Por Domitila Gonzalez
Pensar em começar um texto falando sobre A Dama de Ferro é pensar em escolhas. Todo tipo de escolhas. A da produção britânica em contratar uma atriz norte-americana para o papel principal; a da roteirista Abi Morgan em deixar bem claro que a função de mãe designada por Thatcher se deslocou para a pátria, em detrimento aos seus descendentes; as da própria Margaret, que mergulhou na política e levantou opiniões controversas sobre seu pensamento forte e modo de gerir uma nação.
Sempre que ouço falar de um lançamento britânico, minha reação é a de ansiedade por vê-lo no cinema. Quando o tema é histórico, esta expectativa dobra e se une à curiosidade. Foi assim com A Rainha (Stephen Frears, 2006), A Outra (Justin Chadwick, 2008), A Jovem Rainha Victoria (Jean-Marc Vallée, 2009), O Discurso do Rei (Tom Hooper, 2010) e não poderia ser diferente com A Dama de Ferro. Dispensei todos os baldes de pipoca para me concentrar no que eu pensava ser o maior destaque de 2012 do meu país do coração e o que vi foi o camaleão Meryl Streep literalmente salvando o dia.
Isso não quer dizer que o filme seja bom. O que também não quer dizer que seja ruim. Apenas significa que Phyllida Lloyd e Abi Morgan nos permitiram conhecer mais um personagem inesquecível, dentro do leque de possibilidades de uma das maiores atrizes de nossos tempos. Se levarmos em conta as únicas indicações ao Oscar, então, fica evidente que o longa não tem nada que chame a atenção, além da protagonista e da maquiagem exagerada com a qual resolveram besuntar a nossa querida melhor atriz.
Aliás, mais uma vez Streep prova que merece todos os louros e indicações ao Globo de Ouro, ao Oscar e ao raio que o parta. Se pegarmos Miranda Priestly (O Diabo veste Prada, 2006), Donna (Mamma Mia!, 2008), Julia Child (Julie & Julia, 2009) e Thatcher, 4 das suas mais recentes e famosas personagens, vemos aí pessoas, pesquisas e processos completamente diferentes uns dos outros. Isso só prova o talento e a competência de Meryl, que passa de musicais a dramas adolescentes com o prazer de quem troca de máscara sem preconceitos.
Comparando com todas as outras produções britânicas citadas no começo desse texto, A Dama de Ferro deixa a desejar. Ok, levemos em conta que a família de Thatcher se negou a dar informações para a produção do filme e que a equipe teve que se contentar somente com os fatos que saíram na mídia. Ainda assim, questiono as escolhas feitas para o enredo deste drama.
Quer dizer, com um prato cheio nas mãos e um assunto que renderia pelo menos duas horas de filme, se focado e desenvolvido de maneira diferente, talvez não precisaríamos dizer “ufa”, Meryl Streep está no elenco. O que aconteceu foi uma salada de temas. Por um lado, vemos a vida pessoal de Thatcher, dividida entre passado e presente, entre flashbacks e devaneios senis, compartilhados com a figura de seu falecido marido Denis Thatcher (Jim Broadbent). Por outro, a conturbada vida política longe da família, em flashes muito rápidos.
Dessa maneira, o ritmo faz com que tudo fique confuso e não conseguimos definir um ponto de interesse no filme. Não sabemos no que é mais importante prestar atenção: se é no estado de demência em que a primeira-ministra se encontra, se é o fato de seus filhos terem crescido sem a presença da mãe, ou se é (pelo ponto de vista imposto pela cineasta) o fracasso de seu governo e a destruição da economia britânica.
Duas surpresas boas foram os atores que interpretaram o jovem casal Thatcher. Alexandra Roach, que apesar de também estar besuntada de maquiagem e com uma prótese dentária terrível, conseguiu me convencer; e Harry Lloyd e seu encantador par de olhos, numa pele completamente diferente daquela queimada de Viserys Targaryen, o irmão oxigenado mimadinho de Game of Thrones. Jim Broadbent também veio como conforto, compartilhando cenas com Meryl e nos fazendo lembrar sempre de Harold Zidler (Moulin Rouge – Amor em Vermelho, 2001) e de Professor Slughorn, da franquia Harry Potter.
O ingresso vale única e exclusivamente pela presença de Meryl, que desde sua primeira aparição reclamando do preço do leite no mercado, deixa claro que veremos mais uma vez um personagem inesquecível. Ao final do filme, porém, suspiramos… O roteiro poderia ter sido bem melhor.
A Dama de Ferro (The Iron Lady)
Ano: 2011
Diretor: Phyllida Lloyd
Roteiro: Abi Morgan.
Elenco Principal: Meryl Streep, Jim Broadbent, Olivia Colman, Alexandra Roach.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: Reino Unido.
Veja o trailer:
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