Cinemascope pra ouvir?
É isso mesmo!
Bem vindo à nova coluna do nosso site. Trilhando é sobre música, cinema, produções, efeitos sonoros, ritmo, sincronia, composições, dissonância, harmonia e, é claro, trilhas, muitas trilhas!
É pra ver ouvindo e ouvir vendo. Pra começar, já dê o play ali embaixo e vem curtir um The Who com a gente!
Se você está lendo isso pode comemorar! Você tem a chance de existir na mesma época em que o The Who pisa pela primeira vez no Brasil, em mais de 50 anos de banda. Nada melhor do que estrear a Trilhando com uma das bandas de rock mais enérgicas de todos os tempos. Sim, falo de energia boa, explosão nos palcos, riffs e composições que vão além do ritmo, cadência e afinação.
Um dos momentos mais felizes para os fãs brasileiros do The Who foi quando em fevereiro desse ano o empresário Bill Curbishley confirmou em entrevista à rádio BBC que a banda finalmente desembarcaria na América Latina.
Não poderíamos deixar de comemorar esse momento histórico e escolhemos pra isso ouvir e falar das trilhas dos filmes Tommy, Quadrophenia e The Kids Are Alright.
As três obras trazem o The Who na sua melhor forma, com Keith Moon na bateria e John Entwistle no baixo. A banda segue sua trajetória atualmente sem a presença (pelo menos física) dos dois, mas a psicodelia e a energia vão junto com o Who seja por onde for.
Tommy (1969)
Um raro caso onde um disco se torna filme. Assim aconteceu com Tommy, álbum do Who de 1969, que deu origem ao filme homônimo de 1975, dirigido por Ken Russel. O resultado é no mínimo curioso. Você pode pensar numa história bem maluca se tomar como base as músicas que compõem uma das óperas-rock mais inusitadas da história do rock progressivo.
E o filme transpassa exatamente todas essas expectativas. Só conferindo mesmo pra se saber o que se passa em duas horas onde você ouve as canções de Tommy entrecortadas por pouquíssimos diálogos e muita psicodelia. Entre as participações especiais, Tommy conta com figuras como Elton John, Eric Clapton, Jack Nicholson e Tina Turner. Isso tudo ainda somado, é claro, às aparições dos membros do The Who, com destaque para Roger Daltrey no papel principal.
Ouvir o disco é percorrer entre faixas que contam a história do garoto que, após ver seu pai, um veterano de guerra, ser morto na sua frente, segue uma jornada complicada, cego, surdo e mudo até se tornar um campeão de fliperama, que jogava por puro instinto.
Ainda que o álbum tenha mesmo sentido com as músicas tocando enfileiradas e formando a narrativa da ópera-rock, algumas faixas são pinçadas do disco nos shows do The Who até hoje. Mesmo sozinhas, elas ganham vida construindo significado próprio, e já se tornaram grandes clássicos na trajetória da banda.
O disco já foi citado em outros filmes, como em Quase Famosos (2001). A faixa Amazing Journey dá nome ao documentário sobre a banda dirigido por Murray Lemmer e Paul Crowder, em 2007.
Quadrophenia (1973)
Certamente se o seu toca discos se cansar de rolar Tommy, quando você colocar Quadrophenia pra girar ele vai ter mais trabalho ainda. E isso vale pro seu Spotify também. Seus amigos vão se surpreender quando perceberem quanto tempo as músicas do disco ficarão rolando no seu feed. Após o primeiro play é difícil sair.
O filme de 1979 é dirigido por Franc Roddam e traz Phil Daniels no papel de Jimmy, um jovem membro da gangue Mod – garotos que saem por Londres bem vestidos e em suas vespas Lambretta.
Os jovens Mods travam uma disputa com os Rockers, com suas motocicletas e jaquetas de couro. Um retrato muito bem construído de uma época conturbada da Grã-Bretanha, onde jovens buscavam afirmação através da rebeldia em meio aos problemas do país somados às suas aflições pessoais.
A rebeldia do rock dos anos 1960 e sua influência sobre os adolescentes também é muito bem retratada em Quadrophenia, sem deixar de lado o comportamento racista e machista da juventude que acompanhava a ascensão de grandes bandas britânicas da época.
O som do The Who entra no meio disso tudo embalando a trajetória de Jimmy, fã da banda, apelidado pelos companheiros Mods de monkey. Seu visual com certeza serviu de inspiração para muitos. Impossível olhar pra ele e não notar a semelhança com Alex Turner, no início dos Arctic Monkeys. Ou seria o contrário?
Lembra alguém?
Quadrophenia (o disco) seguiu os passos de Tommy e também deu origem ao filme, que é um dos melhores dos três que apresentamos hoje nesse especial. O disco é uma das criações mais icônicas do The Who. Quem assinou a produção da segunda ópera rock da banda foi Kit Lambert, dono da pequena gravadora Track Records.
O filme/ álbum ainda deu origem ao documentário Quadrophenia: Can You See The Real Me? (2012), dirigido por Matt O’ Casey. Em 2012/13, a banda fez uma turnê pela América do Norte tocando o disco na íntegra.
The Kids Are Alright (1979)
Com The Kids Are Alright pinta uma dúvida se você quer mesmo ouvir a trilha sonora ou assistir ao documentário homônimo de 1979. Os dois são um retrato cru do The Who. A energia de que tanto falamos lá no início está presente em cada apresentação e na sincronia entre os 4 membros originais da banda, ao vivo.
Aqui a trilha sonora não segue a risca das óperas rock que citamos anteriormente. The Kids Are Alright é formado somente por pancadas sonoras com ritmo intermitente. O disco é ótimo pra quem quer penetrar no universo do Who, mas ainda não ouviu muita coisa a respeito da banda. E dá pra notar mais uma vez a influência do quarteto aparecendo como referências no cinema e na cultura pop. Você também se lembrou de Into the Wild ouvindo Magic Bus?
Se você chegar até a faixa 8 – Young Man Blues – não tem como voltar. No caso desse disco, prevalece a teoria de um ouvinte do programa radiofônico carioca Ronca Ronca, que disse que a faixa 8 é sempre a melhor de um álbum. No mínimo curioso isso!
Quem nunca viu o The Who ao vivo (o que ainda é exatamente o meu caso), mas já foi a um show do Pearl Jam – olha o Eddie Vedder aí de novo! – sabe o impacto que clássicos como Baba O’ Riley ou My Generation têm sobre um estádio lotado.
Antes de sair por aí atrás de um The Greatest Hits da banda pra cantar juntinho em um dos shows, assista/ ouça The Kids Are Alright e entenda a importância do The Who para o rock, para o cinema e para a história da música. E é claro que esses 3 discos que apresentamos são apenas uma amostra do que o bom e velho The Who é capaz.
Os três discos estão disponíveis na íntegra pra você ouvir pelo Spotify. Mas, pra você já sentir um pouco da vibe e da energia do The Who preparamos uma playlist especial com algumas pérolas retiradas desses três álbuns. Dê o play, coloque o volume no máximo e depois volte aqui pra contar pra gente o que achou do som.
Até a próxima. E toca The Who!