Por Sttela Vasco

A luta de um grupo em uma pequena cidade irlandesa para manter um velho salão e a história real de um homem que defendia a liberdade de expressão. Esse é o pano de fundo para Jimmy’s Hall, novo filme de Ken Loach (A Parte dos Anjos). Apresentado no Festival de Cannes 2015 e nomeado para a Palma de Ouro, o longa faz críticas ao conservadorismo e à igreja, resultando em uma obra bela, mas sem força e que não deve entrar para as mais memoráveis de sua filmografia.

O ano é 1932 e Jimmy Gralton (Barry Ward), comunista, está de volta à Leitrim, Irlanda, sua cidade natal após um autoexílio de dez anos em Nova York. Sem querer se envolver com os problemas do passado, Jimmy se compromete a viver de maneira pacata, mas tudo muda quando velhos amigos e alguns jovens da cidade passam a pedir que ele reabra um antigo salão que costumava receber aulas gratuitas e ser ponto de encontro para bailes o que desperta a oposição do padre Sheridan, pároco local e contrário aos ideais de Gralton.

Jimmy´s Hall tem como ponto muito positivo sua bela fotografia, que acaba por dar força ao lado mais emotivo e romântico do filme. No entanto, é justamente tal curso que o faz se perder. Preocupado em incutir a emoção em toda a obra, Loach acaba por criar momentos com diálogos fracos e que poderiam facilmente ser retiradas do filme sem causar prejuízos à história.

O mais curioso, no entanto, é que seus personagens não transmitem a paixão que o diretor parece tentar imprimir em boa parte das cenas. Barry chega a ser apático em alguns momentos e boa parte do elenco segue o mesmo curso. O romance de Jimmy e Oonagh (Simone Kirby) tenta um tom épico, mas é quase enfadonho. Falta entrega por parte de ambos e, principalmente, emoção. O destaque fica por conta de Jim Norton e seu padre Sheridan, que, apesar de se opor ferrenhamente a Gralton, demonstra certo desejo de ser justamente como o rival e poder apreciar os prazeres que prega como pecaminosos.

Jimmy’s Hall é interessante por ser uma história facilmente transportável para a atualidade. Se em 1932 as vontades das classes mais altas e conservadoras e da igreja eram expostas de maneira explícita, atualmente temos uma tentativa de controle velada. Ninguém fecharia o salão de Jimmy hoje, mas o condenariam com o mesmo afinco que o padre Sheridan o fez. A diversão, a liberdade e as ideias contrárias ao tradicional geravam incômodo na Irlanda dos anos 30 e continua a gerar ainda hoje.

Não há como negar que o longa é bastante político. Apesar do recorte feito para contar a história de seu personagem principal, é possível perceber que a intenção de Loach é questionar conceitos e valores que, apesar de ultrapassados, se mantém firmes na sociedade. Dez anos haviam se passado desde a partida de Jimmy, mas em apenas alguns minutos é possível perceber que nada mudou de fato.

Em um de seus momentos mais interessantes, logo após o salão sofrer um brutal ataque, um de seus personagens – um padre também contrário ao local – diz uma das falas mais lúcidas da trama: “Se Jesus estivesse aqui, alguns desta paróquia o crucificariam novamente”, não é difícil de imaginar o mesmo em nossa atual sociedade.

Jimmy’s Hall termina com uma incômoda sensação de que faltou algo. A música, que aparentava ser um de seus centros, não é tão bem trabalhada quanto se espera e acaba por ser posta de lado em muitos momentos. Fica a conclusão de que o longa é belo visualmente e tem uma boa história, mas não possui o necessário para torná-lo memorável. O que é uma pena.

jimmys hall posterJimmy´s Hall

Ano: 2014

Diretor: Ken Loach

Roteiro: Paul Laverty

Elenco Principal:  Barry Ward, Simone Kirby, Jim Norton.

Gênero: Drama/Histórico

Nacionalidade: Irlanda, França, Reino Unido

Veja o trailer:

 

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