Por Luciana Ramos

Lucas (Mads Mikkelsen) leva uma vida simples. Alterna seus dias entre o trabalho no jardim de infância, os encontros com os amigos, negociações com e passeios com sua cadela. Sua única angústia é não ter o filho por perto. Porém, ele vê a sua vida revirada quando é acusado injustamente de pedofilia pela filha do seu melhor amigo.

Klara (Annika Wedderkopp) frequenta a escola em que Lucas trabalha e sente grande afeição pela atenção que ele lhe dá. Um dia, em meio a mágoa da rejeição que sente por ter sido repreendida por ele, utiliza as imagens das revistas pornográficas que seu irmão lhe mostrou como base para construção de uma narrativa ficcional e sugere que foi vítima de abuso. A diretora obviamente toma as acusações com seriedade mas acaba por condenar precipitadamente uma pessoa inocente.

O filme retrata um movimento social muito comum em crimes hediondos: a união das pessoas pelo sentimento de repúdio ao suspeito que o leva a ser condenado socialmente antes mesmo de ser propriamente julgado.  Em outras palavras, as pessoas se juntam para rechaçar aquele considerado imoral demais para o convívio social. E é isso que acontece com Lucas: ele é gradualmente isolado e a sua vida é basicamente destruída por uma mentira.

É essa a grande questão da trama, abordada de maneira magistral em um roteiro muito bem construído. Thomas Vinterberg, um dos fundadores do Dogma 95 e criador do excelente Festa de Família acerta na dualidade: em uma cena, temos conhecimento dos argumentos que sustentam as acusações; na próxima, que estes são inverossímeis e na outra, acompanhamos a violência sofrida por Lucas. Porém, por mais que tenhamos pena do protagonista, é possível compreender o ódio das pessoas dado o caráter repugnante da suspeita. São todos seres humanos reagindo com tais. Da mesma forma, é impossível condenar Klara pela sua falta de compreensão da realidade; ela é tão influenciável que em determinado momento nem sabe mais separar a verdade da ficção construída por si mesma.

A força do filme deve-se igualmente às atuações de todos, sem exceções. Destaca-se, no entanto, a maneira como Mads Mikkelsen constrói um personagem que tenta manter a cordialidade mas ainda assim consegue transparecer em seu rosto a angústia do horror a que foi submetido. Cabe dizer que ele foi premiado na edição de 2012 de Cannes por este papel.

A Caça foi, ao meu ver, um dos melhores filmes lançados em 2013 pela forma concisa e impactante com que aborda um tema tão delicado. Além disso, é relevante por expor os perigos do julgamento coletivo apressado, já que isso pode acarretar na destruição absoluta e irremediável da vida de uma pessoa.

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A Caça (Jagten)

Ano: 2012

Diretor: Thomas Vinterberg

Roteiro: Thomas Vinterberg, Tobias Lindholm

Elenco Principal: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Annika Wedderkopp

Gênero: Drama

Nacionalidade: Dinamarca

 

 

 

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