Por Joyce Pais

 

Baseado na história real da jovem italiana Eluana Englaro que em fevereiro de 2009, após dezessete anos em estado vegetativo, foi decidido colocar fim a sua vida, o drama A Bela que dorme liga quatro histórias distintas, mas convergentes em um ponto: os dilemas que circundam a vida e a morte. Enquanto um senador luta para garantir uma lei pela qual ele discorda profundamente, sua filha, uma ativista a favor da vida, durante um protesto em frente à clínica de Eluana, se apaixona por Roberto, acompanhado de seu irmão no grupo oposto, que defende valores seculares. Uma atriz famosa recorre à fé e curas milagrosas na esperança de trazer sua filha de volta de um coma irreversível, dessa maneira, negligencia seu filho que anseia por seu amor. E a bela Rossa, perdida e desesperada, determinada a morrer, é salva por um jovem médico, Pallido, que a desperta para a vida.

Pra quem conhece o trabalho do exímio cineasta Marco Bellocchio, à primeira vista, pode se surpreender com A Bela que dorme. Seu cinema político de caráter ‘documental’, de cunho ‘investigativo’, ausente de trilha sonora, costuma se basear em casos da vida real para, na tela, provocar debates e reflexões sobre o sentido da vida, por exemplo. Neste longa, ele adota uma abordagem mais fluida e menos arrastado para levantar uma série de questionamentos em torno da eutanásia, mas logo se percebe que se trata de desdobramentos que vão muito além dessa prática médica.

Para escrever o longa, Bellocchio se baseou em sua infância, adolescência, família, educação católica, compromissos políticos, princípios morais, na importância da consistência intelectual e, finalmente, “na recusa em desistir de situações amedrontadoras, porém cheias de possibilidades de recuperação”. Durante as filmagens, grande parte do trabalho foi improvisada, embora geralmente seguissem os diálogos, eles foram cortados na edição. O diretor manteve o seu já conhecido estilo em deixar que as sequências fluíssem naturalmente, buscando alcançar um maior grau de realismo. Apesar da polêmica inerente à temática e a posicionamentos partidários que inevitavelmente o longa poderia cair, o diretor é enfático ao dizer que “não acredita que exista neutralidade na arte”.

Mais do que um drama político, o caso de Eluana levanta questões como o papel da mídia na formação da opinião pública. No caso do filme, a implacável cobertura da televisão propiciou um termômetro sobre as vidas dos protagonistas de cada história, que lidou com os seus problemas não resolvidos da forma como pode e se viu forçado a experimentar conflitos existenciais incômodos, no mínimo.

Marco Bellocchio é corajoso e honesto ao colocar em pauta questionamentos de ordem política em um país onde a religião é uma instituição parte do corpo que constitui a própria política. Bellocchio nos faz questionar nossos próprios valores, que acreditamos estarem enraizados e serem imutáveis, e mostra seu poder em lançar uma dúvida, sem hora para deixá-la para trás.

 

Poster A Bela Que Dorme.inddA Bela que Dorme (Bella addormentata)

Ano: 2013

Diretor: Marco Bellocchio.

Roterista: Marco Bellocchio, Veronica Raimo, Stefano Rulli.

Elenco principal: Toni Servillo, Isabelle Huppert, Alba Rohrwacher, Michele Riondino.

Gênero: Drama.

Nacionalidade:  Itália/França

 

 

 

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