Por Domitila Gonzalez
Em se tratando de Almodóvar, podemos esperar 3 coisas: sexo, cores e grandes cenas.
O estilo choca quem não está acostumado com tantas informações e detalhes ao mesmo tempo. Gosto de assisti-lo porque sei que cada escolha tem um motivo, desde o elenco até o quadro na parede.
A Pele que Habito nos conta a história de Robert Ledgard (Antonio Banderas), um cirurgião plástico que, atormentado pelo suicídio de sua mulher após ver no espelho sua imagem queimada por conta de um acidente automotivo, começa a pesquisar e desenvolver em seu laboratório caseiro um novo tipo de pele.
Uma vez que consegue, precisa de uma cobaia humana para testá-la, que surge por desejo de vingança, após uma tentativa de estupro em sua filha Norma (Blanca Suárez) por Vicente (Jan Cornet).
A linha de raciocínio desenvolvida em A Pele que Habito nos coloca diante de Canetti, Kafka, Buñuel, Hitchcock e outros tantos citados pelo diretor no site oficial da película, mas acima de tudo nos convida a um passeio pela mente incrível de Almodóvar, que apesar de todas as referências utilizadas, conseguiu criar uma atmosfera tensa que tem totalmente a sua cara.
Utilizando do recurso da não temporalidade, nos são apresentados flashbacks que vão contando a história aos poucos, fazendo com que prestemos atenção principalmente na presença de Vera e na metamorfose sofrida pela personagem.
Em alusão a Kafka, vemos que a questão da pele não está somente no título. E se lembrarmos dos filmes aflitivos de Buñuel, todo mosaico de implantes e máscaras também faz sentido. Mas o que mais me chamou a atenção não foram os montes de quadros de nus espalhados pela belíssima mansão do Cigarral, mas um Tarsila do Amaral no quarto de Vera.
Além da referência à antropófaga, temos também uma alusão ao carnaval da Bahia e a música “Pelo Amor de Amar”, cantada em Português tanto pela pequena Norma quanto pela artista na festa de casamento.
Normalmente essas referências me encantam, principalmente vindas de alguém como Almodóvar, um diretor que admiro. Mas confesso que fiquei com vergonha alheia e vontade de cavar um buraco no chão pra me esconder. Que Português era aquele, falado por Zeca (Roberto Álamo)?! Sou a favor da seguinte premissa: quer colocar um estrangeiro no seu filme, contrate um – ou um profissional fonoaudiólogo que consiga trabalhar perfeitamente o sotaque do ator nacional. Caso contrário, esqueça.
Deixando sotaques e fantasias constrangedoras de lado, as cenas em que Robert espiava Vera são especialmente bonitas, para mim. Têm aquele ar especial de enquadramento junto com fotografia que deixam tudo espetacular. Resultado de mais uma parceria de sucesso com José Luis Alcaine, que também esteve em Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), Má Educação (2004) e Volver (2006).
Outro detalhe que me chamou a atenção foi o cultivo de bonsais pelo médico. Uma interessante comparação à transformação de Vicente em Vera, visto que a poda da raiz principal de uma árvore é uma das técnicas mais importantes para o cultivo de bonsais.
Enfim, A Pele que Habito é mais um filme fantástico que o diretor espanhol nos apresenta, fazendo com que a viagem pelos caminhos complexos de sua mente seja sempre uma explosão de sensações e experiências curiosas, repleta de cores e referências.
A Pele Que Habito (La piel que habito)
Ano: 2011
Diretor: Pedro Almodóvar.
Roteiro: Pedro Almodóvar e colaboração de Augustín Almodóvar, baseado no romance “Tarântula”, de Thierry Jonquet.
Elenco Principal: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: Espanha.
Veja o trailer:
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Galeria de Fotos: