Por Sttela Vasco
Guillermo del Toro (O Labirinto do Fauno) é conhecido por se enveredar para filmes fantásticos e um tanto sombrios. Logo, não foi surpresa quando anunciou seu novo projeto, A Colina Escarlate (Crimson Peak). Revivendo o romance gótico, gênero um pouco abandonado pelo cinema atual que mistura drama, terror e, claro, romance, Del Toro nos dá mais um vislumbre de sua grande imaginação, mas não alcança todo seu potencial e decepciona aqueles que esperavam de A Colina mais um memorável feito do diretor mexicano.
Após se apaixonar pelo misterioso Sir Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), a jovem escritora Edith Cushing (Mia Wasikowska) se muda para uma sombria mansão no alto de uma colina. Lá, ela precisa lidar com sua peculiar cunhada, Lucille (Jessica Chastain), e com presenças sobrenaturais. Marcada por uma história macabra e mergulhada em uma mina de argila vermelha, a mansão e seus habitantes testarão a coragem e a sanidade de Edith.
A expectativa, acredito, é nossa pior inimiga. Não achava que Colina viesse a ser superior a Labirinto. Chega, inclusive, a ser injusto compará-los, uma vez que se trata de propostas e gêneros diferentes, porém, esperava aquele algo a mais que Del Toro consegue imprimir em seus longas. Esteticamente, A Colina Escarlate beira à perfeição. Mais uma vez, Del Toro opta por construir sua história de maneira artesanal. Desde os cenários até os fantasmas (atores reais, que ganharam apenas um tratamento pós-produção, sem CGI) foram feitos de maneira a imprimir o maior realismo possível para as cenas. A forte presença da argila vermelha, que dá nome à colina, ajuda a construir a sensação constante de suspense e é reforçada continuamente ao longo da trama. Tudo feito com visível cuidado para reproduzir fielmente as ideias de Guillermo na tela grande.
A mansão, projetada milimetricamente para cumprir com precisão a cada demanda de seu imaginativo criador, é um componente a parte. Ela, aliás, não se trata de um cenário, mas de um personagem. O melhor de todos, talvez. A casa guarda segredos, respira e “sangra”. Sofre junto aos seus moradores e, assim como os mesmos, está sendo engolida por suas fraquezas e pelo tempo. O cuidado com os detalhes está presente e impressiona. Não se pode dizer que A Colina não é um filme bonito. Nesse quesito, Del Toro deu seu melhor. No entanto, a obra parece se resumir a sua beleza e a sensação que fica é que o roteiro se perdeu em meio aos vários caminhos que poderia tomar.
A primeira parte é, de fato, encantadora. O espectador consegue se sentir de volta ao século XIX – mais especificamente à cidade americana de Buffalo, em Nova York – e a história vai se desenvolvendo de maneira semelhante a um conto. Conhecemos Edith, uma jovem inteligente e a frente de seu tempo, ingênua, curiosa e talentosa. Perseguida por fantasmas desde a infância e recém-abalada por um trágico acontecimento, ela vê na sua ida para a mansão, na Inglaterra, uma forma de fuga e também um chance de construir uma nova vida. Porém, é justamente lá que ela precisará confrontar seus medos.
Mia Wasikowska e Tom Hiddleston funcionam bem juntos. Ele se encaixa no papel de mocinho duvidoso, sombrio e com toques de sensibilidade, mas não chega a ser espetacular. Mia, apesar da apatia, combina com a personagem e gera interesse, apesar de não despertar muita simpatia. Falta à atriz mais presença e mais firmeza. Quem brilha mesmo é Jessica Chastain. Sua personagem é a mais interessante do trio e é ela quem nos presenteia com as mais variadas nuances de uma mulher desesperada por afeto e atormentada por um passado ruim. Lucille é complexa e intrigante e é, definitivamente, quem faz a trama funcionar. Em meio a dois protagonistas mornos e um herói apagado, ela se destaca, apesar de suas ações duvidosas.
É preciso ressaltar que A Colina Escarlate não tem como mote ser um filme de terror. Ele gera tensão, mas ganha muito mais nos momentos de aflição – característica marcante de Del Toro – do que nos de medo. Logo, não espere sustos. Os fantasmas compõem a história, mas não são a razão de sua existência. O problema é que, a partir da segunda metade do filme, eles parecem ser esquecidos pelo roteiro. Ganham importância ao longo da trama, crescem e, então, perdem força. Aliás, o filme parece se perder justamente quando chega à mansão e começa a vomitar clichês em seu clímax, encerrando a história com lições de moral e reflexões um tanto óbvias, deixando pouco para o próprio espectador. Quase como se Del Toro quisesse pegar na mão de seu público e dizer ‘‘veja, é isso que eu quero contar, é isso que eu quero dizer, não imagine coisas”.
É frustrante, pois é perceptível que a história tinha muito a mais a explorar e oferecer. O verdadeiro terror está entre os vivos e ele é abordado com tanta rapidez que fica superficial. A força de Edith e suas ambições, os traumas dos irmãos Sharpe e sua infância doentia, tudo parece ser deixado de lado na ânsia de resolver de uma vez o grande mistério e encerrar a história. O desenvolvimento de A Colina Escarlate é tal qual uma montanha russa: começa lentamente, atinge o topo e, então, acelera convulsivamente até o final sem permitir que o trajeto seja apreciado.
Com seu novo filme, Guillermo del Toro reforça que tem uma boa mão para a fantasia e prova mais uma vez sua grande capacidade de imaginar e contar histórias, porém, falha na concepção e deixa a sensação de “poderia ter sido mais”. Uma pena, tendo em vista o potencial da obra e de seu criador.
A Colina Escarlate (Crimson Peak)
Ano: 2015
Diretor: Guillermo del Toro
Roteiro: Matthew Robbins
Elenco Principal: Mia Wasikowska, Tom Hiddleston, Jessica Chastain
Gênero: Drama, Romance, Terror
Nacionalidade: EUA
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