Por Domitila Gonzalez e Joyce Pais

 

Depois do sucesso A Fita Branca (2009), o diretor Michael Haneke retorna com mais um longa que coloca em cheque questões sensíveis e sutis da existência humana.De maneira crua, fiel e extremamente realista, Haneke retrata a relação do casal de professores de piano aposentados, Anne (Emmanuelle Riva; Hiroshima, Mon Amour, 1959) e Georges (Jean-Louis Trintignant; Um Homem, Uma Mulher, 1966), que é pautada pelo respeito e cumplicidade, até que ela sofre seu primeiro AVC. A partir daí eles veem suas vidas e rotinas alteradas drasticamente.Se para o diretor, a prova do verdadeiro amor se dá nos momentos mais difíceis, o casal protagonista passa por uma verdadeira odisseia. O ritmo lento e arrastado do filme só reforça o drama vivido. As limitações inerentes à velhice se potencializam quando se tem adicionado àquele contexto a degeneração gradativa imposta pela doença. Tarefas simples, compartilhadas pelo doce casal durante a vida inteira se tornam os obstáculos a serem enfrentados o tempo todo. O relacionamento se desenvolve de acordo com a evolução da doença de Anne. E o que antes era – ou se mostrava ser – um caminho de afeto, se transforma num turbilhão de sentimentos e incômodos.

O roteiro é bem amarrado, contudo se não fosse pela dupla, o filme não teria a força que tem. O impacto causado pelas brilhantes atuações de Riva e Trintignant deixa tudo mais realista e faz com que o espectador acompanhe a trajetória de Georges e se coloque no lugar dele.

Ao longo da narrativa, somos apresentados a temas como a morte e a velhice e como as pessoas lidam com isso, de perto e de longe. Em se tratando de uma doença degenerativa, tudo é multiplicado e os pontos de discussão pautados pelo filme de Haneke se estendem até mesmo para questões como a eutanásia.

A linguagem escolhida pelo cineasta é direta e quase não há músicas para conduzir o pensamento do espectador. Os planos têm cortes secos e a trilha sonora aparece somente em momentos-chave, de modo que os truques ou possíveis induções de pensamento e sensações ficam fora de cogitação.

Existe um incômodo em relação ao ritmo. O mesmo incômodo causado por Dogville (2003; Lars Von Trier): você vê a rotina, a realidade, e nada mais. Dogville ainda tem um cenário muito específico não-realista, mas Amor lida com a crueza da realidade e é por isso que incomoda.

É possível observar uma inversão dos papéis tradicionais da sociedade, principalmente em se tratando da construção histórica do papel da mulher na França. Neste caso, o homem é quem cuida de sua esposa, e não o contrário. E dessa inversão surge a dramaticidade do roteiro, que chega a seu clímax poucos minutos antes do fim do filme. O isolamento, de maneira geral, foi reforçado pelas cores frias utilizadas pelo direção de fotografia e pela escolha de rodar o filme em praticamente um só cenário, o apartamento do casal, bem como a pequena quantidade de personagens na trama.

A estrutura narrativa também conta com símbolos como a água, presente em situações de grandes mudanças: o primeiro AVC, o tombo da cadeira de rodas, a lavagem das flores para o “enterro”, o tapa e o último devaneio de Georges, antes que ele saísse de casa.

Além disso, algumas situações são espelhadas: a captura da pomba se assemelha à relação de Anne e Georges, bem como o tratamento que a enfermeira dá à sua mulher se repete pelas suas próprias mãos, um tempo depois.

Amor não chega a ser um filme pesado pela qualidade do roteiro, mas sim pela carga emocional das cenas. Vale a pena ser visto principalmente por Emmanuelle Riva (Trilogia das cores, 1993), que tem 85 anos, está indicada ao Oscar de melhor atriz e é a pessoa mais velha a ser indicada nesta categoria, desde que o prêmio foi criado. Além da Palma de Ouro ganha em Cannes, Amor ainda leva mais quatro indicações no Oscar (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme Estrangeiro).

 

Cinemascope---Amor-PosterAmor (Amour)

Ano: 2012

Diretor: Michael Haneke.

Roteiro: Michael Haneke.

Elenco Principal: Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert, Alexandre Tharaud, William Shimell.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Áustria/França/Alemanha.

 

 

 

Veja o trailer:

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