Por Sttela Vasco

 

É um tanto desanimador perceber que alguns brasileiros ainda menosprezam o cinema aqui produzido. O pensamento de que nossas obras são inferiores às do cinema internacional faz com que, muitas vezes, o público perca a chance de entrar em contato com verdadeiras obras de arte cinematográficas como A Coleção Invisível, de Bernad Attal. O drama, que nos leva a uma viagem pelo interior da Bahia, analisa os diferentes valores que atribuímos a tudo ao longo de nossa existência. Delicado e emocionante, A Coleção Invisível traz como pano de fundo um interessante questionamento sobre o que realmente é importante na vida, além de retratar que alguns sacrifícios são necessários para compreendermos tais valores.

Baseado no conto homônimo do austríaco Stefan Zweig, o longa narra a história da Beto (Vladmir Britcha), um técnico de som que, após ter sua vida abalada por uma tragédia, é levado a cuidar dos negócios de seu falecido pai, um antiquário. Interessado em uma valiosa coleção de gravuras que poderá lhe render uma fortuna, Beto parte rumo ao sul do interior baiano em busca do último homem a quem seu pai as vendeu, Samir (Walmor Chagas). Lá, no entanto, ele enfrenta a resistência da esposa de Samir, Clara (Clarice Abujamra), e sua filha, Saada (Ludmila Rosa), o que o faz se reencontrar com suas próprias origens e descobrir que o valor de uma obra pode estar muito além do dinheiro.

O último trabalho feito por Walmor Chagas, que faleceu em janeiro desse ano, é digno do ator. O personagem, que parece feito para Walmor, desperta grande afeição durante as poucas cenas em que aparece. Ele, inclusive, é um dos grandes responsáveis pelo toque emotivo que o filme leva. Protagonizando o longa ao seu lado está Vladmir Britcha. Muito conhecido por personagens cômicos, Vladimir prova que também pode atuar em produções dramáticas. Em seu primeiro protagonista dramático, ele convence o espectador logo no começo do filme e faz com que vivenciemos as situações seguintes de maneira muito mais próxima. A dupla ainda é adornada com as ótimas atuações de Clarice Abjumara – premiada pelo júri popular como melhor atriz coadjuvante no Festival de Gramado – e Ludmila Rosa.

Durante boa parte do filme, o espectador se perguntará o porquê desse título – talvez o ache, inclusive, mal escolhido – no entanto, a explicação surge na tela durante aquela que pode ser considerada a melhor sequência do longa. É um momento tão sutil e delicado que quase podemos enxergar o título reaparecendo como nos créditos iniciais. A Coleção Invisível, aliás, tem essa peculiaridade, cativa o espectador quando ele menos espera. Com uma bela fotografia – os cenários de fazendas abandonadas e mata que cerca o ambiente são um verdadeiro agrado aos olhos – e uma trilha bastante rica, não é preciso muito para se encantar por essa história.

As relações humanas – principalmente as familiares – também são bastante retratadas no filme. A maneira com que Beto lida com sua mãe e como a família de Samir lida com suas dificuldades traz um questionamento de como podemos nos sacrificar de diversas formas em prol de alguém que amamos. A história é interessante, conta com uma carga emocional na medida, sem cansar ou exagerar demais nas situações, e consegue envolver o espectador ao longo de sua quase uma hora e meia de exibição.

 

A coleção invisível posterA coleção invisível

Ano: 2012

Direção: Bernard Attal.

Roteiro: Bernard Attal, Sergio Machado, Iziane Mascarenhas.

Elenco principal: Vladmir Britcha, Walmor Chagas, Ludmila Rosa.

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

 

 

 

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