Por Joyce Pais
Se o cinema é capaz de inspirar a vida real e o que vemos na tela nos parece grandioso, pois acreditamos ter uma vida banal perto das vidas encenadas frente aos nossos olhos, vemos em A Guerra Está Declarada a trajetória de quem fez o processo inverso – se ancorou em experiências pessoais para contar uma história inspiradora.
Depois de se conhecerem numa festa e se apaixonarem à primeira vista, Romeo e Juliette engatam um namoro e não demora muito para irem morar juntos e ter um filho. Com dificuldades típicas de pais de primeira viagem, aos poucos vão lidando com os obstáculos que surgem e com a nova rotina do casal, transformada pela chega do filho. A rapidez com que as coisas aconteceram entre os dois (veja: os avós se conheceram quando Adam já tinha cerca de 2 anos) torna o processo complicado; a racionalidade do pai e a emotividade da mãe ao mesmo tempo que se conflitam, se complementam.
Responsável também pela direção e roteiro, Valérie Donzelli (Juliette), junto com seu ex-marido Jérèmie Elkaïm (Romeo), contam sua trajetória na busca pela cura do tumor de Adam, descoberto nos seus primeiros anos de vida. Apesar da enorme responsabilidade que carregam Romeo e Juliette às vezes parecem dois adolescentes em perfeita sintonia (até alguns de seus gestos são sincronizados) e vivacidade entre os dois certamente é um dos pontos fortes de identificação com quem assiste.
A sinceridade transmitida pelos protagonistas a cada entrada e saída de hospital, a cada consulta médica, crise familiar ou sensação momentânea de descrença é construída de modo que se retirada a narração em off, nada se perderia na partilha do drama vivido pelo casal com o espectador. Se Romeo e Juliette estavam fadados a um final trágico como o de Shakespeare, a força com que se agarraram à vida os desviaram deste caminho.
A Guerra está declarada, o rádio anuncia bombas no Iraque. A analogia com uma guerra sem objetivo ou vitória aparente quando equiparada a batalha pessoal de Romeo e Juliette dá a dimensão dos sentimentos que perpassam a relação dos dois, por mais que a família e amigos estejam por perto, que ajudem, somente quem vive a situação na pele pode enfrentá-la. A luta é, acima de tudo, interna. É de noite antes de dormir que, sozinhos, desabafam sobre seus medos e inseguranças.
Valérie Donzelli não tem medo de arriscar, de fazer piada da própria desgraça. Seja quando celebra a diversidade colocando homossexualidade, ateísmo e posicionamentos políticos esquerdistas na mesma família ou quando ao som de ópera mostra a `encenada´ reação teatral dos familiares ao receber a notícia da doença.
O uso de imagens desfocadas, tremidas, incertas (assim como o destino de Adam), closes no rosto, na boca, intercalada com imagens de exames de sangue não nos deixam esquecer nem um segundo o porquê de todos estarem ali, o porquê vale a pena lutar todos os dias pela vida de quem amamos.
A guerra está declarada (La guerre est déclarée)
Ano: 2011
Diretor: Valérie Donzelli
Roteiro: Valérie Donzelli, Jérémie Elkaïm.
Elenco Principal: Valérie Donzelli, Jérémie Elkaïm, César Desseix.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: França
Veja o trailer:
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