A angústia de um relacionamento fracassado em tempos de impermanência. Este parece ser um dos fios condutores que regem o enredo de 45 dias sem você; um filme nacional, de baixo orçamento, dirigido por Rafael Gomes.

O filme gira em torno de Rafael, um gay de classe média que acabou de sair de um relacionamento. Em meio a esse drama, o jovem decide viajar à Europa e nós somos convidados a embarcar nessa jornada ao lado dele. A viagem parece ser a válvula de escape que Rafael encontrou para superar o término de seu relacionamento.

O filme poderia ser mais um drama melancólico, mas ao contrário, tem um tom cômico e debochado. Uma comédia romântica gay, difícil de encontrar no cinema brasileiro. Esta é cheia de “resmungos” de um recém-adulto mimado, repleto de privilégios, que pode viajar à Europa somente porque terminou um relacionamento.

A obra tem como cenário diversas cidades: Londres, França, Coimbra, Lisboa, Argentina, etc. No trânsito fugaz de um cenário a outro, um fio une esses espaços: a amizade. Assim, conhecemos Júlia, Fábio e Mayara, amigos de Rafael que estão dispostos a retirá-lo da angústia de um relacionamento que acabou.

Com diálogos bem construídos, narcísicos e repleto de indagações existências, vemos menções que vão de Shakespeare a seriados de televisão; de Roland Barthes a filmes pop. As paisagens dão corpo aos diálogos que vão se intensificando ao longo da obra. A atuação dos personagens parece um pouco amadora no início do filme, mas logo ganha consistência no desenrolar da narrativa.

45 dias sem você é um retrato de certa juventude contemporânea. Uma juventude cheia de privilégios, com suas mesquinhices, feridas narcísicas, sem muitos propósitos na vida além do drama pequeno burguês. Ao mesmo tempo, o filme fala do nosso tempo, do modo como as coisas não se fixam. Também toca no mundo digital e globalizado, no trânsito de uma cidade a outra e como os relacionamentos, amorosos ou não, são impermanentes.

Nesse sentido, ao acompanhar o arco dos personagens, compreendemos que todos ali estão em busca de algo, mas nunca sabemos exatamente o que é. Esse drama ganha consistência em tempos em que os empregos não são mais fixos, (nunca sabemos com o que Rafael trabalha) e as certezas não são assim tão certas.  O futuro é vivido em um presente ininterrupto e imediato.

Esse permanente estado de dúvida também é reiterado no filme com a ausência do nome do ex-namorado de Rafael, aquele que não pode ser nomeado. Nem os espectadores, nem os amigos do próprio personagem sabem quem realmente é o seu ex-companheiro.

Como um todo, 45 dias sem você expõe um retrato bem humorado de um jovem gay, convivendo com seus amigos aspirantes a artistas, além de uma direção de fotografia e som bem realizada. No entanto, a ausência de uma reflexão crítica de determinados privilégios de classe, a inconsequência dos personagens diante às adversidades da vida e a síndrome de Peter Pan na qual os mesmos vivem pode incomodar um espectador mais exigente.

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45 dias sem você

45 dias Sem Você

Ano: 2019
Direção: Rafael Gomes
Roteiro: Rafael Gomes
Elenco principal: Rafael de Bona, Mayara Constantino, Orlando Seale, Ícaro Silva
Gênero: ​Comédia
Nacionalidade: Brasileira

Avaliação Geral: