Por Lucas Torigoe

Um filme encantado consigo mesmo

O circuito do cinema brasileiro brindou a chegada de uma nova grande produção, assinada pelo elogiado diretor de O Palhaço (2011): Selton Mello. Porém, mesmo com a presença de atores como Bruna Linzmeyer, Vincent Cassel e Rolando Boldrin, além da fotografia de Walter Carvalho, O filme da minha vida, não faz jus a todas as expectativas.

A primeira coisa que o espectador deve notar é a beleza e o esmero técnico da fotografia de Walter Carvalho. O equilíbrio das cores em ocre e bege cumpre a função de nos levar à representação de um lugar pacato, interiorano e antigo, dos anos 60/70: Remanso-RS. Além disso, a iluminação provoca um efeito que, ora ajuda na construção da profundidade dos personagens – por refletir seu estado sentimental – ora se coloca mais “neutra” a fim de focalizarmos nas situações engraçadas do filme, constantes à salpicadas. Junto a tudo isso está os efeitos de câmera, a amplitude dos quadros, que ora nos levam à Nouvelle Vague, ora ao cinema dramático atual – como Álbum de Família (John Wells, 2013), ou o próprio O Palhaço – levando ao espectador uma experiência estética sublime e agradável. Neste ponto, O Filme da minha vida não deve nada aos filmes hollywoodianos.

No entanto, o que esta obra deixa a desejar em relação à toda boa narrativa é a coesão interna e a profundidade com que retrata o drama humano. Quanto a primeira questão, talvez ela se deva pelo fato do filme ser inspirado no curto romance “Um pai de cinema” (2010), do chileno Antonio Skármeta. O filme não é exatamente fiel à trama do livro – o que não é um problema em si – , mas retira dele profundos personagens e acontecidos, só que sem traduzir tais qualidades na tela. Ou, pelo contrário, adiciona situações novas e não consegue inseri-las de forma coesa no todo, o que é flagrante se analisarmos a trajetória de Petra (Bia Arantes), ou a inserção de Giuseppe (Rolando Boldrin) na história.

Essa falta de fechamento e coesão narrativa se alia a uma inconstância notável no tom do filme, que por momentos se mostra dramático ou engraçado; por vezes também é uma homenagem ao próprio cinema, enfim, alternando-se de maneira consideravelmente abrupta. A maior constância do filme se dá nos elementos técnicos que, aos poucos para o espectador, vai se tornando dissonante à trama, no andar da carruagem.

Isso acontece pois a sensação que o espectador pode sentir ao fim de O filme da minha vida é que ele é, de fato, um filme “bem-feito”, mas com uma história fraca ou, ao menos, mal resolvida. Assim, a beleza da fotografia e os apuros técnicos da mise-en-scène pensados pelo diretor e sua equipe, perdem sua força – tornam-se uma junção de adereços, formas, cores, canções, ângulos e enquadramentos que não são capazes de dar sustentação ao calcanhar de Aquiles do filme: as pretensões não resolvidas do roteiro.

O filme da minha vida

Ano: 2017

Direção: Selton Mello

Roteiro: Selton Mello

Elenco: Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer, Vincent Cassel, Selton Mello, Bia Arantes, Ondina Clais Castilho

Gênero: Drama

Nacionalidade: Brasil

Veja o trailer: