Há 30 anos vivemos num mundo sem Basquiat e há 22 chegava aos cinemas Basquiat – Traços de Uma Vida (1996). Eu cheguei no Cinemascope em 2013 e um dos meus primeiros posts foi sobre as artes plásticas no cinema. Além do filme do diretor Julian Schnabel, esse especial ainda contava com textos de filmes sobre a vida de Picasso, Frida, Modigliani, Renoir e Vermeer.

Me reconectei com Basquiat graças a mostra Jean-Michel Basquiat – obras da coleção Mugrabi, exposta no CCBB, em Belo Horizonte. Revirando o baú do Cinemascope e a discoteca de trilhas inesquecíveis, veio à tona essa raridade. Eu me lembrava do post, me lembrava bem do tom delicado do filme, mas essa trilha…que ouro!

Ao dar o play parece que abrimos a caixa de raridades de Basquiat. Depois da bela introdução “Van Gogh Boat”, com Michael Wincott, o som do Public Image já dá a ideia que a trilha não tá pra brincadeira. Public Image cara! É, ela mesmo. Uma das bandas de Johnny Rotten, a voz dos Sex Pistols. Depois dessa pedrada, uma versão insana de It’s All Over Now, Baby Blue. A sensação é: já ouvi essa voz em algum lugar. Mas peraí, é o Van Morrison! Putz! É, Van Morrison e o Them. Logo depois de muito fuçar, me deparar com toneladas de informações trocadas, cheguei a essa raridade aqui, o cara cantando com A Lenda:


A qualidade do vídeo não é das melhores, mas que momento! Quem tava filmando demorou 1:30 só pra focar. 1984. Microfonia pra todo lado. Até o amplificador ficou emocionado. Nesse momento amo Basquiat cada vez mais.

E não passamos ainda da segunda faixa. Enquanto os Toadies sapecam I’m not in Love eu já não sei mais onde isso vai parar. Tem fôlego ainda pra PJ Harvey na sequência? Mas é claro que sim. A White Lines do Grandmaster Flash dá uma destoada do resto até pra não deixar ser só resto. Na mosca esse som!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O diretor Julian Schnabel e sua equipe fizeram questão de misturar tantas referências e sons quanto fosse possível pra deixar a trilha com a cara de Basquiat. Talvez pra não focar muito no Public Image, a ótima Rise ficou a cargo do Tripping Daisy, só pra preparar terreno pro Joy Division na sequência. Esse trecho de These Days tem tudo a ver com a alma do artista:

Spent all my time, learnt a killer’s art.
Took threats and abuse ‘till I’d learned the part.
Can you stay for these days?

“She is Dancing” do Brian Kelly tem uma introdução com clima meio Sonic Youth e apesar de não seguir as distorções da turma de Lee Ranaldo e cia, lembra bem alguns trechos dos deliciosos 25 minutos desse clássico:

Como numa disputa de pênaltis, os maiores craques vão ficando sempre pro final. Mesmo escalando Van Morrison e o Them lá no início, Schnabel fez questão de deixar a cargo de Tom Waits, David Bowie (vish!) e John Cale a missão de fechar um disco que só tem uma coisa ruim: ele termina.

Temos todas as faixas no Spotify? Ainda não. Mas a gente fez o esforço de montar uma playlist com a maior parte das músicas, pra ir matando a curiosidade.

Dê o play aí e volta depois pra contar se você também ama Basquiat.