***** O TEXTO CONTÉM SPOILER *****

Por Domitila Gonzalez

Primeira constatação: eu não entendo patavinas de HQ. E como boa espectadora que sou, fiquei morrendo de medo de entrar numa sala de cinema pra assistir à continuação do THIS IS SPARTAAA! e trombar com uma adaptação de uma história que eu ia continuar não entendendo patavinas.

Resultado: paguei a língua e conferi um dos melhores filmes de guerra/aventura/história dos últimos tempos.

E aí, meu camarada, eu te digo: eu sei reconhecer um Lannister de longe. E aquela voz estava melodiosa demais pra ser de um reles mortal. Lena Headey deixa a pele da diva Cersei Lannister, de Game of Thrones, para vestir a couraça enlutada da viúva de Rei Leônidas – que Zeus o tenha –, morto numa emboscada junto com seus 300 de Sparta.

E da voz aveludada, com aquele sotaque LINDIMAIS, surge a figura imponente da rainha Gorgo já discursando para seus soldados, tendo como pano de fundo nosso rei-deus careca preferido de todos os tempos, aniquilando espartanos sem dó nem piedade: Xerxes Santoro.

E para os corações aflitos, digo de antemão: o filme já começa rock and roll. Aliás, rock and roll não: muita percussão nessa trilha sonora caracteriza a maioria das cenas de combate. É tanto tambor batendo pra tudo quanto é lado das caixas de som que eu lembrei da abertura de uma das Olimpíadas que tinha um monte de percussionistas saindo de buracos no chão, com aqueles tambores descolados, sabe?

Piadocas à parte, era para o filme se desenvolver cima de como Xerxes virou rei. Mas quando a gente conhece Artemísia (Eva Green – Sombras da Noite; 2012) todas as atenções voltam-se para a história da moça, que depois de ser abusada por trilhares de soldados gregos, renega todas as suas raízes. Acontece que filho de peixe – peixinho é. Resgatada por um guerreiro persa, a filha de Ártemis aprende a lutar como nunca se viu por esse mundão de meu Zeus e passa a jogar no time do rei Darius, pai de Xerxes, levando-lhe muitas cabeças de presente e, claro, sua lealdade.

Lendas pra cá, mandingas pra lá, o rei Darius morre, fatalmente atingido por uma flechada disparada por Temístocles (Sullivan Stapleton), general muy macho da Grécia. Todaschora depois disso. E com a ajuda de Artemísia, depois de algumas andadas pelo deserto, muito açúcar, tempero, tudo o que há de bom, e elemento-X, nasce Xerxes! O todo-poderoso-careca-divo-deuso que agir não age muito, mas manda e desmanda, comandando a ação como o rei da cocada preta, do alto de seus piercings na sobrancelha.

Aliás, falando em mandar e desmandar, não teve pra ninguém: até Cersei Lannister ficou no chinelo, comparada ao destaque que a franquia deu para Artemísia. Oh, rainha #bichamá! Eu torci pra ela, gente! O tempo inteirinho! Ganhou minha atenção como Ricardo III, no melhor estilo “VEMK que eu vou aprontar, mas eu te conto!”. Não tem pra ninguém nos arredores do mar Egeu. Mesmo com tamanha quantidade de sangue sendo espirrada de sua espada, nem o mocinho grego da capa esvoaçante ganhou dela no quesito carisma.

E se Edna Moda (Os Incríveis – Brad Bird; 2004) me ensinou que “nada de capa!”, meu querido professor Salinas (saudades!) me ensinou a nunca confiar em detalhes vermelhos. Capas vermelhas, então, nem pensar! Agora, bastou aparecer a capa azul em destaque (e a dica do título, claro!) que eu saquei que, mesmo eu sendo súdita fiel de Rainha Artemísia, o exército de Temístocles ia ganhar. Diferentemente do desastre dos 300 de Sparta, que morreram enrolados em suas capas vermelhas. – HA!

E olha… demorou pra coisa acontecer, viu? Apesar de as sequências de batalhas terem sido filmadas e editadas com uma qualidade impecável – ASSISTAM EM 3D! –, o ritmo do filme deu uma caída lá pelo meio e só foi retomar quando a esquadra de Temístocles começou a aprontar peripécias contra os soldadogros mascarados da rainha #bichamá.

Ela insistiu, ela lutou, mas nem mesmo o Smeagol de Notre-Dame conseguiu fazer com que ela vencesse.

Se tem uma coisa que a gente já tá cansado de saber nessa vida é: na Grécia ou nos Sete Reinos, nunca, jamais, never, ever, em hipótese alguma, irrite um Lannister. E é com o discurso de fúria retomado do começo do filme que Cersei Gorgo reúne os soldados espartanos e os coloca na guerra ao lado dos gregos. O povo surge no meio do Mar Egeu, com a batalha quase perdida e derrota os ogros numa gritaria sem fim, com direito a mais sangue voando, babas escorrendo pelo canto da boca e o último suspiro de diva Artemísia justamente na hora em que a frota de Gorgo vem chegando.

Apoteooooose, Braseel! Apoteoooose! A percussão cresce, a #bichamá morre, os navios afundam e Xerxes o que faz? Olha de longe e sai de fininho, deixando a porta aberta pra mais um filme sobre sua vida-deusa.

Agora, vamlá: o que eu falei sobre o 3D é sério. A qualidade com que tudo foi filmado é impressionante. Os efeitos foram muito bem encaixados e as cores ainda estão na mesma paleta do primeiro filme – bom para a continuidade, bom para a memória do espectador. Os figurinos são lindos e a edição me lembrou um pouco a da série Spartacus, alternando entre câmera-lenta e closes exóticos de batalha, o que transforma uma ida ao cinema em uma experiência épica e ainda mais incrível.

Palmas.

Cinemascope - 300 a ascensão do império poster300: A Ascensão do Império (300: Rise of an Empire)

Direção: Noam Murro.

Roteiro: Kurt Johnstad – baseado na HQ Xerxes, de Frank Miller

Elenco principal: Sullivan Stapleton, Jamie Blackley, Eva Green, Lena Headey e Rodrigo Santoro.

Nacionalidade: EUA

Gênero: Ação,  Drama, Guerra.

 

 

 

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