Por Luciana Ramos
Haewon (Jeong Eun-Chae), uma jovem estudante que aspira a carreira de atriz, está desolada. Sua mãe (Kim Ja-Ok), que não encontra há cinco anos, irá se mudar para o Canadá. O desespero da solidão a faz então contatar o professor Sung-Joon (Lee Sun-Kyun), um homem casado com quem teve um relacionamento. A partir daí, tomamos conhecimento das angústias e frustrações dos personagens que devem decidir se ficam juntos ou não.
Pela sinopse, este bem que poderia ser um filme pesado ou um dramalhão sem fim feito no molde que Hollywood conhece tão bem. É o contrário. Os diálogos bem construídos e o desenrolar gradual das tensões concedem ao filme uma leveza que o torna uma experiência bastante agradável.
O diferencial está, portanto, na sutileza da abordagem do tema. O diretor expõe de maneira inteligente as vivências e traços de personalidade que motivam Haewon e Sung a buscarem no amor do passado o sentimento de pertencimento que tanto sentem falta. São estes pequenos indícios coletados e justapostos que revelarão uma extensa gama de dilemas existenciais. Esta proposta apazigua a passividade do espectador, pondo-o como testemunha da vida dessas pessoas.
É igualmente interessante ver como Sang-soo costura os traços culturais do seu país na teia narrativa. A Seul mostrada por ele é repleta de cordialidade. Todos são sorridentes e aparentemente felizes, mas as interações entre estes personagens os forçam a exporem os conflitos soterrados em gestos contidos e habitual polidez. O fato de isto ocorrer quando estes desenvolvem atividades aparentemente mundanas, como andar num templo ou beber com os amigos, acentua o contraste da harmonia percebida de início com a realidade velada.
A escolha estética contribui com igual intensidade ao entendimento da trama. O filme conta com poucas e longas cenas, em que acompanhamos a jornada dessas pessoas que se esbarram e acabam por revelar acidentalmente algo de si. Sang-soo substitui o comum uso de cortes excessivos por uma câmera que captura toda a ação de maneira contínua. O zoom, tal como a trilha sonora, é utilizado como artifício para pontuar os momentos dramáticos e guiar o entendimento do espectador. Em uma das melhores cenas, Haewon e Sung sentam-se em uma escada e ouvem música clássica em silêncio, como se esta fosse capaz de exprimir o que eles não conseguem através de palavras.
A Filha de Ninguém não possui um grande conflito nem tampouco propõe-se a oferecer soluções para os dilemas da sua protagonista. É um filme intimista e muito agradável sobre um relacionamento que se prolonga pelo medo da solidão.
A Filha de Ninguém (Nugu-ui ttal-do anin Haewon)
Ano: 2013
Diretor: Hong San-soo
Roteiro: Nugu-ui ttal-do anin Haewon
Elenco Principal: Eun-chae Jeoung, Lee Seon-gyun, Yoo Joon-sang, Ye Ji-won.
Gênero: drama.
Nacionalidade: Coréia do Sul
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