Por Domitila Gonzalez

Pesquisando as origens da figura do clown, descobri que seu nascimento é mais antigo do que data o nascimento do circo. E se pararmos pra pensar, raramente a figura de nariz vermelho é dissociada do picadeiro, embora possa existir sem ele.

O universo do palhaço nos oferece um banquete de simbolismos a serem explorados ou não. Pergunte ao seu pai sobre Chaplin e ao seu priminho sobre Patati e Patatá. Sem ir muito longe nos devaneios, ainda podemos pensar em Mazzaroppi, Pirandello e Pierrot. E por que não citar Fernando Anitelli ou aquela cara demoníaca da franquia Jogos Mortais (Paris Filmes)? Justamente por ser uma figura que nos oferece um leque de possibilidades, acredito que seja um tema, apesar de delicioso, muito difícil de trabalhar e condensar em 90 minutos de filme. Afinal, ser palhaço é coisa séria. E Selton Mello, apesar de emocionar, não conseguiu me encantar por completo.

Em seu segundo longa-metragem como diretor, Mello nos apresenta as duas principais facetas do palhaço, a cômica e a trágica, não somente se utilizando de Benjamin (Selton Mello) e Valdemar (Paulo José), pai e filho que comandam o Circo Esperança sob a forma dos clowns Pangaré e Puro-Sangue, mas também de artifícios do próprio roteiro, que conta a história de um palhaço que sai em busca de uma identidade e de alguém que o faça rir.

O Palhaço também conta com elementos que fazem parte da vida pessoal de seu diretor, como a escolha do estado de Minas Gerais para o plano de fundo da história e o principal elemento do filme: a crise existencial de Benjamin. Selton também cita como referência mor o humorista Renato Aragão e seu personagem Didi Mocó; mas se procurarmos, encontraremos muito mais, afinal é impossível deixar a sua personalidade completamente de lado para desenvolver um projeto, seja ele qual for.

Acredito que todo artista deve ser uma espécie de esponja. E acredito na capacidade de absorção de Selton Mello. Gostei muito das cores, dos planos e a trilha me lembrou a de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). A sequência final pelos olhos da pequena brilhante Larissa Manoela nos emociona verdadeiramente, vemos traços de Chicó (O Auto da Compadecida, 2000) em Pangaré e a mesma sinceridade nos olhos de quem interpreta João Guilherme Estrella (Meu nome não é Johnny, 2008). Mas ao mesmo tempo vemos incontáveis erros de continuidade e sentimos um vazio enorme no que diz respeito à abordagem da figura que leva seu nome ao título do filme.

De fato, o que chama a atenção em O Palhaço não é o humor, mas a carga dramática contida nele. Mesmo com todas as outras figuras que compõem o Circo Esperança, somos constantemente apresentados a um mundo frio, diferente das cores quentes do picadeiro. Vemos também o talentosíssimo elenco se desdobrando em personagens caricatos e cativantes. E vemos sim a magia de Selton por trás das câmeras, mas justamente por se tratar dele, esperamos muito mais e sentimos falta de algo. No fim das contas, O Palhaço é um bom filme, mas não é primoroso. Falta experiência, talvez? Só o tempo dirá. O que digo, hoje: o prazer em acompanhar seu desenvolvimento como diretor será todo nosso.

 

Cinemascope---O-Palhaço-PosterO Palhaço

Ano: 2011.

Diretor: Selton Mello.

Roteiro: Selton Mello, Marcelo Vindicato. 

Elenco Principal: Selton Mello, Paulo José.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Brasil.

 

 

 

Veja o trailer:

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