Para início de conversa, A Música da Minha Vida é emocionante. Ele tem alguns problemas de roteiro, personagens que precisavam de um acabamento melhor, mas durante o filme e principalmente após ele, percebi que estes detalhes são irrelevantes em compensação ao serviço que ele presta a nós, amantes da música.
O longa conta a história de Javed (Viveik Kalra), um rapaz filho de indianos que vive na Inglaterra e com um pai muito rígido. O jovem é sonhador e gostaria de “viver da sua arte”, mais especificamente de seus escritos, mas seu pai quer que ele siga uma profissão mais tradicional como advogado ou algo do tipo. Tudo unido, é claro, aos típicos problemas juvenis como a busca por uma namorada, festas com os populares (que seu pai não deixa frequentar) e grandes dúvidas sobre o próprio futuro. Tudo isso tendo como pano de fundo um país passando por uma grande crise econômica que acaba levando o emprego do seu pai, obrigando Javed e todos que vivem com ele a fazerem diversas concessões.
Em meio a todo esse caos, Javed é apresentado ao som do cantor Bruce Springsteen e sua vida ganha um novo sentido. As letras do americano o incentivam a correr atrás dos seus sonhos e enfrentar os desafios que surgem em sua vida. Foi aí que o filme me pegou. Depois do cinema, minha grande paixão é a música. Tanto que aqui no site, alimento uma coluna chamada Trilhando em que falo, junto com meu amigo Jenilson, sobre as tangências entre cinema e música. Além disso, costumo frequentar sebos em busca de discos de vinil para alimentar minha coleção que vai de Roberto Carlos a Black Sabbat. Em A Música da Minha Vida, a diretora Gurinder Chadha consegue traduzir em imagens o que é a sensação de descobrir uma banda nova, de encontrar um artista que parece ter escrito aquela música especialmente para nós.
Um dos recursos que ela utiliza é fazer com que as letras das músicas apareçam na tela, complementando o que está acontecendo em cena. Ela utiliza tanto técnicas de computação, como projeções. A minha cena favorita é a que Javed ouve Bruce pela primeira vez. Depois de uma confusão em família, ele sai de casa em meio a uma ventania, com seus fones de ouvido e uma fita do Springsteen. Enquanto ele caminha, a música que ele escuta lhe diz exatamente o que ele precisava ouvir e a letra é exibida em prédios e muros em grandes projeções em meio a uma corrente de folhas de árvore sendo levadas pelo vento e trovoadas prenunciando uma chuva. Ela traduziu em imagens a sensação de ouvir pela primeira vez aquela que será nossa banda favorita da vida.
É genial por que, a princípio, parecia ser um filme para fãs de Bruce Springsteen, mas acabou sendo um filme para fãs de música. A história é conduzida de tal forma que é possível trocar Springsteen facilmente por Beatles, Roberto Carlos, Baco Exu do Blues ou, no meu caso, Radiohead. O que torna o filme mais universal, não o atrelando especificamente ao artista que o personagem ouve. Inclusive, na versão que se passava na minha cabeça, não era um garoto indiano descobrindo o cantor, mas eu no interior de Minas Gerais descobrindo Radiohead que me ajudou diversas vezes na vida. Acredito que muita gente que passou ou está passando por isso nesse momento, ao encontrar pela primeira vez aquele artista ou banda que levará para sempre num lugar especial em seu peito, vai entender exatamente o que eu quero dizer com isso. Ah, e a propósito, o filme é baseado em fatos reais.