte e Angeli no elenco.